Divagações: Before Midnight

Mantendo o distanciamento de nove anos em relação ao filme anterior, Before Midnight chegou com a promessa de que iria encerrar as incursõe...

Before Midnight
Mantendo o distanciamento de nove anos em relação ao filme anterior, Before Midnight chegou com a promessa de que iria encerrar as incursões de seus personagens pelo cinema. Aliás, se você não viu os filmes anteriores, mas ainda gostaria de ver, eu recomendo não ler este texto, para não estragar as surpresas.

De qualquer modo, o sentimento geral na época do lançamento era de que o filme daria um fim definitivo para o relacionamento entre Jesse (Ethan Hawke) e Céline (Julie Delpy). Mas já adianto que as coisas não são bem assim: como acontece nos longas-metragens anteriores, esta produção segue valorizando finais abertos e incertos, deixando um bocado para a imaginação. Talvez eles estejam caminhando para o fim, talvez não.

Para completar, há muitas diferenças em relação aos filmes que o antecederam. Before Midnight não traz um encontro ou reencontro, mas explora um relacionamento em andamento. Encontramos o casal em uma casa de veraneio na Grécia, acompanhados por suas duas filhas e por outros casais – um de pessoas mais velhas, um mais novo e um mais ou menos da mesma faixa etária. Enquanto Jesse parece estar em seu elemento – ainda que nunca totalmente –, Céline traz sinais de crescente insegurança e medo. As coisas não caminharam da forma como ela gostaria e, na verdade, efetivamente saíram de seu controle.

Além disso, há várias coisas não ditas no ar, ao contrário da verborragia dos longas-metragens anteriores. Desta vez, a sinceridade entre os protagonistas não deriva de um sentimento de descompromisso frente ao desconhecido ou de uma coragem motivada pelo reencontro, mas de uma relação já estabelecida e segura, onde não há muitos segredos para começo de conversa. Também não há a necessidade de conhecer melhor o outro, o que acaba motivando uma exposição ainda maior, principalmente para Céline (o que ocorre de forma literal e figurada).

Assim, o que era para ser uma noite especial em um hotel próximo, longe das crianças e dos demais casais, acaba se transformando em uma longa discussão. As relações familiares, as responsabilidades, as ambições, os sucessos e fracassos: tudo entra em uma longa conversa-desabafo, onde ambos demonstram que não estão totalmente felizes. Ou seja, este é um filme muito mais pé no chão, que coloca os personagens frente ao dia a dia de um relacionamento e não em um cenário repleto de expectativas.

Before Midnight, então, deixa de lado o tom esperançoso e romântico dos demais filmes e coloca seus personagens em um drama comum, mas nem por isso menos interessante. O filme continua gerando empatia, justamente por aproximar os personagens de situações facilmente identificáveis. Para ela, o caminho dele parece ser mais fácil, com boa parte sendo construída a suas custas. Para ele, algumas das dificuldades dela são parcialmente invisíveis, mas o mesmo acontece com suas próprias ações para minimizá-las. Eles se gostam, mas não conseguem evitar atritos, especialmente quando o mundo dos dois se entrelaça com outras pessoas, como pais, filhos e, principalmente, a ex-esposa de Jesse.

Ainda que eu goste da perspectiva deixada ao final do filme anterior, não acredito que Before Midnight pudesse ser muito diferente disso. O filme se mantém fiel a seus personagens e a sua essência de diálogos realísticos. Além disso, todos os casais enfrentam momentos difíceis e crises, com sensibilidades sendo trazidas à tona. Ou seja, ainda que o sentimento geral seja diferente, este filme tem uma beleza própria, sendo cruamente humano.

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