Divagações: Dead Poets Society

Eu era muito pequena quando Dead Poets Society foi lançado. Mesmo assim, esse filme esteve presente em diversos momentos da minha vida. A...

Eu era muito pequena quando Dead Poets Society foi lançado. Mesmo assim, esse filme esteve presente em diversos momentos da minha vida. A cada vez, eu me deparo com uma experiência diferente, com uma história que toca outra parte do meu coração e desperta novos tipos de emoções.

A princípio, trata-se simplesmente de uma história triste sobre a juventude e sua falta de comunicação com o ‘mundo dos adultos’, mas não é possível reduzir o longa-metragem dessa forma. Por isso, queria comentar tanto a complexidade de temas quanto a importância das diferentes personalidades presentes na tela.

Mas, antes, uma breve sinopse. Dead Poets Society começa com a chegada de duas novas pessoas a um colégio interno e religioso, dedicado a rapazes ricos e que entrarão nas melhores universidades dos Estados Unidos. Uma delas é o novo pupilo, Todd Anderson (Ethan Hawke), um menino muito tímido e relativamente inseguro que detesta o ambiente barulhento e cheio de energia do lugar. A outra é o professor John Keating (Robin Williams), que ainda lembra com bastante animação dos tempos em que ele mesmo era o aluno e que deseja implementar uma nova forma de ensinar no lugar.

Em pouco tempo, Todd começa a se enturmar, empurrado por seu colega de quarto, Neil Perry (Robert Sean Leonard), um jovem empolgado e que ambiciona se tornar um ator – mas que esbarra na pressão trazida pelo pai (Kurtwood Smith). Os dois fazem parte de um grupo que adora as aulas de Keating a ponto de recriarem um grupo do qual ele participava em seus tempos de estudante, a tal Sociedade dos Poetas Mortos. Uma tragédia, contudo, cria um dilema para os alunos e coloca o professor em uma posição bastante delicada.

Dessa forma, Dead Poets Society trabalha com a criação de um cenário hostil para os rapazes, mas que eles mesmos tornam mais suportável – cada um a seu modo. Há aquele que é mais apegado às regras (Dylan Kussman), aquele que não é nem um pouco afeito a elas (Gale Hansen), aquele que está mais concentrado em uma garota (Josh Charles), aquele que é o companheiro para todos os momentos (Allelon Ruggiero) e até aquele que não tem muita coisa na cabeça (James Waterston). Eles têm seus próprios problemas e há um sentimento geral de camaradagem explicado somente pela necessidade incutida em todos eles de que precisam estudar muito para cumprirem seus destinos pré-traçados.

Embora sejam todos jovens brancos e ricos – o que poderia minimizar seus dramas em outros contextos –, os rapazes ganham humanidade pelo desejo que possuem de pensarem com suas próprias cabeças e de viverem suas próprias vidas. Além disso, quando é chegado o momento de eles encararem algo muito maior, toda essa vivência ganha uma dimensão adicional, todas as consequências são repensadas, todas as inconsequências ganham peso.

Além disso, Dead Poets Society vai além do universo dos meninos. Keating encontra quem faça uma oposição aberta aos seus métodos (George Martin), mas também um colega que simpatiza com ele (Leon Pownall), além de receber certa vista grossa da diretoria (Norman Lloyd). Sua posição na escola, entretanto, é mais frágil do que parece. Frente a pais poderosos e uma ameaça à reputação da instituição, suas inovações apenas reforçam o ponto de que ele é o elo mais fraco.

É por ter uma variedade grande de personagens e personalidades que a produção consegue tratar de temas tão delicados de uma forma tão eficiente – obviamente, a direção de Peter Weir também ajuda. Ao apresentar diferentes reações a uma mesma situação, o filme explora uma gama de emoções e amplia sua história em um sentido diferente daquele normalmente visto. Por mais que a história siga andando para frente, as implicações ‘laterais’ importam mais e mais a cada cena.

Isso é válido não apenas em relação à evitável tragédia ou ao conflito final, mas também nas pequenas coisas – seja nos grupos de estudos, nas travessuras, nos encontros secretos e no apoio aos colegas. A sua maneira, Dead Poets Society trouxe vários temas que são relevantes para qualquer juventude, como a luta por direitos e o confronto com figuras de autoridade, além de introduzir questões ligadas à saúde mental, por exemplo.

Para completar, aqui temos Robin Williams em sua melhor forma. Como o professor, ele não só conquista seus alunos, mas também o público. Por mais que os métodos tenham aspectos questionáveis, ele está tentando dar uma nova perspectiva para meninos que, ao que tudo indica, serão líderes dentro de pouco tempo. Assim, ele é engraçado e absolutamente inspirador ao mesmo tempo, um feito que não é para qualquer um. Oh captain, my captain.

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