Divagações: I, Tonya

Se alguém duvidar do talento de Margot Robbie , uma boa opção para rebater qualquer argumento é I, Tonya . A produção, que rendeu a primeir...

I, Tonya
Se alguém duvidar do talento de Margot Robbie, uma boa opção para rebater qualquer argumento é I, Tonya. A produção, que rendeu a primeira indicação da atriz ao Oscar, é uma cinebiografia com personalidade e que abre bastante espaço para o elenco mostrar a que veio.

Para começar, o roteiro de Steven Rogers é assumida e maravilhosamente contraditório, uma vez que se baseia em entrevistas com as pessoas envolvidas nos acontecimentos – e cada uma, naturalmente, puxou as coisas para o seu lado (vale destacar que a escolha destes pontos de vista específicos também importa). Com isso, I, Tonya não se compromete com uma única versão e tudo pode ser questionado, mesmo quando todos parecem estar de acordo.

A história acompanha a carreira de Tonya Harding (Margot Robbie) como patinadora no gelo, desde suas primeiras aulas sob o olhar atento de Diane Rawlinson (Julianne Nicholson), aos quatro anos de idade, até as consequências de um determinado “incidente” armado por um falso guarda-costas, Shawn (Paul Walter Hauser). No caminho, ela sobrevive a um relacionamento péssimo com a mãe (Allison Janney), a um casamento violento e tóxico com Jeff (Sebastian Stan) e a uma série de outras dificuldades.

O detalhe é que, apesar de todos os empecilhos, Tonya chegou a ser uma das atletas mais importantes dos Estados Unidos por um breve período. Mas as coisas desandam de uma maneira desastrosa, abrupta e que beira o inacreditável. Sinceramente, eu só consigo acreditar na reviravolta do filme porque também creio que a estupidez humana não tem limites. E, se você tem dúvidas, os créditos incluem trechos das entrevistas reais.

Assim, apesar de ter uma temática pesada, I, Tonya é construído a partir dos aspectos mais absurdos e conflitantes dos seres humanos, o que faz com que muitos encarem a produção como uma “comédia negra” (não concordo, mas entendo a classificação). A escolha de Craig Gillespie para a direção do projeto, aliás, foi uma ótima pedida, já que ele parece ser especialista em mostrar as idiossincrasias das pessoas sem (necessariamente) as julgar, inclusive trazendo estas peculiaridades para a tela com charme e empatia.

Outra questão é que, embora a protagonista seja uma patinadora que tem que lutar por absolutamente tudo em sua vida, os coadjuvantes são fascinantes e têm espaço para brilhar. Inclusive, no meio de tantos personagens dispostos a “roubar a cena”, não deixa de ser impressionante que Margot Robbie tenha conseguido se destacar. Ela alterna de maneira crível uma aparente inocência com uma raiva inerente a quem já viu o que há de pior no mundo. Não é uma tarefa fácil fazer o público acreditar em alguém que não parece fazer sentido lógico (ao mesmo tempo, quem faz sentido lógico?).

Em resumo, I, Tonya consegue tratar de um assunto dramático de uma forma interessante narrativamente e com uma boa dose de humor, mas sem comprometer a seriedade de seus temas. Por conta desta destreza, acredito que este é um daqueles filmes que continuará sendo lembrado mesmo após anos de seu lançamento. Só espero que as façanhas da protagonista no gelo – feitas com computação gráfica, já que ninguém se habilitou a tentar para a câmera – continuem convincentes mesmo com o passar do tempo.

Outras divagações:
Lars and the Real Girl
Fright Night
Cruella

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