Divagações: Love and Other Drugs

Tenho que admitir que, quando Love and Other Drugs começou, meu primeiro pensamento foi: “Meu deus, já estão fazendo filmes sobre os anos 1...

Tenho que admitir que, quando Love and Other Drugs começou, meu primeiro pensamento foi: “Meu deus, já estão fazendo filmes sobre os anos 1990. Envelheci sem perceber!”. É realmente chocante notar que coisas que parecem ter sido moda há alguns punhados de meses já têm mais de 10 anos nas costas. O tempo voa, não é mesmo?

Tirando o susto inicial por ver o anacronismo de coisas como pagers, celulares imensos e camisas xadrez sendo usadas por todos os personagens é fácil perceber que o filme não irá apresentar grandes surpresas de roteiro, afinal, acho complicado inovar quando se trata de comedias românticas. O gênero sempre trata essencialmente das mesmas coisas, usando dos mesmos clichês. Apesar de ter que admitir que o ambiente da glamorosa indústria farmacêutica dos anos 1990 se mostra bastante interessante e fresco – e pivô de algumas das boas situações e cenas da trama.

Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) é o típico bonitão, conquistador e cheio de lábia, que compensa a ausência de escrúpulos com o excesso de libido. Depois da demissão de seu antigo emprego, ele passa a trabalhar para a empresa farmacêutica Pfizer (que a essas alturas ainda não tinha criado o seu maior trunfo, a famosa pílula azul) como representante de vendas. Nesse ambiente, ele conhece Maggie Murdock (Anne Hathaway) praticamente por acidente. Ela é uma garota doente (mas não tão doente), de personalidade forte e independente que ergue uma barreira emocional capaz de a isolar de qualquer tipo de comprometimento. O relacionamento dos dois, inicialmente apenas sexo casual e intenso, logo se aprofunda, o que gera todo tipo de complicação entre o casal.

Deste ponto em diante, o filme começa a perder um pouco do tom de comédia e passa a se focar no romance entre Jamie e Maggie, com direito a todas as discussões que já vimos diversas vezes em outros filmes: os muros afetivos, o medo de se comprometer, o medo de ser um fardo, as decepções e expectativas não realizadas. Tudo isso é revisitado por Love and Other Drugs, causando um sentimento de déjà vu constante nos expectadores. Até mesmo o irmão nerd de Jamie, Josh (Josh Gad), que deveria ser o alívio cômico, faz pouco para quebrar a tensão. Enfim, do meio para o final é quase inevitável a transformação do filme em um melodrama um pouco exagerado, com um desfecho típico de um romance hollywoodiano (o que não é tão ruim, apesar de tudo).

Mesmo que seja forçado a dizer que os personagens não são assim tão interessantes, não posso deixar de admitir que há uma ótima química entre o par romântico. Somando isso a algumas boas atuações do elenco, a previsibilidade do enredo é compensada com bastante folga. E, como já havia dito, acredito que a competente ambientação ajuda a mascarar alguns dos clichês mais óbvios e tornar o percurso dos personagens um pouco mais interessante.

Além disso, a nudez e o sexo também são constantes em Love and Other Drugs. Afinal, o que mais se pode esperar de um filme sobre a meteórica ascensão do Viagra? No entanto, isso de modo algum isso rebaixa o filme a escatologia ou nos faz pensar que ele é apelativo. Foi um mérito da direção de Edward Zwick retratar a história com a seriedade (e por algumas vezes com a sensibilidade) devida. Mesmo com os seios da Anne Hathaway (e de várias outras menos famosas) aparecendo a cada dez ou quinze minutos.

Assim, mesmo com a inconstância temática do roteiro, que pula do humor para o romance e depois para um drama aguado, Love and Other Drugs é satisfatório e interessante. É o típico filme que fica no meio do caminho, sem conseguir ser hilário ou emocionante, mas mesmo assim consegue agradar ao seu público e arrancar algumas reflexões interessantes sobre a vida, o romance a indústria médica. Os atores são jovens e competentes e, sem dúvida, fazem o filme ser bem melhor do que poderia se esperar ao se ver o trailer ou o pôster. Basicamente, é uma grata surpresa e uma história interessante para ver a dois e se divertir um pouco. Assista sem medo, afinal, a mistura pode ter ficado insossa, mas ficou longe de estar indigesta.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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1 recados

  1. Gosto bastante dos dois atores principais e acho que já seria o suficente para assistir o Love and Other Drugs; maz tenho ficado um pouco chateadinho com todas as resenhas que leio =C

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