Como alguém que não tinha nenhum vínculo com o filme de 1989 estrelado por Danny DeVito, Michael Douglas e Kathleen Turner (ou com o livro no qual ele é baseado), fui ver The Roses não como uma refilmagem ou adaptação, mas como algo por si só. Talvez tenha sido uma boa ideia, considerando que as maiores críticas que tenho ouvido são em relação ao quanto a produção diverge de sua versão anterior, um clássico cult do humor negro satirizando a cultura yuppie oitentista.
Aliás, creio que esta é uma abordagem da qual a atual versão quer se distanciar, abandonando as dinâmicas de gênero e casamento mais usuais em nome de algo que soa um pouco mais progressista. Aqui, temos como coprotagonistas Theo (Benedict Cumberbatch) e Ivy Rose (Olivia Colman), um casal britânico que vai para os Estados Unidos tentando fazer seus nomes – ele, um arquiteto; ela, uma chef de cozinha.
A vida conjugal vai bem de início, porém, quando a carreira de Theo vai por água abaixo depois de um acidente em um dos seus projetos, e, de modo inverso, o restaurante de Ivy se torna um grande sucesso, o ressentimento e a competição começam a crescer. Eventualmente, os sentimentos criam uma guerra aberta pela posse da casa da família.
O filme talvez demore um pouco demais para atacar sua premissa central, perdendo-se em subtramas que nem sempre são interessantes ou engraçadas (a personagem de Kate McKinnon, por exemplo, é insuportável) e chegando ao cerne da questão apenas nos vinte ou trinta minutos finais. Não acho ruim a maneira como o balanço entre os atos foi feito, inclusive, The Roses é bastante feliz em me convencer da falência desse relacionamento. Ainda assim, a decisão de dar tão pouco tempo à escalada do conflito parece conflitar com todos os materiais de divulgação.
De qualquer modo, por mais que seja uma leitura cômica da situação, o drama central é palpável e crível, sendo completamente compreensível o motivo pelo qual o casal entra nesta espiral autodestrutiva. Mas, ao ser mais focado na dimensão subjetiva de seus personagens do que o filme de 1989, a produção perde o teor de humor negro pelo qual ficou famosa, nunca exatamente abandonando um tom de esperança e otimismo em face aos picos de morbidez. Para o bem ou para o mal, é um filme estranhamente “fofo” dadas as intenções de ser uma sátira à instituição do casamento.
No geral, é uma obra agradável muito por conta da ótima química entre Cumberbatch e Colman (ela, em particular, está muito confortável no papel, aproveitando sua extensa carreira na comédia). Ambos entregam performances bastante ricas, engraçadas e críveis, acompanhadas do senso de humor cáustico e britânico que é bastante presente em toda a história.
Além disso, parte do mérito é do bom texto de Tony McNamara. Como já fez em Poor Things, ele dá ao diálogo um ritmo bastante particular e que funciona nesse contexto, especialmente nas trocas de farpas entre os protagonistas.
The Roses é um filme que parece ser bem mais acessível e inofensivo do que a versão anterior, colocando um peso dramático no seu último ato que nunca se concretiza e está longe de parecer o divórcio brutal evocado em 1989. Ainda assim, ele faz bem o que se propõe, tem uma produção sólida, ótimas performances e um ritmo que funciona.
Certamente, este não é o filme mais engraçado da história ou a produção mais revolucionária. Mas, em uma época na qual a tragicomédia parece relegada a pouquíssimos lançamentos, ver algo como The Roses acaba sendo estranhamente refrescante. É uma lembrança de uma época em que um veículo de atores como esse era algo mais comum e os cinemas tinham mais a oferecer do que apenas blockbusters de ação e filmes de terror. Para mim, isso tem seu mérito.
Outras divagações:
Trumbo
Aliás, creio que esta é uma abordagem da qual a atual versão quer se distanciar, abandonando as dinâmicas de gênero e casamento mais usuais em nome de algo que soa um pouco mais progressista. Aqui, temos como coprotagonistas Theo (Benedict Cumberbatch) e Ivy Rose (Olivia Colman), um casal britânico que vai para os Estados Unidos tentando fazer seus nomes – ele, um arquiteto; ela, uma chef de cozinha.
A vida conjugal vai bem de início, porém, quando a carreira de Theo vai por água abaixo depois de um acidente em um dos seus projetos, e, de modo inverso, o restaurante de Ivy se torna um grande sucesso, o ressentimento e a competição começam a crescer. Eventualmente, os sentimentos criam uma guerra aberta pela posse da casa da família.
O filme talvez demore um pouco demais para atacar sua premissa central, perdendo-se em subtramas que nem sempre são interessantes ou engraçadas (a personagem de Kate McKinnon, por exemplo, é insuportável) e chegando ao cerne da questão apenas nos vinte ou trinta minutos finais. Não acho ruim a maneira como o balanço entre os atos foi feito, inclusive, The Roses é bastante feliz em me convencer da falência desse relacionamento. Ainda assim, a decisão de dar tão pouco tempo à escalada do conflito parece conflitar com todos os materiais de divulgação.
De qualquer modo, por mais que seja uma leitura cômica da situação, o drama central é palpável e crível, sendo completamente compreensível o motivo pelo qual o casal entra nesta espiral autodestrutiva. Mas, ao ser mais focado na dimensão subjetiva de seus personagens do que o filme de 1989, a produção perde o teor de humor negro pelo qual ficou famosa, nunca exatamente abandonando um tom de esperança e otimismo em face aos picos de morbidez. Para o bem ou para o mal, é um filme estranhamente “fofo” dadas as intenções de ser uma sátira à instituição do casamento.
No geral, é uma obra agradável muito por conta da ótima química entre Cumberbatch e Colman (ela, em particular, está muito confortável no papel, aproveitando sua extensa carreira na comédia). Ambos entregam performances bastante ricas, engraçadas e críveis, acompanhadas do senso de humor cáustico e britânico que é bastante presente em toda a história.
Além disso, parte do mérito é do bom texto de Tony McNamara. Como já fez em Poor Things, ele dá ao diálogo um ritmo bastante particular e que funciona nesse contexto, especialmente nas trocas de farpas entre os protagonistas.
The Roses é um filme que parece ser bem mais acessível e inofensivo do que a versão anterior, colocando um peso dramático no seu último ato que nunca se concretiza e está longe de parecer o divórcio brutal evocado em 1989. Ainda assim, ele faz bem o que se propõe, tem uma produção sólida, ótimas performances e um ritmo que funciona.
Certamente, este não é o filme mais engraçado da história ou a produção mais revolucionária. Mas, em uma época na qual a tragicomédia parece relegada a pouquíssimos lançamentos, ver algo como The Roses acaba sendo estranhamente refrescante. É uma lembrança de uma época em que um veículo de atores como esse era algo mais comum e os cinemas tinham mais a oferecer do que apenas blockbusters de ação e filmes de terror. Para mim, isso tem seu mérito.
Outras divagações:
Trumbo

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