Divagações: Gone Girl
19.2.15
David Fincher é um cara realmente admirável. Ele fez vários clipes musicais, alguns dos filmes mais marcantes da sua geração e diversas produções dignas de Oscar (às vezes essas duas últimas coisas coincidem). Ao longo de sua carreira, conquistou o direito de escolher o que quer fazer e com quem. Assim, não é à toa que Ben Affleck adiou tudo o que planejava fazer como ator e diretor para estrelar Gone Girl. Pode até não ter rendido uma indicação ao Oscar (para ele), mas valeu a pena.
Baseado no livro de Gillian Flynn, que também é a responsável pelo roteiro, o filme acompanha o período de desaparecimento de Amy Dunne (Rosamund Pike). Tudo começa no dia do aniversário de casamento dela com Nick (Affleck). Como o relacionamento dos dois não andava bem, não demora para que a polícia – liderada pela bem preparada detetive Rhonda Boney (Kim Dickens) – comece a suspeitar do maridão, algo agravado pela aparição da jovem amante, Andie Fitzgerald (Emily Ratajkowski).
Para prejudicar a investigação, a moça desaparecida e seus pais (David Clennon e Lisa Banes) são relativamente famosos, o que chama bastante atenção da mídia. Ao lado de Nick estão apenas sua irmã Margo (Carrie Coon) e o recém-contratado advogado Tanner Bolt (Tyler Perry), que começam a buscar por antigos relacionamentos de Amy, especialmente Tommy O'Hara (Scoot McNairy) e Desi Collings (Neil Patrick Harris).
Trata-se de um mistério cheio de pequenos elementos e incongruências que vão sendo explicados aos poucos – o detalhe é que isso dura até exatamente a metade do filme. Depois que alguns personagens matam a charada, Gone Girl se torna uma corrida contra o tempo. Essa capacidade do filme de quebrar expectativas e entregar reviravoltas eficientes é o que garante a atenção do expectador ao longo de 2h30min. Não é pouca coisa para um suspense que se mantém tenso do começo ao fim.
Com uma profusão de personagens pouco confiáveis, o filme se aproveita do melhor que o elenco tem a oferecer. Ben Affleck entrega sua melhor cara de cachorro molhado, alterando pouco de expressão e garantindo a falta de confiança em qualquer coisa que seu personagem diga. Já Rosamund Pike consegue trazer as diversas facetas de sua personagem com modulações de voz e pequenas nuances, tudo muito sutil e elegante. Por fim, Neil Patrick Harris basicamente brinca com expectativas, mostrando algo que o público já o viu fazer antes – mas não exatamente assim.
Isso é complementado por um roteiro bem amarrado, uma edição que não atrapalha o espectador – sim, é possível ter um filme inteligente que não seja confuso – e uma direção controlada. David Fincher mantém todos os elementos do filme funcionando de maneira azeitada, garantindo um bom ritmo e um final satisfatório. É difícil explicar como a produção consegue prender a atenção sem revelar detalhes essenciais, mas isso indica também que se trata de um suspense de primeira qualidade.
Mesmo que Gone Girl tenha sido levemente esnobado pela Academia (apenas Rosamund foi lembrada), o filme conquistou a crítica, teve um bom público nos cinemas e continua atraindo bastante gente com seu lançamento em DVD e Blu-Ray. Sinceramente, acho isso tudo bem mais relevante no atual contexto.
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