Divagações: Rise of the Planet of the Apes

Quando Rise of the Planet of the Apes foi anunciado, não consegui entender exatamente o motivo que levara o estúdio a investir em um reboot...

Quando Rise of the Planet of the Apes foi anunciado, não consegui entender exatamente o motivo que levara o estúdio a investir em um reboot de um filme que anos atrás, na mesma situação, não conseguiu exatamente engrenar. Não nego as boas intenções de Tim Burton em seu Planet of the Apes ao fazer um filme fiel ao livro original, mas o planeta dos macacos com que o nosso imaginário popular trabalha, não é esse e sim o antigo, com Charlton Heston gritando profanidades para a estátua da liberdade.

Mesmo assim, nunca achei que ele precisasse de uma continuação ou de um reboot, então, por quê? Por que fazer um Rise of the Planet of the Apes quando o original já foi praticamente esquecido? A única explicação que consigo encontrar para isso, foi que o roteiro fisgou os executivos pela sua qualidade. E com tantos bons filmes que nunca saíram do papel, esse é um grande mérito, acreditem.

Rise of the Planet of the Apes é uma honesta releitura do filme original. Esqueça o filme de 2001 que se passa em um planeta alienígena, aqui, tudo acontece na Terra – e com uma pegada bem mais realista. O filme começa com a pesquisa do cientista Will Rodman (James Franco), que está desenvolvendo uma droga capaz de curar uma miríade de problemas cerebrais. Ele é motivado pelo lento adoecimento de seu pai, Charles (John Lithgow) devido ao mal de Alzheimer. Essa droga experimental não apenas surte efeitos nos chimpanzés de teste, mas causa um significativo aumento na sua inteligência. Caesar (Andy Serkis, como sempre) é um filhote nascido de uma destas cobaias, que após o cancelamento do projeto, acaba sendo levado para casa por Will e que, progressivamente, começa a mostrar sinais de que não é apenas um símio comum.

Não se deixem enganar por Franco, que tem boa parte do tempo em cena no início do filme, pois este não é um filme sobre os dramas humanos, mas sobre a própria humanidade. Da metade para frente, o chimpanzé de Serkis assume o controle do filme, com seus dramas e pensamentos tomando o holofote de forma bastante sutil. Tudo isso é passado para a tela através da linguagem corporal, gritos e grunhidos, e de uma forma bastante eficiente.

Assim, mesmo fazendo parte da temporada de verão, Rise of the Planet of the Apes, tem um clima bem diferente de um filme de ação ou de ficção científica, se desenrolando de modo mais intimista. Posso até estar exagerando ao falar de dramas existenciais em um filme altamente comercial, mas tenho que admitir que é usado mais tempo em questionamentos sobre a liberdade, a identidade e a humanidade, do que com macacos correndo pelas cidades, algo que certamente é um ponto positivo.

Claro que a computação gráfica está sempre presente, chegando a demorar um pouco para os olhos se acostumarem. Mas ela não atrapalha ou é muito flagrante, apesar de ter faltado um pouco mais de capricho nas cenas de maior ação, que são poucas (mas necessárias para um público que vai ao cinema esperando por um blockbuster). No mais, não há muito do que reclamar. Talvez do ‘núcleo’ humano na trama, que acaba meio de lado, ou até da falta de explicações sobre o ‘vírus’ que melhora geneticamente os macacos, mas provavelmente só estou sendo excessivamente chato em querer boas explicações em uma obra de ficção. Ou talvez esse aspecto seja mais bem trabalhado em uma possível continuação que, querendo ou não admitir, fica pairando no ar em alguns momentos.

Apesar de ter entrado no cinema um pouco cético com o filme, Rise of the Planet of the Apes, não envergonha e entrega até mais do que se poderia esperar dele. Existencialista sem ser chata e sensível sem ser dramática, essa nova versão do planeta dos macacos só trouxe bons frutos. O jeito agora é esperar que quaisquer tentativas de continuar a franquia estejam a altura desse filme.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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