Divagações: Intouchables

Citando dados da Unifrance, a Califórnia Filmes, distribuidora de Intouchables no Brasil, aponta que o filme já foi assistido por mais d...

Citando dados da Unifrance, a Califórnia Filmes, distribuidora de Intouchables no Brasil, aponta que o filme já foi assistido por mais de 23,1 milhões de pessoas fora da França. Esse número bate o recorde que antes pertencia a Le fabuleux destin d'Amélie Poulain. Sinceramente, já era hora dessa marca ser quebrada e esse filme realmente merece o posto.

Intouchables conta a história de um milionário com ares aristocráticos chamado Philippe (François Cluzet). Paralisado do pescoço para baixo depois de um acidente, ele precisa de cuidados constantes e, para isso, contrata Driss (Omar Sy), um homem que acabou de sair da prisão e, a princípio, só foi fazer a entrevista para conseguir uma assinatura e manter seu seguro desemprego. A relação entre o chefe inválido e o empregado relutante acaba se transformando em uma verdadeira amizade, além de gerar diversas situações cômicas.

Exatamente, você não leu errado. Com um protagonista perfeitamente conformado e adaptado a sua condição, Intouchables se transforma em uma comédia à custa do choque cultural sofrido pelo personagem vindo da periferia e da sua necessidade de se adaptar a convivência com um deficiente. Com seu vocabulário, suas músicas e seu jeito muito particular de tentar seduzir a colega Magalie (Audrey Fleurot), Driss vai, aos poucos, conquistando a todos – inclusive a quem está apenas assistindo ao filme.

Ao longo de quase duas horas de projeção, a trajetória dos dois protagonistas tem seus altos e baixos, de modo que cada um enfrenta seus próprios medos e dilemas até crescer e se tornar uma pessoa melhor. Como tudo é adornado por situações cômicas, a história se torna mais leve e digerível. Vale a pena insistir nesse ponto: esqueça seus preconceitos e o que você já ouviu sobre o humor francês, as cenas desse filme são realmente engraçadas.

Dirigido e escrito por Olivier Nakache e Eric Toledano, em nenhum momento o filme chega a cair para o dramalhão, mesmo que não deixe de tocar em assuntos sérios. Há uma grande sensibilidade inerente a cada drama pessoal retratado e as emoções que elas suscitam são profundas e complexas. Afinal, com uma história baseada em fatos reais, Intouchables não tem personagens simples e fáceis de entender, muito pelo contrário. Quando o filme termina, o expectador sente curiosidade com relação àquelas pessoas. Mesmo que não concorde completamente com algumas das atitudes tomadas, passa a querer bem e a sentir certa simpatia e até afinidade.

Dessa forma, o filme se apoia muito no trabalho de seus atores. Omar Sy, particularmente, acaba se destacando pela maneira sutil como vai mudando seu personagem no decorrer do filme. Ao invés de parecer calculada, sua atuação é fluída, natural e muito sensível. Acredito que poucos atores dariam conta de equilibrar tão bem esse misto de comédia, passado trágico, furtos, honestidade e mudança de perspectivas.

Emocionando ao mesmo tempo em que faz rir, Intouchables recebeu diversos prêmios pelo mundo e já arrecadou nas bilheterias três vezes mais que The Artist, filme francês e belga que venceu a última edição do Oscar. Assim, mesmo tendo estreado antes da ‘temporada’, rumores já colocam o filme na lista de indicados, sites internacionais tentam compreender o novo ‘fenômeno’ e já se fala em uma refilmagem estadunidense. Sinceramente, não é tão difícil assim de entender: é apenas o cinema contando uma história com coração.

RELACIONADOS

0 recados