Divagações: The Half of It

Talvez você nunca tenha tido a oportunidade de assistir a uma montagem da peça Cyrano de Bergerac. Não tem problema. Você, com certeza, já v...

The Half of It
Talvez você nunca tenha tido a oportunidade de assistir a uma montagem da peça Cyrano de Bergerac. Não tem problema. Você, com certeza, já viu muitas e muitas histórias que envolvem o mesmo dilema. É simples. Dois rapazes estão apaixonados por uma mesma moça. Um deles é bonito e burro e o outro é feio (ou algo similar) e inteligente. Considerando-se de fora da disputa (e com uma ou outra motivação adicional), o feio resolve ajudar o bonito e, no processo, a moça se apaixona por quem ele é, independente de quaisquer aspectos físicos. Às vezes, o final é feliz; às vezes, não.

The Half of It conta exatamente essa história. Paul Munsky (Daniel Diemer) é o jogador de futebol com cara de cachorro pidão, que poderia ser o protagonista de qualquer comédia romântica adolescente, mas que é incapaz de escrever uma carta de amor descente. Ele é apaixonado por Aster Flores (Alexxis Lemire), uma menina linda e inteligente, que canta como um anjo, vai à igreja, é popular e parece ter uma vida perfeita, o que já inclui um namorado bonitão, Trig Carson (Wolfgang Novogratz). E a terceira peça nesse jogo é Ellie Chu (Leah Lewis), uma garota sem sal e sem dinheiro, que aceita escrever uma carta para outra menina em troca do valor necessário para pagar a conta de luz – mas, no fundo, ela sabe que esse não é o único motivo para se corresponder com Aster.

Com roteiro e direção de Alice Wu, esta estrutura clássica ganha autenticidade ao se aprofundar nos personagens. Paul, apesar de não estar fazendo algo exatamente ético, é cheio de boas intenções e se comporta de uma maneira íntegra com Ellie, ajudando a quebrar a muralha que a menina criou ao redor de si. A protagonista, inicialmente ríspida, vai se abrindo aos poucos, especialmente à medida que o filme explora sua relação com seu pai (Collin Chou). Infelizmente, Aster segue sendo perfeita demais para ser verdade, mas é possível dizer que ela ganha personalidade com o decorrer da história.

Mas é claro que The Half of It nunca deixa de ser um romance adolescente de pretensões bem moderadas. Os conflitos se desenrolam como esperado, os adultos não fazem muito sentido e todos os coadjuvantes são absolutamente unidimensionais, especialmente Trig (que, eu suponho, deveria ser um alívio cômico). Ainda assim, eu suponho que a produção ganha pontos pelo esforço.

Além disso, o longa-metragem procura seu espaço também como uma história sobre amadurecimento. Seus três protagonistas têm origens diferentes – chinesa, alemã e latino-americana – e precisam lidar com expectativas familiares próprias. Ellie tem mais obrigações do que deveria, Paul sente a necessidade de se destacar em meio ao tradicionalismo e Aster quer encontrar liberdade sem sair do caminho traçado. Assim, em meio ao romance e ao drama adolescente, eles também precisam crescer enquanto indivíduos (o que não deixa de ser mais importante).

Sem gritar, espernear ou se enfurecer, cada um dos personagens de The Half of It é um adolescente bastante real (ainda que interpretado por uma pessoa de 20 e poucos anos). Desta forma, por mais que poucos de nós tenhamos vivido triângulos amorosos como esse, fica fácil se identificar.

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