Divagações: Hebe: A Estrela do Brasil

A carreira de Hebe Camargo foi longa, produtiva, cheia de altos e baixos e, sem dúvida, capaz de preencher muitos e muitos filmes. Sincera...

Hebe: A Estrela do Brasil
A carreira de Hebe Camargo foi longa, produtiva, cheia de altos e baixos e, sem dúvida, capaz de preencher muitos e muitos filmes. Sinceramente, só uma coleção de momentos da amizade dela com Nair Bello e Lolita Rodrigues já me divertiria por um bom tempo!

Ainda assim, eu me encontro em uma faixa etária “curiosa” enquanto espectadora de Hebe: A Estrela do Brasil. Tenho idade suficiente para lembrar bem de Hebe e seu programa (e, na faculdade, li sobre seu papel nos primórdios da televisão brasileira), mas não consigo vincular a senhorinha espalhafatosa e carinhosa que eu assistia com a mulher cheia de caprichos e opiniões polêmicas deste filme. É como se eu estivesse vendo a história de uma outra pessoa.

Passado nos anos 1980, o longa-metragem traz um período de transição na carreira de Hebe Camargo (Andrea Beltrão) e na política brasileira. Enquanto a apresentadora vivia uma crise com a Band e iniciava sua trajetória no SBT, o país vivia o fim da ditadura militar – e as duas histórias se cruzam, obviamente. Quando Hebe resolve levar questões polêmicas para a TV, fazendo convites para a transexual Roberta Close (Renata Bastos) ou chamando publicamente a atenção de deputados, por exemplo, ela descobre que sua liberdade de expressão não está exatamente assegurada.

De maneira geral, Hebe: A Estrela do Brasil é muito bom em colocar os acontecimentos pessoais da protagonista em um contexto mais amplo. O roteiro de Carolina Kotscho traz o casamento problemático com Lélio Ravagnani (Marco Ricca) e o relacionamento carinhoso com o filho, Marcello Camargo Capuano (Caio Horowicz), por exemplo, mas também a chegada da epidemia de Aids ao Brasil e o falecimento de um de seus melhores amigos, o cabeleireiro Carlucho (Ivo Müller).

Aliás, outra boa decisão foi o elenco. Sem se apegar muito às aparências, o diretor Maurício Farias preferiu confiar em seus atores e na caracterização dos personagens em vez de exigir uma verossimilhança detalhada. Para quem, como eu, tem a imagem de várias daquelas pessoas muito clara na memória, isso quebra um pouco o vínculo com o filme; mas, ao mesmo tempo, a qualidade não fica comprometida pela necessidade de uso de sósias. Felipe Rocha, por exemplo, encarna Roberto Carlos com um trabalho muito bom de voz e postura corporal.

A única questão é que, em meio a tantos acontecimentos, tanta coisa acontecimento na carreira, na política nacional e no mundo, a vida pessoal de Hebe acaba ficando sem muita explicação. O casamento, o filho e até o ex-marido (Gabriel Braga Nunes) estão devidamente retratados e possuem um bom tempo de tela, mas o vínculo emocional entre eles e a protagonista fica bastante indefinido.

Hebe: A Estrela do Brasil tem um recorte ótimo no tempo, abordando um período interessante da vida desta mulher, uma opção que é muito melhor para um filme que a terrível ambição de contar toda uma vida em duas horas. Ainda assim, em sua vontade de trazer o melhor retrato possível deste momento, algumas pontas relevantes ficaram soltas. Há coisas que eu, pessoalmente, gostaria de ter visto melhor – em especial, como mencionei lá no começo, Nair Bello (Cláudia Missura) e Lolita Rodrigues (Karine Teles) – mas não é como se eu pudesse reclamar. O filme tem um belo brilho (e não me refiro só às joias, que são reais e caríssimas).

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