Divagações: Brief Encounter

A primeira coisa que me atraiu para Brief Encounter foi o fato do catalizador da história ser um encontro acontecido em uma estação de trem...

A primeira coisa que me atraiu para Brief Encounter foi o fato do catalizador da história ser um encontro acontecido em uma estação de trem. Quem acompanha o blog já deve saber que eu realmente adoro trens em filmes, então assistir esse filme seria uma questão de tempo para mim. Bastou surgir uma companhia interessada e lá fui eu!

A princípio, o filme estranha um pouco. O elenco não é cheio de beldades e a história parece caminhar para algo sem sal e é isso mesmo. Não é surpreendente?

Laura Jesson (Celia Johnson) é uma mulher casada que chega em casa bastante perturbada com um segredo que não sabe a quem confiar. Ela confia apenas em seus próprios pensamentos e, por sorte, podemos ouvi-los. Ela gosta muito de seu marido e ama seus filhos, mas um charmoso médico chamado Alec Harvey (Trevor Howard) abala suas estruturas. Eles começam a se encontrar todas as semanas inocentemente, mas com o tempo a relação vai evoluindo.

O grande charme da história é contar algo que poderia acontecer com qualquer mulher. Laura não tem grandes problemas no relacionamento e não sente a necessidade de ter um amante, por exemplo. Aliás, ela abomina esse tipo de comportamento. Mesmo assim, ela acaba se envolvendo demais com um homem que poderia ser simplesmente ser uma companhia agradável para um almoço, um cinema ou um chá. Ou qualquer outra coisa, já que ela é uma mulher bastante inocente e ele não passa de um estranho.

Esse é o tipo de história simples que marcou o cinema “de antigamente” e que praticamente não encontramos mais nos filmes “de hoje em dia”. A personagem principal abre seu coração somente para o público e conta sua história a partir de seu próprio ponto de vista – às vezes mais centrado em “o que os outros vão pensar” do que em “quem irei magoar”. Talvez sua agonia possa parecer simplória demais, mas trata-se de uma mulher que realmente é demasiado ingênua. Não deveria ser realmente difícil que, em 1946, uma dona de casa que vai às compras se apaixone por um médico idealista e delicado que seja agradável com ela. Na verdade, isso é algo perfeitamente possível até hoje. Isso se ainda existirem médicos que se aproximem das pessoas normais, mas isso é outra das minhas cismas pessoais (médicos, não se ofendam, apenas preciso conhecer um de vocês que seja legal).

E o trem? Nesse sentido, minhas expectativas foram satisfeitas. O filme gira em torno dos horários dos trens e do movimento ao redor da estação, inclusive com os guardas e a dona de um café. Os ônibus nunca conseguiram atingir todo esse charme e esse romantismo.

Brief Encounter é, com o perdão da palavra, um filme breve. Feito no Reino Unido enquanto o cinema americano estava no auge, ele traz uma alternativa interessante para quem quer ver rostos e narrativas diferentes nos filmes da época. Além disso, ele é dirigido por David Lean, o que por si só faz com que ele já mereça uma conferida. Mesmo que tudo pareça determinado desde o começo, o filme não chega a cansar. É uma história contada na medida certa. Mesmo que pareça um romance pouco destinado a encantar, ele cumpre sua missão com louvor.

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