Divagações: The Old Oak

Meu primeiro contato com o diretor Ken Loach e com o roteirista Paul Laverty foi por meio de I, Daniel Blake que, sinceramente, deve figu...

The Old Oak
Meu primeiro contato com o diretor Ken Loach e com o roteirista Paul Laverty foi por meio de I, Daniel Blake que, sinceramente, deve figurar na lista de filmes que eu mais frequentemente recomendo para as pessoas (ainda que seja uma obra bem triste). Por isso, não pensei duas vezes quando surgiu a oportunidade de ver The Old Oak, que é um bom filme, ainda que não tão impactante e incômodo quanto seu “irmão”.

A história se passa em um vilarejo da Inglaterra que está envelhecido e empobrecido após o fechamento das minas de carvão que movimentavam a economia local. Com os preços dos imóveis em franca decadência, a pequena cidade acaba recebendo um grande grupo de imigrantes sírios, que dependem de ajuda para se ajustarem ao novo país – ao mesmo tempo, os moradores locais também estão passando por dificuldades.

Com isso, The Old Oak mostra tanto a intolerância quando os ressentimentos que tentam explicar reações por vezes injustificáveis. TJ Ballantyne (Dave Turner) é o dono do único pub da vila e, também, um homem com um enorme coração, que eventualmente ajuda Laura (Claire Rodgerson) em suas ações de caridade. Embora esteja sofrendo com o fim da cultura sob a qual foi criado (e com muitas outras coisas), ele não compartilha da acidez doída de seus clientes fiéis. Assim, ainda que após certa relutância, ele se envolve com os recém-chegados e resolve fazer algo em prol da integração.

Por sua vez, Yara (Ebla Mari) é uma das imigrantes. Com a vantagem de falar um bom inglês, sendo mais formal e educada do que as demais pessoas, ela é a filha mais velha em uma família de vários irmãos, esbanjando a maturidade forçada que vem com essa posição em um cenário de guerra. Tendo mais consciência que os demais a respeito do que realmente acontece ao seu redor, Yara se aproxima de Ballantyne e o motiva a fazer algo para tornar a vida melhor para todos.

Com várias sequências que mostram a delicadeza da situação, The Old Oak é muito sensível às dores alheias, mas não esconde de que lado está e nem o fato de ser bastante carregado politicamente. Assim, se você não concorda de antemão com os pontos apresentados, duvido que a produção por si só seja capaz de mudar a sua opinião, mas ela ressoa fortemente com quem já está a seu lado.

Pessoalmente, acho que o filme se beneficiaria de uma redução no didatismo, com menos discursos e lições de moral. Afinal, há várias demonstrações de causas e consequências, ainda que algumas delas sejam indiretas ou perceptíveis apenas em nuances. Uma das minhas sequências preferidas envolve a completa mudança de uma mãe desesperada, que passa a encarar os refugiados de outra forma após Yara ajudar sua filha; ao mesmo tempo, a imigrante tem um contato direto com a pobreza da população local.

Assim, no que parece ser uma marca registrada dessa dupla de diretor e roteirista, The Old Oak retrata pessoas bastante reais, ainda que seja inegável que há um recorte caricato na história. Para quem se dispõe a receber o impacto do que é mostrado na tela, há muitas lições a serem aprendidas, uma vez que problemas sociais tendem a ser muito mais complexos do que se enxerga à primeira vista.

Outras divagações:
I, Daniel Blake

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