Divagações: Before Sunrise

Eu sequer lembro exatamente quantos anos eu tinha quando vi Before Sunrise pela primeira vez. Na época, fiquei encantada pela premissa: um ...

Before Sunrise
Eu sequer lembro exatamente quantos anos eu tinha quando vi Before Sunrise pela primeira vez. Na época, fiquei encantada pela premissa: um filme inteiro sobre duas pessoas caminhando por uma bela cidade europeia e conversando sem parar. Quando assisti, também me encantei com os atores – Ethan Hawke e Julie Delpy –, que me fizeram acreditar que realmente existia “algo” entre aquelas duas pessoas.

Tantos anos depois, Before Sunrise continua a me fascinar. Desta vez, não só por ser diferente da maior parte dos filmes ou por ser meramente romântico, mas pelo retrato que ele faz do início “concentrado” de um relacionamento. Há, ali, diversos momentos com os quais alguém pode se identificar: desde a troca de olhares onde justamente se evita o olhar do outro até as ideias furadas (ou não) sobre o que faz duas pessoas se afastarem, passando pelas inseguranças a respeito dos primeiros momentos de intimidade.

Para completar, há também o charme do divertido contraste entre um rapaz estadunidense desfilando todos os seus traumas, conceitos e preconceitos em frente a uma moça parisiense tentando manter a pose de uma mulher segura de si. Ambos são jovens e acreditam que têm uma vida repleta de conquistas pela frente, mas acabaram de perceber que esse caminho não vai ser fácil.

Em resumo, Before Sunrise conta a história de um casal que se conhece em uma viagem de trem. Jesse (Ethan Hawke) estava passeando pela Europa há várias semanas e tem algumas horas antes de seu voo de volta para casa, enquanto Céline (Julie Delpy) está a caminho de Paris, onde mora, após ter ido visitar a avó. Ele a convence a descer do trem em Viena, para que eles possam conversar e se conhecer melhor antes dele partir. A ideia é viver uma aventura e criar memórias de juventude.

Ao longo da madrugada, eles conversam e se expõem sem muitas reservas um ao outro – afinal, são desconhecidos que, provavelmente, não devem voltar a se encontrar. Embora sejam pessoas muito diferentes, essa abertura (e a crescente tensão sexual) permite que eles tenham uma maior tolerância ao outro e conversem sobre todo o tipo de assunto, mantendo um grau de empatia mesmo em meio às eventuais discordâncias.

Outro aspecto interessante de Before Sunrise é o fato de que, mesmo tendo mais de um quarto de século (pois é!), o filme ainda funciona muito bem. As roupas podem até ficar fora de moda e as angústias dos protagonistas podem não ser exatamente as mesmas dos jovens de hoje – ainda que várias delas tenham apenas crescido em intensidade –, mas tudo ainda soa real e plausível. Assim, segue sendo fascinante encontrar com duas pessoas comuns que estão dispostas a abrir seus corações para o outro (e na sua frente!).

Tudo isso, é claro, em um charmoso cenário. Viena empresta suas ruas ao filme sem pedir muito em troca. Com boa parte da história acontecendo ao longo da madrugada, os protagonistas não acabam em pontos turísticos famosos ou badalados, mas visitam bares estranhos, passam por lugares com valor emocional para Céline e simplesmente caminham por inúmeras vielas – embora haja uma roda gigante. O fato de a cidade continuar atraente e romântica mesmo assim só pesa a favor da capital austríaca.

Por mais que seja de conhecimento geral que existam continuações, Before Sunrise tem uma mágica própria. E a incerteza deixada por seu final combina maravilhosamente com tudo o que o filme tem a oferecer.

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