Minha impressão inicial de Nocturnal Animals é que se tratava de um filme que dependia muito da música para fazer com que as cenas tivessem o efeito desejado. Normalmente, eu encaro isso como um sinal de cautela, pois é frequente que a trilha sonora seja usada para “salvar” sequências onde o roteiro ou a atuação, por exemplo, deixam a desejar. Mas não acho que esse seja o caso.
A verdade é que se trata de uma produção muito calculada. Não só a música, como também a iluminação, o figurino e o uso geral de cores são pensados para alimentar a sensação de angústia e mistério, para amplificar mudanças nos personagens e para garantir que a atenção (ou a tensão) do público esteja direcionada para o lugar correto. Ou seja, o diretor e roteirista Tom Ford está usando ao máximo todas as ferramentas disponíveis para contar a sua história e para provocar as emoções desejadas.
Sob certos aspectos, Nocturnal Animals está contando duas histórias. Uma delas envolve Susan Morrow (Amy Adams) e sua solitária relação com todos que a cercam, seja o marido (Armie Hammer), a filha (Bobbi Salvör Menuez), a mãe (Laura Linney) ou qualquer colega em sua requintada galeria de arte. Ela parece se tornar mais consciente de seu distanciamento do mundo ao receber um livro escrito por seu ex-marido (Jake Gyllenhaal), especialmente à medida que a tragédia das páginas encontra paralelos emocionais em sua própria vida.
A segunda história é justamente a presente no tal livro, que é vista sob o prisma de Susan. Na trama, um homem (Gyllenhaal, novamente), sua esposa (Isla Fisher, com sua semelhança física com Adams ressaltada) e sua filha (Ellie Bamber) são vítimas de um crime terrível. No processo de investigação, o policial responsável (Michael Shannon) acaba desiludido com o sistema judicial e alimenta um plano de vingança contra os responsáveis (Aaron Taylor-Johnson, Karl Glusman e Robert Aramayo).
Com isso, Nocturnal Animals mistura cenas bastantes violentas e fortes, vindas do livro, com um suspense psicológico mais sutil, ainda que retratado com cores fortes e músicas pujantes. Os paralelos vão sendo trazidos por meio de flashbacks da vida de Susan, onde ela evidencia os erros que cometeu ao longo da vida, fazendo com que ela se tornasse uma pessoa que ela mesma desprezaria em sua juventude.
Não à toa, há uma série de teorias disponíveis sobre os significados de algumas sequências e sobre qual seria a mensagem do final. Eu, pessoalmente, gosto de que exista um mistério com diversas possibilidades, de modo que não busco por uma resposta única – mas, se você se sentir inseguro por achar que não entendeu algo em sua completude, deve existir um vídeo no YouTube capaz de tranquilizar essa sensação.
De qualquer modo, acho que está clara a existência de correlações entre as duas histórias vistas em Nocturnal Animals. Além de Susan ter “escalado” o ex-marido como protagonista do livro em sua imaginação, fica evidente que uma de suas maiores críticas ao trabalho prévio dele como escritor era o fato de ele estar muito presente em suas obras. Assim, embora a narrativa não corresponda aos fatos literais, há ecos emocionais.
O detalhe é que, embora tenha uma carga tão pesada, Nocturnal Animals é tão estilizado e tão cuidadoso com cada peça, com cada detalhe, que ele se descola da realidade. Quando o filme acaba e as luzes se acendem, a impressão que fica é de que ele é muito bom tecnicamente e que, provavelmente, é o favorito de alguém. Mas – exceto para quem foi diretamente afetado por algum gatilho – ele segue soando tão exagerado quanto a música de suspense que acompanha uma mulher rica andando por uma casa vazia.
Outras divagações:
A Single Man
A verdade é que se trata de uma produção muito calculada. Não só a música, como também a iluminação, o figurino e o uso geral de cores são pensados para alimentar a sensação de angústia e mistério, para amplificar mudanças nos personagens e para garantir que a atenção (ou a tensão) do público esteja direcionada para o lugar correto. Ou seja, o diretor e roteirista Tom Ford está usando ao máximo todas as ferramentas disponíveis para contar a sua história e para provocar as emoções desejadas.
Sob certos aspectos, Nocturnal Animals está contando duas histórias. Uma delas envolve Susan Morrow (Amy Adams) e sua solitária relação com todos que a cercam, seja o marido (Armie Hammer), a filha (Bobbi Salvör Menuez), a mãe (Laura Linney) ou qualquer colega em sua requintada galeria de arte. Ela parece se tornar mais consciente de seu distanciamento do mundo ao receber um livro escrito por seu ex-marido (Jake Gyllenhaal), especialmente à medida que a tragédia das páginas encontra paralelos emocionais em sua própria vida.
A segunda história é justamente a presente no tal livro, que é vista sob o prisma de Susan. Na trama, um homem (Gyllenhaal, novamente), sua esposa (Isla Fisher, com sua semelhança física com Adams ressaltada) e sua filha (Ellie Bamber) são vítimas de um crime terrível. No processo de investigação, o policial responsável (Michael Shannon) acaba desiludido com o sistema judicial e alimenta um plano de vingança contra os responsáveis (Aaron Taylor-Johnson, Karl Glusman e Robert Aramayo).
Com isso, Nocturnal Animals mistura cenas bastantes violentas e fortes, vindas do livro, com um suspense psicológico mais sutil, ainda que retratado com cores fortes e músicas pujantes. Os paralelos vão sendo trazidos por meio de flashbacks da vida de Susan, onde ela evidencia os erros que cometeu ao longo da vida, fazendo com que ela se tornasse uma pessoa que ela mesma desprezaria em sua juventude.
Não à toa, há uma série de teorias disponíveis sobre os significados de algumas sequências e sobre qual seria a mensagem do final. Eu, pessoalmente, gosto de que exista um mistério com diversas possibilidades, de modo que não busco por uma resposta única – mas, se você se sentir inseguro por achar que não entendeu algo em sua completude, deve existir um vídeo no YouTube capaz de tranquilizar essa sensação.
De qualquer modo, acho que está clara a existência de correlações entre as duas histórias vistas em Nocturnal Animals. Além de Susan ter “escalado” o ex-marido como protagonista do livro em sua imaginação, fica evidente que uma de suas maiores críticas ao trabalho prévio dele como escritor era o fato de ele estar muito presente em suas obras. Assim, embora a narrativa não corresponda aos fatos literais, há ecos emocionais.
O detalhe é que, embora tenha uma carga tão pesada, Nocturnal Animals é tão estilizado e tão cuidadoso com cada peça, com cada detalhe, que ele se descola da realidade. Quando o filme acaba e as luzes se acendem, a impressão que fica é de que ele é muito bom tecnicamente e que, provavelmente, é o favorito de alguém. Mas – exceto para quem foi diretamente afetado por algum gatilho – ele segue soando tão exagerado quanto a música de suspense que acompanha uma mulher rica andando por uma casa vazia.
Outras divagações:
A Single Man

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