Divagações: Remember the Titans

Acho que o erro mais comum quando se trata desse filme é associá-lo com mitologia. Apesar de contar com muitas personalidades fortes e histó...

Acho que o erro mais comum quando se trata desse filme é associá-lo com mitologia. Apesar de contar com muitas personalidades fortes e histórias emocionantes, não há criaturas fantásticas em Remember the Titans. O filme conta a história de um time de futebol americano. Ou quase isso.

Na verdade, é preciso explicar melhor o contexto. No início da década de 1970, os Estados Unidos estavam criando políticas para diminuir o preconceito racial e a principal – e mais chocante – foi o fim da segregação nas escolas. O detalhe é que, ao juntar instituições, muitos profissionais acabaram desempregados e foi feita uma dança das cadeiras com alguns cargos, inclusive os de técnicos. Assim, o renomado treinador Bill Yoast (Will Patton) acabou perdendo seu posto de prestígio para um técnico negro chamado Herman Boone (Denzel Washington) que, por sua vez, já havia dado seu lugar para outro profissional em sua cidade de origem. Para piorar, Yoast descobre que o emprego do novo treinador está por um fio – ele simplesmente não pode perder um jogo que seja.

Além dessa mudança de comando, o adorado time da escola local também é abalado com a entrada dos jogadores negros, pois, com a unificação, os dois “lados” acabam disputando as principais posições. Para tentar unir o time, o novo técnico organiza um acampamento de treinamento intensivo onde eles serão obrigados a interagir. Nesse período, dois jovens talentos da equipe acabam desenvolvendo uma grande amizade, Gerry Bertier (Ryan Hurst) e Julius Campbell (Wood Harris). O detalhe é enfrentar o mundo real após as experiências do acampamento.

Baseado em fatos reais, Remember the Titans é comovente e emocionante. O filme, no entanto, não consegue deixar de idealizar um pouco o personagem de Denzel Washington. Ainda assim, Will Patton consegue manter um bom equilíbrio, com os dois técnicos aprendendo mutuamente.

O alívio cômico fica por conta das filhas dos personagens. Sheryl Yoast (Hayden Panettiere) é apaixonada por futebol americano e sabe mais sobre o esporte que muitos marmanjos. Já Nicky Boone (Krysten Leigh Jones) é um exemplo de feminilidade, delicadeza e vaidade. Como todas as duplas nesse filme, as duas se opõem e se complementam.

Essa tentativa de sempre colocar os elementos na balança é um dos maiores méritos do roteirista Gregory Allen Howard e do diretor Boaz Yakin. Em Remember the Titans ninguém é inteiramente bom ou mal (pelo menos entre os personagens principais), sendo que sempre é possível aprender e superar preconceitos. O tema, aliás, é tratado com muito cuidado, principalmente através do personagem Ronnie 'Sunshine' Bass (Kip Pardue) que, mesmo sendo branco, sofre rejeição na comunidade.

Assim, o filme conta a sua história com competência e deixa claro que ainda há muito a ser desenvolvido quando se trata da questão racial. Por isso, coloco abaixo a fala de uma das cenas mais lembradas de Remember the Titans, quando Herman Boone leva todo seu time para o memorial da batalha de Gettysburg.

This is where they fought the battle of Gettysburg. Fifty thousand men died right here on this field, fighting the same fight that we are still fighting among ourselves today. This green field right here, painted red, bubblin' with the blood of young boys. Smoke and hot lead pouring right through their bodies. Listen to their souls, men. I killed my brother with malice in my heart. Hatred destroyed my family. You listen, and you take a lesson from the dead. If we don't come together right now on this hallowed ground, we too will be destroyed, just like they were. I don't care if you like each other of not, but you will respect each other. And maybe... I don't know, maybe we'll learn to play this game like men.

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