Divagações: Luca

Logo nos primeiros minutos de Luca , é impossível não pensar: então, é como The Little Mermaid , mas vai se passar na Itália? A resposta, fe...

Luca
Logo nos primeiros minutos de Luca, é impossível não pensar: então, é como The Little Mermaid, mas vai se passar na Itália? A resposta, felizmente, é não para a primeira parte e sim para a segunda (embora o filme possa merecer um “talvez” para a metade inicial da questão). A verdade é que, assim como tantos outros, este é um longa-metragem sobre a falta de comunicação entre pais e filhos, os conflitos que surgem disso e a vontade dos indivíduos de serem eles mesmos; tudo salpicado com uma bela amizade.

Mas vamos voltar para o princípio. A história acompanha Luca Paguro (Jacob Tremblay), um menino que, na verdade, é uma espécie de monstro marinho (mesmo!). Embora ele se pareça com um humano quando está na superfície, basta ele se molhar para que sua pele seja trocada por escamas, com direito ao surgimento de membranas entre os dedos e algumas barbatanas, além de guelras e até mesmo um rabo. Não que ele saiba exatamente como isso funciona, já que é um bom menino e, sob as ordens rigorosas de sua mãe, Daniela (Maya Rudolph), jamais visitou a superfície ou teve qualquer contato com humanos.

As coisas estão prestes a mudar, contudo, quando ele cruza com Alberto Scorfano (Jack Dylan Grazer), um menino-monstro marinho que vive em uma ilha próxima e que adora colecionar estranhos objetos humanos. Juntos, os dois vão se tornando amigos e dividem um sonho em comum: ter uma vespa (não o animal, obviamente, mas aquela motinho italiana super charmosa) para sair por aí desafiando distâncias – e até mesmo a lei da gravidade.

Entretanto, quando os pais de Luca se posicionam contra a amizade e ameaçam mandá-lo para as profundezas do oceano, os dois decidem fugir para uma cidade próxima. Lá, eles encontram abrigo na casa de uma menina cheia de energia, Giulia Marcovaldo (Emma Berman), que tem como grande ambição ganhar a Portorosso Cup, uma competição que envolve ciclismo, natação e comilança de massas. Os dois acabam se envolvendo na disputa ao mesmo tempo em que precisam descobrir como evitar tanto os terríveis caçadores de monstros marinhos quanto os pais de Luca.

Assim, a trama é bastante simples e, digamos assim, “universalizável”. Há quem tenha enxergado uma alegoria LGBT+ na produção, embora o diretor Enrico Casarosa tenha negado esta intenção. De acordo com ele, o filme é baseado em grandes amizades e em suas próprias lembranças da infância na Itália. Por mais que isso justifique os cenários, as caracterizações e diversos detalhes da história, Luca é uma produção que poderia se passar em muitos lugares, explorando circunstâncias diversas. Querer sair da sombra dos pais, discordar da autoridade imediata, buscar por liberdade e sentir a necessidade de descobrir quem você realmente é, afinal de contas, são temas pra lá de comuns.

Para completar, ao mesmo tempo em que o protagonista é esse menino sensível e um tanto quanto perdido, seus amigos também são pessoas que, no fundo, você conhece. Alberto é o companheiro para todos os momentos, aquela pessoa que fará de tudo para defender os amigos e ficar ao lado deles; ao mesmo tempo, ele também tem suas questões e esconde uma dose de tristeza por trás de toda a sua imensa alegria de viver. Já Giulia é uma pessoa que busca seus próprios objetivos, é imensamente determinada e vai ajudar quem está por perto com a mesma devoção – mas é um pouco difícil efetivamente se aproximar e lidar com toda essa energia.

E tudo isso é acompanhado pela clássica magia da Pixar. Por mais que, sem um conceito particularmente inventivo, Luca não pareça destinado a entrar para o hall de grandes filmes do estúdio, a produção foi realizada com uma imensa dose de carinho. Além de ter sido construído a partir das memórias do diretor, o longa-metragem tem uma animação caprichada e equilibra de uma maneira bastante interessante as paletas de cores de seus dois mundos. Além disso, o filme explora a inocência infantil e sua busca por liberdade de uma forma bastante cuidadosa e respeitosa.

E, bom, quem não quer passear pela Itália dirigindo uma vespa?

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