Divagações: Jane Eyre (1996)

Recentemente, fui apresentada a um gênero chamado “crianças europeias sofrendo”. A princípio, Jane Eyre não se enquadraria muito bem nessa ...

Jane Eyre
Recentemente, fui apresentada a um gênero chamado “crianças europeias sofrendo”. A princípio, Jane Eyre não se enquadraria muito bem nessa premissa, mas esta adaptação escrita e dirigida por Franco Zeffirelli chega bem perto.

Um dos principais motivos para isso é o enfoque dado à infância da protagonista, interpretada (muito bem, diga-se de passagem) por Anna Paquin. É a jovem atriz quem dá o tom para a personagem, mostrando como as agruras da vida a moldaram e a tolheram.

De maneira geral, o longa-metragem acompanha de perto o romance de Charlotte Brontë. Jane Eyre (Paquin/Charlotte Gainsbourg) é uma jovem órfã muito inteligente, que é abandonada pela tia (Fiona Shaw) e mandada para um rigoroso colégio interno. Lá, ela é educada e até adquire alguma experiência como professora. Com isso, ela consegue um emprego na mansão Thornfield, onde será responsável pela educação da pequena Adele (Joséphine Serre).

A princípio, Jane sente-se bem na nova posição, sendo tratada com carinho pela administradora do local, Mrs. Fairfax (Joan Plowright). Mas as coisas começam a mudar quando ela conhece o proprietário da mansão, Rochester (William Hurt), um homem amargurado e com um senso de humor bastante próprio. Como duas pessoas que foram maltratadas pela vida, os dois logo se aproximam. Ele, porém, esconde um segredo.

Dando ênfase às complexidades dos personagens, Jane Eyre abre pouco espaço para elementos que vão além do romance principal e confere um ritmo mais acelerado à produção. Um dos personagens que sai mais “prejudicado” nesta mudança é St. John Rivers (Samuel West), que passa a ter um papel muito mais funcional. Ao mesmo tempo, Rochester se torna bem mais interessante e compreensível (e menos assustador), o que também torna o relacionamento com Jane mais crível.

Tudo isso é acompanhado do clima cinzento esperado em qualquer adaptação desta história gótica, passada em plena Inglaterra vitoriana. Jane Eyre não foi feito para ser glamouroso: a mocinha é sem sal e se veste apenas de preto; e o mocinho não faz qualquer esforço para a salvar do que quer que seja (pelo contrário, é ele quem busca por redenção). Até mesmo a potencial rival (Elle Macpherson) não é lá grande coisa.

Mas, então, o que faz com que essa trama seja considerada um clássico da literatura, com direito a várias adaptações para o cinema (a mais recente, lançada em 2011)? Eu me arriscaria a dizer que é justamente a sensação de mistério que permeia a história, acompanhada pela possibilidade de que tudo dará errado antes de poder dar certo ao final. Além disso, ainda que não sejam particularmente únicos, estes personagens funcionam muito bem no contexto e permitem que os atores possam explorar nuances nas interpretações.

Enquanto filme, Jane Eyre não é particularmente inovador e nem toma para si a responsabilidade de ser “a grande adaptação” desta obra. O longa-metragem é fiel ao cenário, ao período e à trama principal, explorando com cuidado o triste amadurecimento de uma menina cheia de vida, que se transforma em uma mulher consciente de suas responsabilidades e de seu papel na sociedade, mas que quase se perde ao encontrar a possibilidade de voltar a crescer livremente.

Outras divagações:
Jane Eyre (2011)

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