Divagações: The Smurfs

E aí, tudo azul? Faz três décadas que os smurfs estrearam na televisão americana. Foram nove temporadas, 427 episódios, até o encerramento ...

E aí, tudo azul?

Faz três décadas que os smurfs estrearam na televisão americana. Foram nove temporadas, 427 episódios, até o encerramento da série, em 1990. Fim da exibição, não do culto. Nos últimos vinte anos, eles continuaram presentes em memória, nas conversas nostálgicas dos recém-adultos, ao lado de He-Man, Dungeons & Dragons, Gummi Bears e tantos outros clássicos. Agora, com a chegada das criaturinhas azuis ao cinema em The Smurfs, a criançada vai ter a oportunidade de entender um pouco a conversa dos primos maiores.

Faço apenas dois alertas aos barbados que cultuam o desenho alla Hanna-Barbera, estúdio que hoje é símbolo cult em detrimento (ou por causa) das técnicas toscas. Primeiro: os smurfs deixaram os anos oitenta para trás e, acompanhando a evolução tecnológica, retornam em versão 3D. Mas nada de pânico, eles ficaram tão bonitinhos quanto no desenho original. Segundo: este é um filme para criancinhas. Pelo extremo didatismo com que a história é conduzida, o público ideal deve ter até oito anos de idade. Interessante, pois vai contra a corrente das animações mais recentes, como Ratatouille, Up e Toy Story 3, que reservam algumas risadas e lágrimas para os mais velhos.

Para quem não está familiarizado com o desenho, basta saber que os smurfs vivem em um mundo mágico no meio da floresta. O único que se veste de vermelho é o Papa (Jonathan Winters). Os demais, que trajam branco, são seus filhos. Cada um tem uma característica e é nomeado de acordo com ela: Farmer, Baker, Crazy etc. A exceção é Smurfette (Katy Perry), única garota da vila, que foi criada pelo feiticeiro Gargamel (Hank Azaria) e só depois convertida à irmandade azul.

No filme de Raja Gosnell, seis smurfs são acidentalmente transportados para Nova York. Eles precisam sobreviver a Gargamel e seu gato Azrael (Mr. Krinkle e voz de Frank Welker), que os perseguem para obter a poderosa Essência Smurf e ainda descobrir um modo de voltar para a terra natal deles. Entre tropeços e confusões – a maioria causada por Clumsy (Anton Yelchin), claro –, eles conhecem o casal Grace (Jayma Mays) e Patrick Winslow (Neil Patrick Harris).

Patrick é um jovem publicitário que vive as incertezas da espera do primeiro filho. Para piorar, ele precisa criar uma campanha de cosméticos para a patroa má (estilo The Devil Wears Prada) em dois dias. Se não o fizer, será demitido.

Pausa dramática.

Caro leitor, peço que releia acima a descrição do problema enfrentado pelo protagonista. Você também achou que tem algo fora do lugar? Veja bem: este é um filme infantil, sem violência, sem piadinhas sacanas, que tem os smurfs cantando e vivendo em cogumelos. Até então tudo coerente. Mas aí eles colocam um conflito totalmente alheio ao universo infantil (e babaca) como este. Enfatizo: a missão do herói do filme é criar uma campanha publicitária que seja um sucesso! Felizmente, algum dos sete roteiristas do filme teve juízo e diminuiu o foco disso a tempo e, no clímax, deu mais atenção à luta dos smurfs contra Gargamel. Vitória das crianças, cenas bonitas, a união faz a força etc etc etc. Tudo volta ao eixo antes que a futilidade triunfe. Ufa!

Em resumo, The Smurfs é um filme simpático, daquele tipo que faz a lição de casa direitinho. E isso é até um grande feito se considerarmos que a proposta foi concebida sobre uma corda bamba. Poderia ter caído no erro fácil de Dragonball Evolution, que se reinventou tanto a ponto de ficar irreconhecível para os fãs, sem, no entanto, ser bom o suficiente para cativar novos públicos. Por outro lado, poderia ter surpreendido como fizeram filmes supostamente infantis, como A Bug’s Life, Finding Nemo e Toy Story 3, que se baseiam em roteiros inteligentes e trazem conflitos mais intimistas. Poderia, mas ao optar por seguir uma fórmula mais segura, ganhou espaço certo na Sessão da Tarde. E só.

O grande trunfo de The Smurfs não está nas salas de cinema, mas nas lanchonetes da rede Mc Donald’s. Eles são tão fofos que ninguém hesitaria em comprar um Mc Lanche Feliz só para levá-los para casa.


Texto: Suelen Trevizan, l’enfant terrible (ou a criança revoltada)
Edição: Renata Bossle

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1 recados

  1. Eu não sou da época dos Smurfs (sou de 93), portanto não tenho tanta vontade de conferir o filme. Mas, lendo agora a crítica fiquei com vontade de conhecê-los, sei que sairei do cinema "apaixonado", hehehe

    []s

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