Divagações: Le dernier métro
12.7.23
Embora eu já tenha lido muitos textos sobre François Truffaut e outros tantos escritos por ele (livros, inclusive), o acesso aos filmes deste cineasta não é lá muito amplo – ou, pelo menos, não é tão “na cara” quanto o de produções norte-americanas. Assim, esse é um “buraco” nos meus estudos sobre cinema que eu gostaria de, aos poucos, preencher.
Nesse contexto, Le dernier métro não seria minha primeira opção, mas foi uma oportunidade de ocasião que aproveitei. O longa-metragem tem seus méritos – não é à toa que ele ganhou dez prêmios César –, mas também carrega um ar de uma produção barata, com cenários e iluminações não muito convincentes. Ainda assim, considerando a proposta de retratar os bastidores teatrais, tudo parece combinar.
A produção se passa em uma Paris ocupada por nazistas, mas, mais especificamente, em uma casa de espetáculos administrada por Marion Steiner (Catherine Deneuve). Ela, contudo, costumava ser apenas a estrela do local, de propriedade de seu marido, Lucas Steiner (Heinz Bennent). Com a invasão, Lucas fugiu e deixou para a esposa a função de cuidar do teatro e de colocar nos palcos uma peça de sua autoria, com direção de Jean-Loup Cottins (Jean Poiret) e estrelada pela própria Marion e por Bernard Granger (Gérard Depardieu).
Assim, Le dernier métro acompanha os ensaios, trazendo as tensões do elenco – algumas entre os personagens e outras motivadas pelo momento histórico –, e o cotidiano caótico da protagonista. Afinal, Marion não somente acumulou funções, como também está guardando segredos importantes e, aparentemente, pode ter um interesse em Bernard, a despeito de ainda ter muito afeto pelo marido.
Uma escolha interessante do longa-metragem é que as reais intenções da personagem nunca são exatamente esclarecidas, alimentando um mistério que mantém o espectador atento ao filme. Porém, como tudo se passa em um território ocupado e em um contexto de perseguição aos judeus, a trama já conta com uma tensão quase “natural”, que poderia ser facilmente explorada. Ou seja, embora o conflito histórico esteja muito presente, ele é mais usado para criar a atmosfera necessária do que para efetivamente ajudar a contar a história.
Desta forma, Le dernier métro se apoia fortemente em seus atores, dependendo que eles tornem a trama crível. Catherine Deneuve, em especial, tem a missão de segurar diferentes “núcleos”, conectando personagens que não interagem diretamente e prestando pequenos esclarecimentos aos espectadores de forma sutil.
Mas ela, obviamente, não está sozinha. Além da presença constante de Gérard Depardieu e Heinz Bennent, há também todo o dia a dia do teatro (egos, fofocas, confusões e afins) e um temido crítico, Daxiat (Jean-Louis Richard), que tem conexões com o exército alemão e “simpatiza” com as ideias nazistas.
Com isso, Le dernier métro não é exatamente um romance, nem um melodrama convencional. Também não se trata de um filme de guerra, sendo talvez melhor classificado como uma história de resistência (e de bastidores). Em um momento difícil, as pessoas seguem tendo seus dramas pessoais e constantemente são relembradas do que é realmente importante; este é um filme sobre manter a honestidade consigo mesmo.
Nesse contexto, Le dernier métro não seria minha primeira opção, mas foi uma oportunidade de ocasião que aproveitei. O longa-metragem tem seus méritos – não é à toa que ele ganhou dez prêmios César –, mas também carrega um ar de uma produção barata, com cenários e iluminações não muito convincentes. Ainda assim, considerando a proposta de retratar os bastidores teatrais, tudo parece combinar.
A produção se passa em uma Paris ocupada por nazistas, mas, mais especificamente, em uma casa de espetáculos administrada por Marion Steiner (Catherine Deneuve). Ela, contudo, costumava ser apenas a estrela do local, de propriedade de seu marido, Lucas Steiner (Heinz Bennent). Com a invasão, Lucas fugiu e deixou para a esposa a função de cuidar do teatro e de colocar nos palcos uma peça de sua autoria, com direção de Jean-Loup Cottins (Jean Poiret) e estrelada pela própria Marion e por Bernard Granger (Gérard Depardieu).
Assim, Le dernier métro acompanha os ensaios, trazendo as tensões do elenco – algumas entre os personagens e outras motivadas pelo momento histórico –, e o cotidiano caótico da protagonista. Afinal, Marion não somente acumulou funções, como também está guardando segredos importantes e, aparentemente, pode ter um interesse em Bernard, a despeito de ainda ter muito afeto pelo marido.
Uma escolha interessante do longa-metragem é que as reais intenções da personagem nunca são exatamente esclarecidas, alimentando um mistério que mantém o espectador atento ao filme. Porém, como tudo se passa em um território ocupado e em um contexto de perseguição aos judeus, a trama já conta com uma tensão quase “natural”, que poderia ser facilmente explorada. Ou seja, embora o conflito histórico esteja muito presente, ele é mais usado para criar a atmosfera necessária do que para efetivamente ajudar a contar a história.
Desta forma, Le dernier métro se apoia fortemente em seus atores, dependendo que eles tornem a trama crível. Catherine Deneuve, em especial, tem a missão de segurar diferentes “núcleos”, conectando personagens que não interagem diretamente e prestando pequenos esclarecimentos aos espectadores de forma sutil.
Mas ela, obviamente, não está sozinha. Além da presença constante de Gérard Depardieu e Heinz Bennent, há também todo o dia a dia do teatro (egos, fofocas, confusões e afins) e um temido crítico, Daxiat (Jean-Louis Richard), que tem conexões com o exército alemão e “simpatiza” com as ideias nazistas.
Com isso, Le dernier métro não é exatamente um romance, nem um melodrama convencional. Também não se trata de um filme de guerra, sendo talvez melhor classificado como uma história de resistência (e de bastidores). Em um momento difícil, as pessoas seguem tendo seus dramas pessoais e constantemente são relembradas do que é realmente importante; este é um filme sobre manter a honestidade consigo mesmo.
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