Divagações: Nimona

Infelizmente, transformar uma ideia em um filme pode ser algo bem complexo, especialmente se os criadores esperam ter algum tipo de alcance ...

Nimona
Infelizmente, transformar uma ideia em um filme pode ser algo bem complexo, especialmente se os criadores esperam ter algum tipo de alcance mais amplo e há o envolvimento de estúdios. Nimona, por exemplo, teve uma trajetória conturbada: começou sendo produzido pela Blue Sky, da Fox, que foi comprada pela Disney, e eventualmente caiu nas mãos da Annapurna e da Netflix.

Passado em uma sociedade ao mesmo tempo futurística e com ares medievais, o longa-metragem tem um visual bem legal (não é riquíssimo em detalhes e texturas, mas é de qualidade) e uma animação ágil, algo necessário considerando a constante correria. Talvez as lutas de espada decepcionem um pouco, mas, sinceramente, não é como se essa alternativa fizesse muito sentido.

De uma forma resumida, a produção é sobre aceitar o que é diferente. E, a princípio, Ballister Boldheart (Riz Ahmed) é bem diferente. Embora tenha nascido como uma pessoa comum, ele tem o sonho de se tornar um cavaleiro, algo reservado aos nobres.

Durante o treinamento, como se não bastasse realizar sua maior ambição e cair nas graças da diretora (Frances Conroy), Ballister ainda encontra o amor ao lado de Ambrosius Goldenloin (Eugene Lee Yang). Em contrapartida, ele não tem o apoio amplo da opinião pública e precisa lidar com a escrotidão de muita gente, incluindo alguns colegas (Beck Bennett).

De qualquer modo, tudo parecia caminhar bem até sua ordenação como cavaleiro, quando a rainha (Lorraine Toussaint) é assassinada de uma forma que Ballister parece ser o culpado. Sem saber como provar sua inocência e sem ter a quem recorrer, ele encontra um apoio inesperado em uma garota rebelde e muito habilidosa, Nimona (Chloë Grace Moretz), que esconde grandes segredos.

Assim, Nimona não apenas traz dois protagonistas que são “diferentes” perante a sociedade como também mostra formas variadas de lidar com isso. Ballister procura se enquadrar da melhor forma possível, abaixando a cabeça se necessário, mas permanecendo firme e conquistando seu lugar aos poucos. Já Nimona opta pela rebeldia, por mostrar o que há de errado e por querer ser ela mesma custe o que custar. Nenhum dos dois está errado, mas eles obviamente são bem diferentes e a convivência pode ser complicada.

Com isso, a produção definitivamente está com o coração no lugar certo – ainda que caia em muitos clichês no processo. Para começar, é complicado fazer uma sociedade futurística e cheia de tecnologia (e, consequentemente, de informação) parecer crível quando há uma monarquia atuante, nenhuma possibilidade de ascensão social e cavaleiros treinados para lutar com espadas (sim, há armas e bombas).

Na mesma linha, não só “as massas” parecem ser muito influenciáveis, mas também boa parte dos personagens secundários. Em muitos momentos de Nimona, o que vale é quem deu a última palavra, desconsiderando toda a discussão realizada até então. Isso sem considerar que, embora a protagonista critique “pensamentos pequenos”, ela acaba dando uma resposta aos questionamentos que despreza.

Mas, apesar de seus tropeços, Nimona ainda traz frescor. Seus temas são atuais e tratados com naturalidade em meio a uma explosão de energia. A trilha sonora é divertida e o ritmo acelerado garante que a produção passe em um piscar de olhos.

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