Divagações: Sora no aosa o shiru hito yo

Uma característica das animações japonesas que tem me chamado a atenção é uma valorização de localidades bastante específicas, sejam cidades...

Sora no aosa o shiru hito yo
Uma característica das animações japonesas que tem me chamado a atenção é uma valorização de localidades bastante específicas, sejam cidades pequenas (e aparentemente sem muita graça) ou paisagens rurais bucólicas. Com alguma frequência, o próprio cenário se insere nas motivações dos personagens, que tem o intuito de sair daquele lugar ou preservá-lo de alguma maneira.

Sora no aosa o shiru hito yo, por exemplo, coloca suas personagens em um contexto como esse, com cada um reagindo a sua maneira e dentro de suas possibilidades. Aoi Aioi (Shion Wakayama) é uma adolescente revoltada, que viveu uma tragédia familiar há alguns anos e não vê o momento de ir embora para se tornar uma baixista em Tóquio. Já sua irmã, Akane (Riho Yoshioka) – que assumiu a responsabilidade pela outra quando ainda era muito jovem –, está bem estabelecida na pequena cidade e envolvida com a organização de um festival musical que promete animar a população local.

Os conflitos entre as duas acabam vindo à tona com o reaparecimento do ex-namorado da mais velha, Shinnosuke Kanomura (Ryô Yoshizawa), que retorna à cidade natal de uma maneira nada convencional e, também, de outra totalmente esperada (se você achou isso confuso, entenda que estou tentando não estragar a surpresa). Enquanto Aoi precisa lidar com os evidentes contrastes entre esta nova pessoa e a de suas lembranças, Akane assume uma perspectiva mais pé-no-chão e prefere observar os acontecimentos antes de tirar conclusões.

Assim, como Aoi possui uma personalidade que a obriga a agir – e é ela quem tem mais assuntos internos a resolver –, o filme acaba sendo direcionado por suas angústias, dúvidas e mancadas. Afinal, como uma boa adolescente, ela frequentemente não opta pelo caminho mais direto para solucionar seus problemas e se vê enrolada com uma participação no mesmo festival que sua irmã está organizando.

Com isso, a trama de Sora no aosa o shiru hito yo não é exatamente complexa, ainda que sua premissa seja um pouco rocambolesca. O filme cria uma série de situações com o objetivo de explorar os conflitos emocionais de sua protagonista e gerar um amadurecimento que, em situações normais, poderia demorar um tempo considerável. Ou seja, no fundo, esta é uma história de formação misturada com uma espécie de romance mal resolvido, algo que parece perfeitamente adequado para a dupla formada pelo diretor Tatsuyuki Nagai e a roteirista Okada Mari (que é natural de Chichibu, onde a história se passa).

E, ainda que tudo isso tenha certo apelo, o longa-metragem sabe que não pode se sustentar sem uma qualidade técnica compatível. Aproveitando-se da importância do local, a produção abusa de cenários com qualidade fotográfica e leva seus personagens tanto para ambientes externos de uma beleza grandiosa quanto para pontos turísticos locais, como a estação de trem, o teatro e até uma caverna. Cada um desses espaços parece contar uma história própria e muito maior do que a vista na tela, carregando consigo uma camada mais profunda de drama.

Com tanto a realizar, Sora no aosa o shiru hito yo acaba com uma promessa maior do que suas realizações e a trama fica com algumas pontas soltas. Mesmo assim, o filme segue sendo um deleite para os olhos, cumpre seu objetivo de divulgar o lugarejo e traz personagens bastante interessantes, capazes de cativar mesmo quando se comportam horrendamente (todos fomos adolescentes incompreendidos um dia, não é mesmo?).

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