Divagações: Borderlands

Vamos ser sinceros aqui: Eli Roth não é um cineasta conhecido por seu grande calibre criativo. Ele é a mente por trás de um monte de filmes...

Borderlands
Vamos ser sinceros aqui: Eli Roth não é um cineasta conhecido por seu grande calibre criativo. Ele é a mente por trás de um monte de filmes de terror medianos e que, por alguma razão, recebeu a confiança da Lionsgate para tomar as rédeas um filme de ação de grande orçamento e com um elenco invejável.

Essa foi, certamente, uma aposta arriscada do estúdio para Borderlands. Mas ela se pagou? Não. Definitivamente, não.

Não falo isso nem como fã e nem como um completo novato na franquia. As minhas sensibilidades aqui, inclusive, talvez sejam as ideais para esse tipo de filme: conheço vagamente o mundo e sua ambientação, mas não sou suficientemente apegado a ponto de julgar o filme somente nestes méritos. Ainda assim, saí da sala de cinema com um só pensamento: por quê?

Juntando mais ou menos a trama dos dois primeiros jogos (e tomando uma série de liberdades criativas), Borderlands se passa em um futuro meio distópico. No planeta Pandora, uma raça alienígena ancestral – e que um dia dominou a galáxia – escondeu uma arca com resquícios da sua tecnologia, levando o planeta a se transformar em uma fronteira sem lei, repleto de foras da lei e caça-arcas em busca desse tesouro perdido.

Nesse cenário, Tina (Ariana Greenblatt) é uma menina que supostamente seria capaz de abrir a arca e que acaba sendo resgatada do seu cativeiro na grande corporação Atlas por Roland (Kevin Hart), um soldado da força de segurança da companhia que não quer ver a tecnologia alienígena caindo nas mãos dos patrões. Para recuperar a garota, o conglomerado contrata os serviços de Lilith (Cate Blanchett), uma caçadora de recompensas originária do planeta, mas que tem histórias não resolvidas no lugar.

Acreditem, foi mais difícil escrever essa sinopse do que parece. A produção faz um péssimo trabalho para apresentar as motivações de seus personagens e isso só piora com o passar do tempo, conforme novos nomes vão sendo introduzidos na trama. Um exemplo é Tannis (Jamie Lee Curtis), que parece extremamente perdida e beira a incoerência.

Em contrapartida, Claptrap (Jack Black), um personagem que meio que veio a ser a mascote da série, parece estar bem representado. Entretanto, isso significa que ele é extremamente irritante em ocasiões e basicamente irrelevante narrativamente, justamente como nos jogos, o que talvez possa ser visto como um mérito (eu suponho?).

Essa falta de foco dá a impressão de que os enxutos 102 minutos de filme perderam uma meia hora na sala de edição, pois várias coisas acontecem sem explicação e parece haver informações que foram simplesmente perdidas. Tanto é que o filme não começa mal; ele tem uma ambientação ok, um texto que até funciona e uma trama objetiva o bastante. Porém, é difícil não chegar ao final sem uma expressão confusa graças à resolução rocambolesca e sem sentido.

Claro que Borderlands nunca foi exatamente uma série conhecida por sua narrativa rica e densa. O original é um jogo de ação sobre usar muitas armas meio absurdas em um cenário irreverente e 100% pueril. Dentro desse escopo, o texto dos jogos é satisfatório e, por mais que muita gente não goste do humor de Anthony Burch, o roteirista principal da série, não dá para negar que ele foi central para seu sucesso.

Mas isso é algo que Borderlands, o filme, não consegue replicar, soando mais como uma versão menor e sem alma de Guardians of the Galaxy do que qualquer outra coisa (um referencial que está ficando cada vez mais batido, inclusive). Ainda que o filme comece bem, com uma direção de arte acertadíssima em relação ao jogo (sinceramente a melhor coisa aqui) e diversas boas referências visuais legais logo de cara, ele rapidamente perde este espírito, tornando-se dolorosamente genérico.

Também fico um pouco chocado que a produção não tenha usado as armas dos personagens, uma vez que isso é um elemento central do jogo – é basicamente como fazer um filme do Mario em que ele não pula. Ou seja, as cenas de ação são bem arroz com feijão e nem arranham o potencial que o filme poderia ter se abraçasse os aspectos mais cartunescos de seu cenário. Há, talvez, só uma sequência que eu considero interessante visualmente e ela é bem curta.

No fim do dia, Borderlands é uma curiosidade interessante para quem gosta dos jogos e quer apreciar como o mundo foi trazido à tona pela equipe de produção – dos visuais dos personagens aos cenários e adereços, tudo parece ter sido feito com capricho. Mas, para desavisados que só querem um bom filme de ação e comédia, há opções significativamente melhores no mercado (Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves, lançado no ano passado, faz tudo que esse filme se propõe, só que melhor), mostrando que a maldição das adaptações de videogames continua firme e forte em Hollywood.

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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