Divagações: The Killing

Depois de mostrar a que veio em Killer's Kiss , Stanley Kubrick efetivamente se tornou um profissional reconhecido com The Killing ....

Depois de mostrar a que veio em Killer's Kiss, Stanley Kubrick efetivamente se tornou um profissional reconhecido com The Killing. Esse foi o primeiro filme de sua carreira feito de acordo com as regras dos sindicatos e, também, marcou o início de sua parceria com o produtos James B. Harris, que o ajudou a levantar o orçamento necessário.

Baseado no livro de Lionel White, o filme tem roteiro do próprio diretor, que chamou Jim Thompson para ajudá-lo com os diálogos (um dos aspectos mais problemáticos do longa-metragem anterior). A história acompanha o planejamento de um assalto em um jockey club durante a corrida mais importante do ano. A mente por trás do esquema é Johnny Clay (Sterling Hayden), que acabou de sair da prisão após cinco anos em Alcatraz.

Para isso, ele junta um time composto por um policial corrupto, Randy Kennan (Ted de Corsia); um caixa de apostas, George Peatty (Elisha Cook Jr.); um atendente de bar, Mike O'Reilly (Joe Sawyer); e um financiador, Marvin Unger (Jay C. Flippen), além de contratar os serviços de um atirador de elite (Timothy Carey) e de um lutador (Kola Kwariani). Contudo, contar com amadores para um esquema como esses tem suas consequências e a infiel mulher de Peatty, Sherry (Marie Windsor), sabe mais do que deveria.

The Killing é, assim, um filme noir. Mesmo sem o clássico detetive, há diversas características do gênero, como a iluminação bem contrastada no preto e branco, a mulher fatal, os homens misteriosos e perigosos... O importante não é exatamente o roubo em si, mas as tramas, a tensão e as relações entre os personagens (isso sem contar que o final é excelente).

Também não se trata de uma produção convencional, inovando na forma de contar sua história. Na época, a United Artists não aprovou a montagem não linear e Kubrick até fez uma segunda opção – absolutamente confusa. A produção acabou sendo lançada como segundo filme em uma sessão dupla e não arrecadou muito dinheiro, mas estava como o diretor queria e, hoje, é reconhecida por isso. Quentin Tarantino, inclusive, cita essa obra como sendo sua principal referência para Reservoir Dogs.

Além de ter uma história melhor e um orçamento maior que seu antecessor, The Killing é mais maduro tecnicamente. A iluminação já reserva algumas características que se tornariam marcas registradas do diretor, o elenco é mais natural, ainda que formado por atores praticamente desconhecidos, e as locações foram bem escolhidas. Definitivamente, aos 28 anos, o diretor não era mais um amador.

Como curiosidade, vale observar que o xadrez está presente em uma sequência importante (Kubrick chegou a ganhar dinheiro como enxadrista), mostrando o caráter autoral fortalecido, embora não totalmente independente dos mandos e desmandos do estúdio (responsável pela presença de um narrador). A independência criativa foi, dessa forma, uma das principais metas do cineasta, que a procurou inicialmente por meio do financiamento independente, muito mais comum na atualidade.

Podendo ser considerado um exercício sob o noir, The Killing representa o início verdadeiro de uma carreira. Ele abriu portas para Kubrick, que finalmente conseguiu realizar uma obra com mais suporte técnico, embora não represente o auge de sua capacidade narrativa.

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