Divagações: Beautiful Thing

Embora existam mais filmes que eu gostaria de ver do que tempo disponível, sempre estou em busca de indicações. Às vezes, uma recomendação m...

Beautiful Thing
Embora existam mais filmes que eu gostaria de ver do que tempo disponível, sempre estou em busca de indicações. Às vezes, uma recomendação me chama tanto a atenção que um título simplesmente “fura a fila” e se torna prioridade. Foi o caso de Beautiful Thing – e não me arrependo.

Este longa-metragem de 1996 é a adaptação de uma peça teatral de Jonathan Harvey (com roteiro do próprio autor) e marca a estreia de Hettie Macdonald na direção; na sequência, ela iniciou uma carreira bem interessante na televisão e, em breve, deve voltar aos cinemas. Trata-se uma mistura de drama e comédia, com um orçamento claramente limitado e uma sensibilidade tipicamente inglesa.

Beautiful Thing acompanha o desenvolvimento do relacionamento romântico entre Jamie Gangel (Glen Berry) e Ste Pearce (Scott Neal). Eles são vizinhos em Londres, em uma espécie de condomínio habitacional público, e têm situações de vida complicadas. Inclusive, é por causa de episódios de violência doméstica que Ste passa a eventualmente dormir algumas noites na casa de Jamie, levando à aproximação dos dois.

Além disso, por mais que a mãe de Jamie, Sandra (Linda Henry), pareça estar a um passo de conseguir melhorar sua situação de moradia, ela não chega a dividir suas esperanças com o filho, que já está tendo que se adaptar à convivência com o novo namorado dela, Tony (Ben Daniels). Para completar, há uma vizinha “maluquinha”, Leah Russell (Tameka Empson), que parece ser uma pessoa legal, mas também gosta de fazer fofocas pesadas, gerar intrigas e tem uma estranha obsessão com a cantora Cass Elliot.

Ao trazer tudo isso, Beautiful Thing cria um universo bastante específico para seus protagonistas, situando-os em uma época, uma classe social e em um local. Concomitantemente, o filme acaba se universalizando, pois facilita a criação de uma identificação. Eu jamais serei um adolescente inglês homossexual, mas consegui empatizar facilmente com os dramas dos dois, com suas inseguranças, com suas ingenuidades, com suas esperanças e até com seus momentos de felicidade desesperada.

Outro ponto interessante é que, como o romance começa com cuidado, praticamente nas sombras, é a vida no condomínio que faz a trama andar. São as interações entre as mais diversas figuras do local que geram conflitos e movimentam o dia a dia dos dois. Aliás, Sandra e Leah frequentemente roubam a cena e clamam atenção, sendo muito mais efusivas e carismáticas, o que funciona bem para manter a dinâmica.

No final das contas, Beautiful Thing conta uma história simples, que parece ocorrer logo ali, mas que ainda é um filme – a expectativa pelo final feliz está sempre à espreita. A narrativa não é particularmente inovadora e os personagens são curiosamente comuns. E é justamente por conseguir esse efeito que o filme funciona e se mantém interessante mesmo após 26 anos de seu lançamento.

Eu só fico triste que, depois de tanto tempo, alguns dos dilemas vividos por esses rapazes sigam existindo (mas quero acreditar que a internet os tornaria menos bobos). E a violência segue se repetindo.

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