Divagações: The Batman

Uma das principais “vantagens” de ninguém se importar muito com o universo cinematográfico da DC Comics é que, de vez em quando, um diretor...

The Batman
Uma das principais “vantagens” de ninguém se importar muito com o universo cinematográfico da DC Comics é que, de vez em quando, um diretor com uma ideia na cabeça pode simplesmente ignorar todo o resto e fazer o que tiver vontade. E foi mais ou menos isso o que aconteceu nesse projeto de Matt Reeves, que assina o roteiro ao lado de Peter Craig. Para quem não lembra, este filme foi originalmente anunciado como tendo direção e roteiro de Ben Affleck, mas o mundo deu muitas voltas e tudo mudou.

Em The Batman, acompanhamos a trajetória de um herói que sabe bater e que tem bastante apoio de bugigangas tecnológicas que só quem tem muito dinheiro pode comprar. Mas ele também apanha muito, leva tiros e anda por aí como se estivesse carregando uma armadura muito pesada (o que não faz muito sentido com sua agilidade nas cenas de luta, mas tudo bem). Fora da fantasia, ele é uma espécie de playboy emo (com direito a maquiagem escorrendo abaixo do olho e franja grudada na testa) que combate o crime sem muita esperança, como se tudo fosse um estranho projeto escolar destinado ao fracasso. Não há superpoderes ou uma grande moral.

No ponto em que a história começa, Bruce Wayne (Robert Pattinson) já atua como vigilante em Gotham há dois anos. Nesse período, ele atraiu o desprezo de muita gente, desenvolveu uma parceria com o capitão de polícia James Gordon (Jeffrey Wright) e gerou uma série de preocupações para seu mordomo/tutor/protetor Alfred Pennyworth (Andy Serkis). Mas, embora a mera projeção de seu símbolo no céu seja capaz de assustar o ladrão de rua, ele ainda não arranhou a face do crime organizado local. Aliás, isso nem parece estar nos planos.

As coisas mudam quando um serial killer começa a ir atrás dos poderosos, deixando recados para o Batman a cada crime cometido. Os cartões contêm charadas ameaçadoras, que podem indicar qual vai ser a próxima vítima ou dar pistas para que o vigilante tente impedir um novo assassinato. Para completar, a investigação acaba cruzando com os objetivos de Selina Kyle (Zoë Kravitz), uma jovem que está juntando dinheiro por métodos questionáveis para tentar ajudar uma amiga a fugir da máfia, liderada por Carmine Falcone (John Turturro) e seu braço direito, The Penguin (Colin Farrell). E, como se não bastasse, as eleições municipais estão se aproximando e acirrando tensões.

Como The Batman é construído como um filme de detetive – inclusive com certo ar noir –, o protagonista parece estar sempre um passo atrás do bandido, o que funciona bem e permite uma série de reviravoltas que não chegam a soar forçadas (assim como o herói apanha, ele também não é um gênio investigativo). O longa-metragem ainda inclui uma trilha sonora bem demarcada e várias cenas de porradaria, violência e perseguição, sempre com um visual meio chuvoso e sujo, além de frequentemente acompanhadas por uma câmera “tremendo”. É agoniante, mas combina com a produção e ajuda a manter um bom ritmo (afinal, são três horas de projeção e isso realmente cansa).

Escuro, misterioso e com um ar de desesperança, The Batman não sente a necessidade de recontar a origem do protagonista, ainda que os conflitos internos do personagem derivem de seu passado. Além disso, Gotham é muito bem retratada e ajuda a contar a história. Uma mistura de Chicago e Nova York, a cidade é uma metrópole corrupta, tomada pelo crime e marcada pela violência e pela pobreza. Assim, a podridão que vai sendo desvendada não chega exatamente a chocar – a corrupção nas instituições e o conluio entre polícia, políticos e o crime organizado não são novidade para ninguém que acompanhe um noticiário real.

Desta forma, o filme quebra com o que veio antes dele, mas sem reinventar a roda (tudo bem, não há nada de errado com a roda). É um longa-metragem de ação eficiente, misterioso e que se alimenta da mitologia já conhecida do personagem. Para um público cansado da “fórmula Marvel”, esse é um bom caminho.

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