Divagações: Ma vie de Courgette

Embora Ma vie de Courgette tenha sido lançado há mais de cinco anos, eu não cheguei a esquecer de sua proposta. Na época, ele chamou atençã...

Ma vie de Courgette
Embora Ma vie de Courgette tenha sido lançado há mais de cinco anos, eu não cheguei a esquecer de sua proposta. Na época, ele chamou atenção por sua técnica de animação e por ter sido selecionado pela Suíça como seu representante para a categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira do Oscar – no final das contas, o filme recebeu apenas a indicação de Melhor Animação, mas não levou a estatueta para casa, perdendo para Zootopia.

Mas o que me interessava mesmo era sua sinopse tristonha e o fato de uma história aparentemente tão pesada receber uma roupagem tão leve e bonitinha. Agora que finalmente assisti a produção, entendo que não poderia ser de outra forma. Esse é um mergulho no universo infantil, onde crianças não se tornam adultos porque foram forçadas pela vida; elas simplesmente seguem sendo inocentes, absorvendo aquilo que conseguem compreender e lidando com o resto da forma como for possível.

Ma vie de Courgette acompanha a tragédia que faz com que o pequeno Courgette (Gaspard Schlatter) precise sair de sua casa e ir morar em um orfanato, mas o destaque é para a vida que ele leva por lá. No local, ele encontra diversas outras crianças em situações similares, com destaque para o “problemático” Simon (Paulin Jaccoud) e para Camille (Sixtine Murat), que chega após o período de adaptação inicial de Courgette. Além disso, o menino passa a receber visitas do policial Raymond (Michel Vuillermoz), que cuida do seu caso.

Desta forma, o filme explora a formação da relação de camaradagem entre as crianças e o vínculo que se forma entre elas. Embora cada uma tenha seus traumas e precise lidar com situações familiares diversas, há uma compreensão geral de que todos enfrentaram dificuldades e estão ali por um motivo comum: eles não têm uma família.

Sob diversos aspectos, Ma vie de Courgette lembra December Boys – há uma viagem e alguns dos dilemas dos protagonistas se repetem, por exemplo. Em ambos os casos, apesar da vida em uma instituição ser dolorosa, você se percebe secretamente feliz por aquelas crianças estarem passando por isso em um país “de primeiro mundo”. Sinceramente, não visualizo um filme brasileiro sobre o mesmo tema que consiga manter o tom leve ao final.

De qualquer modo, a diferença de idade dos personagens tem um peso importante. Aqui, a dependência de cuidados, a falta de compreensão a respeito do mundo e a inocência têm um peso muito maior, afetando a maneira como a história se desenvolve e os personagens se relacionam. É também aí que mora o humor do filme, o que faz com que a empatia surja facilmente. Crianças são crianças em qualquer lugar.

Baseado em um livro de Gilles Paris (que já havia virado um longa-metragem com atores em 2008), Ma vie de Courgette não é uma grande aventura e não é algo que eu chamaria de divertido. Mas esse filme também não é um dramalhão e acredito que ele seja capaz de prender a atenção das crianças (eu não me preocuparia muito com as temáticas mais pesadas, já que elas surgem nas nuances). Esta é uma daquelas obras que nos deixam com o coração quentinho. Vale a pena dar uma chance.

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