Divagações: White Chicks

Entre os filmes que fizeram aniversários “relevantes” em 2019, White Chicks atraiu bastante atenção por continuar sendo engraçado e const...

Entre os filmes que fizeram aniversários “relevantes” em 2019, White Chicks atraiu bastante atenção por continuar sendo engraçado e constantemente referenciado. A produção, que completou 15 anos de lançamento, tem uma premissa que até hoje é um bocado controversa, mas que, inesperadamente, ainda funciona bem.

Na história, Kevin e Marcus Copeland (Shawn e Marlon Wayans) são dois agentes do FBI que estão com as carreiras ameaçadas – em resumo, eles dão uma mancada atrás da outra. Para tentar fazer uma média com o chefe, eles se voluntariam para buscar duas dondocas milionárias no aeroporto, Brittany e Tiffany Wilson (Maitland Ward e Anne Dudek). Elas são as possíveis futuras vítimas de um perigoso sequestrador e a missão é levá-las até um hotel que será severamente monitorado pelo próprio FBI.

Porém, um pequeno acidente no meio do caminho faz com que eles optem por se disfarçar como as moças durante toda a permanência delas no local. Além de precisarem evitar serem desmascarados pelos próprios colegas, isso inclui a participação em uma série de eventos de gala e a constante interação com as melhores amigas e as maiores inimigas das moças.

E é aí que White Chicks se transforma em um filme surpreendentemente positivo. Ainda que todos os personagens sejam extremamente caricatos, o convívio inesperado traz oportunidades para todos crescerem. Em pouco tempo, os agentes disfarçados passam a dar e receber dicas sobre relacionamentos, amizade e até mesmo amor próprio.

Mas é claro que o humor se constrói nas características exageradas de cada um dos grupos retratados. Há desde um ataque histérico sobre celulite e gordura localizada vindo da pessoa mais magra do filme (Jennifer Carpenter) até um homem negro (Terry Crews) que é fascinado por mulheres brancas. Isso sem contar a esposa extremamente controladora (Faune Chambers Watkins), momentos escatológicos, um festival de insultos direcionado às mães, as estratégias adotadas em uma competição de dança e outras aventuras.

A questão é que tudo está tão exagerado que as sequências deixam de ser exatamente ofensivas. Ainda que você possa ache que conhece alguém “igual” a algum personagem, eu duvido que alguma pessoa se identifique seriamente. Além disso, White Chicks aposta fortemente na habilidade das pessoas de rirem de si mesmas. Os exageros da cena em que o grupo de mulheres vai fazer compras, por exemplo, encontram alguns correspondentes em histórias que já ouvi ou até mesmo vivenciei. Quem nunca, não é mesmo?

Para completar, o humor é muito bobo, praticamente infantil – e assinado pelos próprios Shawn e Marlon Wayans, acompanhados pelo diretor Keenen Ivory Wayans. Assim, não há uma profusão de palavrões, cenas que sejam mais pesadas (há algumas piadas de conotação sexual, mas que poderiam ter sido escritas por um adolescente bobo) ou mesmo muito polêmicas (exceto a própria premissa, que é bem bizarra). Dessa forma, a produção acaba sendo relativamente inócua, o que deve ter garantido sua popularidade constante na internet.

Claro que White Chicks tem muitos problemas. Para começar, a trama em si não faz muito sentido. Depois, o longa-metragem se apoia muito fortemente na piada de que dois homens negros estão se passando por mulheres brancas (é como uma versão exagerada de Some Like It Hot), abordando o assunto com bastante ênfase na frivolidade das mulheres da alta sociedade e reforçando um punhado de estereótipos negativos em relação a todos os envolvidos, o que inclui até mesmo os agentes do FBI.

Assim, se você não estiver com o senso de humor certo ativado (aquele bem bobo e inconsequente), a produção realmente não vai funcionar para você. Mas, ao mesmo tempo, é bastante compreensível porque o filme foi um grande sucesso de público na época (e um fracasso com a crítica) e continue sendo lembrado atualmente, ainda mais quando o fator da nostalgia começa a bater com mais força.

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