Divagações: Mononoke-hime
25.11.11
Exatos 13 anos depois de Kaze no tani no Naushika, o diretor Hayao Miyazaki lança mais um filme
igualmente marcante e com a mesma temática, a preservação do meio ambiente. Mononoke-hime,
no entanto, mantém a mesma característica de seus sucessores e centra sua
atenção nos personagens e em suas trajetórias pessoais.
A princípio, o filme acompanha Ashitaka (Yôji Matsuda), o príncipe de
uma pequena aldeia. Após defender seus conterrâneos de um demônio da floresta
descontrolado, ele acaba com uma cicatriz amaldiçoada que pode matá-lo, de modo
que ele se obriga a partir em busca da cura. Seu objetivo é chegar em uma
floresta mágica, onde vivem espíritos/animais gigantes que seriam capazes de
livrá-lo de seu tormento (detalhe, a maldição também o transforma em uma pessoa
muito forte e resistente). Entretanto, quando chega em seu destino, Ashitaka
descobre que lá existe também uma aldeia de mineradores, que extraem ferro da
areia. A convivência entre os seres da floresta e os humanos, no entanto, não é
pacífica e a líder local, Eboshi-gozen (Yûko Tanaka), é frequentemente ameçada
por uma garota que vive com os deuses-lobos, chamada San (Yuriko Ishida). Essa
menina também é conhecida como Mononoke-hime, o que significa algo similar a
“princesa dos espíritos”, denotando sua proximidade dos animais mágicos da floresta.
Os conflitos que se seguem tornam clara a complexidade do filme. Mononoke-hime
não foi feito para crianças pequenas. Há muito sangue e mutilações, além de uma
dose razoável de intolerância. A questão entre a vila exploradora e a floresta
protegida por espíritos/animais gigantes ultrapassa barreiras como a ignorância
a respeito do meio ambiente, sendo que há ganância e política. Nem mesmo entre
os protetores da floresta há consenso e é na divisão de forças que moram as
principais fraquezas de ambos os lados.
Justamente por apresentar muitos elementos e tentar trazer diferentes
lados da questão, o filme acaba se tornando um pouco confuso e alguns elementos
– como a pedra amaldiçoada que Ashitaka encontrou no demônio – acabam não sendo
bem explicados. Ainda assim, a história central é bem fechada e suficiente por
si só. Além disso, a princesa de comportamento selvagem, o príncipe amaldiçoado,
a líder poderosa e os espíritos cansados formam um conjunto de personagens
único e inconfundível, representando uma luta onde todos são grandes forças com
muitos méritos e diversos defeitos.
Embora tenho muitos elementos da cultura japonesa, o público ocidental
não deve encontrar muitas dificuldades em entender a história e as motivações
dos personagens. Aliás, eu diria que é inclusive mais fácil compreender os
espíritos da floresta aqui do que em Tonari no Totoro, por exemplo.
Outro grande valor da produção é a excelente qualidade da animação. O
desenho tradicional, feito quadro a quadro, é trabalhoso e exige paciência, cuidado,
grande número de profissionais e muito dinheiro investido (obviamente, a animação
em computador exige um grande investimento inicial, mas as produções
subsequentes se tornam mais baratas). Em Mononoke-hime, os mínimos detalhes
podem ser observados e tudo recebeu um tratamento excepcional. Mesmo aqueles
que não quiserem prestar atenção na história (ou ficarem chocados com a
violência) poderão se maravilhar com a beleza dos cenários e dos “figurinos”.
Enfim, Mononoke-hime traz toda a beleza, poesia e conteúdo das obras
de Hayao Miyazaki. Pena que, para assistir por aqui, só contando com a boa
vontade dos canais de TV a cabo (como eu fiz) ou comprando o DVD importado (quem
puder, aproveite a adaptação dos diálogos realizada por Neil Gaiman).
2 recados
Não é uma pedra amaldiçoada... é a bala do canhão da Eboshi que matou o Javali.
ResponderExcluirAchei que isso tinha sido bem óbvio quando ela disse que matou o bicho
Não tinha pensado nisso, mas faz muito sentido! Só tenha cuidado com os spoilers nos comentários! ;)
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