Divagações: Sea of Love

Um jornalista de cinema que eu acompanho há alguns anos, chamado Roberto Sadovski, criou uma lista chamada “ filmes que basicamente só eu ac...

Sea of Love
Um jornalista de cinema que eu acompanho há alguns anos, chamado Roberto Sadovski, criou uma lista chamada “filmes que basicamente só eu acho incríveis”. A ideia é reunir produções que ele gosta, mas que não foram exatamente sucesso de crítica ou de público. Nem preciso dizer que vários desses títulos me chamaram atenção e, entre eles, acabei vendo Sea of Love, um suspense envolvendo uma investigação criminosa lançado em 1989.

Sob certos aspectos, esta produção dirigida por Harold Becker é uma amálgama dos clichês do gênero e do período. Há uma trilha sonora exagerada; uma iluminação que favorece o alto contraste; um mistério que deveria ser profissional, mas se confunde com a vida pessoal dos personagens; uma presença feminina perigosa e sedutora; e um protagonista masculino durão, porém perdido emocionalmente e com uma moralidade questionável.

Em Sea of Love, Frank Keller (Al Pacino) é um detetive da polícia de Nova York que poderia estar se aposentando, mas que não sabe o que faria consigo mesmo se parasse de trabalhar. Divorciado, ele também lida muito mal com o fato de que sua ex-esposa agora é casada com um colega da corporação (Richard Jenkins). Assim, sempre que possível, ele direciona suas atenções para o trabalho ou para confusões sem sentido que arruma por aí.

O mais recente caso que chega em suas mãos envolve o assassinato de um homem que morava sozinho e que foi encontrado nu na própria cama, com um tiro na nuca. Pouco tempo depois, um colega de outra delegacia se aproxima, alegando ter um caso bastante similar em mãos. Assim, não demora para que Frank e Sherman (John Goodman) se tornem parceiros, o que envolve reunir pistas de maneiras não muito convencionais.

A assassina que eles procuram tem um perfil bastante particular: ela mata homens que publicam poesias em jornais, em busca de encontros amorosos. A princípio, tudo vai bem, mas Frank acaba se envolvendo com uma das suspeitas, Helen Cruger (Ellen Barkin), uma mãe solteira que trabalha em uma loja de sapatos e tem ideias muito específicas sobre o que busca em um homem.

À medida que Sea of Love avança, a relação entre o detetive e sua investigada/namorada vai mudando, com ele se envolvendo cada vez mais em uma mistura (nada saudável) de amor e paranoia. Diversos aspectos são trabalhados para que a percepção sobre ela nunca fique muito clara: às vezes, ela parece absolutamente suspeita, mas em outros momentos dá a impressão de ser totalmente inocente. Ao mesmo tempo, a investigação vai avançando e abordando diversos ângulos, que nunca parecem ir a lugar algum.

Para manter o interesse do público nesse vai-e-vem, o longa-metragem abusa de efeitos sonoros e de iluminação, com o objetivo de criar dúvidas sobre Helen e, ao mesmo tempo, enfatizar sua sensualidade. O resultado, entretanto, é questionável e bastante forçado, de modo que o real direcionamento do filme acaba sendo um tanto quanto óbvio. E, no final das contas, o andamento do romance acaba sendo mais importante que a resolução do mistério (que, aliás, desaponta).

Assim, apesar de ter uma trama cativante e um elenco dedicado, Sea of Love acaba caindo em armadilhas próprias. Falta ao filme uma dose de perigo, que outras produções similares conseguiram trazer com maior habilidade. Se o enquadramento fosse outro, especialmente em relação à heroína, talvez a produção funcionasse melhor. Ainda assim, não é como se o filme fosse ruim: ele apenas se mantém na relação de produções que só mesmo o Roberto Sadovski acha incríveis.

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