Para encerrar esse especial de uma semana sobre Stanley Kubrick, decidi rever o documentário Stanley Kubrick: A Life in Pictures, que é comercializado no Brasil em um box de filmes do diretor. Sob o comando de Jan Harlan, que até então só havia atuado como produtor, esse provavelmente foi um dos primeiros documentários que vi de livre e espontânea vontade (digo, fora de sala de aula), o que deixa claro que sempre tive interesse pelo diretor.

Acredito, aliás, que muitas das minhas percepções a respeito do trabalho de Kubrick – e também sobre cinema de forma geral – tiveram início aqui. Afinal, era o começo do meu mergulho na história do cinema, assumindo o papel de uma das primeiras aulas.

O filme entrevista diversos atores que trabalharam com o diretor, incluindo Tom Cruise (que também é o narrador), Nicole Kidman, Matthew Modine, Shelley Duvall, Jack Nicholson, Leon Vitali, Malcolm McDowell e Peter Ustinov. Também estão presentes diretores de renome – Woody Allen, Steven Spielberg, Martin Scorsese e Sydney Pollack –, escritores, técnicos e familiares, especialmente Christiane Kubrick.

Resumindo, não faltam opiniões (pelas minhas contas, são aproximadamente 50 entrevistas). Como a produção foi lançada apenas dois anos após a morte do cineasta, há uma tristeza e um saudosismo latentes, quase palpáveis. Ainda assim, os entrevistados comentam não apenas a obra, mas também a personalidade de Stanley Kubrick. Eles falam do mito que surgiu ao seu redor; do temperamento suave, mas explosivo; do perfeccionismo; da forma como ele se relacionava com os demais; e da genialidade de suas criações. Embora relembrem com carinho dos defeitos da pessoa, são incapazes de apontar falhas em sua obra.

Mas esse está longe de ser um problema. Com mais de duas horas de duração, Stanley Kubrick: A Life in Pictures segue a ordem cronológica de filmes do cineasta, mencionando brevemente a carreira de fotógrafo e o curta-metragem Day of the Fight, mas se aprofundando em todos os longas-metragens, inclusive Fear and Desire, o qual foi retirado de circulação pelo diretor.

Dessa forma, o filme consegue manter a atenção do público ao se concentrar naquilo que é mais conhecido e trazer novas informações e curiosidades, ainda que o ritmo seja um tanto quanto enfadonho e repetitivo (a narração de Tom Cruise até tenta, mas não ajuda muito). Há muitas observações sobre a preocupação com a iluminação, a seleção das trilhas sonoras, as polêmicas geradas a cada novo lançamento, a conquista da independência criativa, a cansativa repetição de tomadas, entre outros temas obrigatórios quando o assunto é Stanley Kubrick.

Stanley Kubrick: A Life in Pictures é um documentário muito importante para quem quer entender o cineasta e o perceber a partir de diferentes pontos de vista. Contudo, ao mesmo tempo em que é uma obra completa e informativa, o filme carece de inventividade, algo um tanto quanto triste, já que seu tema é Stanley Kubrick. Para os fãs, é essencial; para os cinéfilos de plantão, é importante; para os meramente interessados, é curioso. Quem não se importa pode simplesmente deixar a sala e apagar as luzes.