Divagações: The Lost City of Z

A maneira como biografias são contadas depende muito de quando ela está sendo feita e por quem. The Lost City of Z , no entanto, parece um...

A maneira como biografias são contadas depende muito de quando ela está sendo feita e por quem. The Lost City of Z, no entanto, parece um filme fora de seu tempo, narrando sua história de uma maneira fora de moda e até mesmo fria, elevando seus personagens acima dos demais a partir de padrões de comportamento dos dias atuais. De maneira geral, o filme funciona bem como está, mas é estranho pensar que ele foi lançado em festivais em 2016 – e não uns vinte anos atrás.

A trama acompanha a carreira de Percy Fawcett (Charlie Hunnam) como um explorador da selva amazônica. Um membro do exército britânico, ele tem dificuldades em subir na carreira porque seu pai era um alcoólatra que manchou o nome da família. Dessa forma, a missão de ir até a floresta para fazer um mapa da fronteira entre Brasil e Bolívia surge como uma boa oportunidade de ganhar destaque, ainda que isso signifique deixar para trás sua esposa grávida, Nina (Sienna Miller), e seu filho pequeno, Jack (Tom Mulheron). Apesar dos perigos, ele fica fascinado com o que encontra e passa a acreditar nas lendas de que há uma cidade perdida no meio da floresta. Mas, em vez de El Dorado, ele busca por Z.

Enquanto a maior parte dos filmes optaria por explorar uma das viagens do protagonista em detalhes, The Lost City of Z é composto de muitas idas e vindas, devidamente acompanhadas pelas diferentes reações a cada um dos retornos ao Reino Unido. Aliás, por incrível que pareça, a terra natal do protagonista e as decisões que são tomadas por lá são mais importantes para a trama que a própria selva, o que faz sentido dentro do peso político e moral que o roteirista e diretor James Gray quis dar ao filme (ainda que isso ocorra em detrimento da exploração em si).

De qualquer modo, na primeira jornada, Percy é acompanhado pelo explorador Henry Costin (Robert Pattinson) e uma grande equipe com o objetivo de fazer mapas. Na segunda, ele e Costin já estão atrás da cidade perdida e possuem um time menor, mas determinado, ainda que o famoso biólogo James Murray (Angus Macfadyen) jogue contra o sucesso da expedição. Por fim, uma terceira viagem envolve apenas Percy e seu filho mais velho (agora interpretado por Tom Holland).

Há muitos elementos interessantes nessa história, especialmente a mensagem moral que The Lost City of Z tenta passar. O protagonista vive um casamento equilibrado e elogia a independência de sua esposa. Ele também acredita que os índios são seres humanos inteligentes e não selvagens incapazes de viver em uma civilização, como muitos de seus colegas propagandeiam. Só é uma pena que essas coisas não sejam exatamente verdade.

Ainda que Nina Fawcett tenha sido uma sufragista e tenha se virado na ausência do marido, ela sofreu um bocado com as normas religiosas impostas no período. Também existem relatos de que Percy acreditava que ‘índios brancos’ haviam construído a tal cidade perdida. Ou seja, eles provavelmente eram pessoas com uma mente liberal para a época – a trama começa em 1906 e os figurinos mudam drasticamente a partir desse ponto –, mas isso não quer dizer que eles não façam parte do contexto em que se criaram.

O que The Lost City of Z tenta fazer é colocar seu protagonista em uma posição heroica e digna de admiração. Sua única ‘falha’ parece ser a obsessão com Z, mas esse não deixa de ser um objetivo nobre, afinal, ele quer abrir os olhos do mundo para uma civilização desconhecida. Mesmo que ele deixe sua família para trás por períodos prolongados de tempo, seu casamento é carinhoso e ele parece sempre sofrer por deixar seus filhos e sua esposa para trás. E esse recurso funciona muito bem, cumprindo seus propósitos – ainda que ele não resista a uma espectadora curiosa que resolva usar o Google depois de assistir à produção.

Outro ponto importante é que, por mais que cada nova jornada traga uma perspectiva diferente para a busca e seja preciso mostrar o amadurecimento dos personagens, o filme é realmente longo e, por vezes, cansativo. Quem gosta desse tipo de história, sem dúvida, irá se deliciar – e ainda mais quem tem saudades de biografias que realmente exploram a jornada de uma pessoa ao longo dos anos. Mas The Lost City of Z não é uma aventura para qualquer um e o fã de um bom filme de ação, por exemplo, provavelmente dormirá no meio do caminho.

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