Divagações: The General's Daughter

O ano era 1999. A carreira de John Travolta já havia sido ressuscitada por Pulp Fiction e estava relativamente estabilizada, mas ele não t...

The General's Daughter
O ano era 1999. A carreira de John Travolta já havia sido ressuscitada por Pulp Fiction e estava relativamente estabilizada, mas ele não tinha exatamente o perfil então exigido para um ator de ação. Em The General's Daughter, por exemplo, Travolta encara algumas cenas mais físicas, mas o foco não é exatamente esse. Ao dar certo ar de deboche a um personagem sério – um investigador infiltrado no exército –, ele dá um tom inusitado a um filme e garante que ele não se afunde dentro de seus próprios temas, que são bastante sombrios.

A princípio, Paul Brenner (John Travolta) está infiltrado em um campo de treinamentos, investigando um traficante de armas. Quando as coisas dão errado, ele logo descobre que tem uma nova missão: descobrir quem é o assassino da capitã Elisabeth Campbell (Leslie Stefanson), a jovem, inteligente e bela filha do general (James Cromwell), que ele mesmo havia conhecido alguns dias antes. Para ajudá-lo na nova missão foi escalada uma especialista em investigação de estupros, Sara Sunhill (Madeleine Stowe), que, por acaso, também é sua ex-namorada (na falta de um termo melhor).

Alguns aspectos dificultam a obtenção de informações, como a burocracia e extrema rigidez do exército, o passado conturbado da vítima e o fato de que todos parecem saber um pouco mais do que estão informando, com destaque para um dos melhores amigos da capitã, o coronel Robert Moore (James Woods). Ainda assim, aos poucos, as peças começam a se encaixar e revelam algo muito maior do que aquilo que os investigadores inicialmente imaginaram.

Visto pelos olhos de hoje, The General's Daughter traz à tona muitos temas interessantes, como as dificuldades vividas pelas mulheres no exército, a forma como estupros são encarados pelas instituições, a maneira cruel com que muitas mulheres vítimas de violência são caladas, entre outros. Ainda que o enfoque seja controverso, a forma como isso foi trabalhado na trama é digna de nota.

Outro ponto interessante é a dinâmica entre os dois investigadores. Eles se espezinham com frequência e parecem alternar entre gostar ou não um do outro, mas eles funcionam muito bem profissionalmente. Em mais de uma sequência, o comentário de um acaba posteriormente ajudando o outro a chegar a novas conclusões, o que torna enriquece a dinâmica.

The General's Daughter também ganha alguns pontos ao criar uma história que apresenta aspectos podres e corruptos do exército norte-americano, uma instituição que costuma ser tratada com muita reverência na mídia. Considerando a lógica cautelosa de Hollywood, essa seria uma aposta arriscada, mas o filme se baseia em uma série de livros bem-sucedida, escrita por Nelson DeMille – ainda assim, as continuações nunca foram filmadas.

Construído como um suspense escuro e perturbador, o filme consegue prender o espectador em seu mistério até o momento final, pois vai desvendando mais e mais camadas. Aos poucos, ele abandona o clima de gato-e-rato criado entre os investigadores e se aprofunda no crime em si, em uma resolução que não é exatamente óbvia, mas também não é impossível de pescar.

Com direção de Simon West, que na época comandava apenas sua segunda produção, The General's Daughter é respeitoso com o tema trabalhado e com o sofrimento da vítima (o que, ao menos a meu ver, inclui a forma horrível como certas cenas são retratadas).

Outras divagações:

The Expendables 2
Stolen

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