Divagações: Little Women

Um dos maus primeiros contatos com o trabalho de Greta Gerwig foi por meio de Frances Ha , uma produção independente, escrita e estrelada...

Um dos maus primeiros contatos com o trabalho de Greta Gerwig foi por meio de Frances Ha, uma produção independente, escrita e estrelada por ela. Filmado em preto e branco, o filme versava sobre dilemas da mulher moderna: uma figura em busca de seu próprio espaço e bastante pressionada pelas ideias alheias de sucesso e de fracasso, tanto profissional quanto amorosamente.

Quase oito anos depois, Gerwig conquistou um espaço respeitável (e indicações ao Oscar) como roteirista e diretora após o sucesso de Lady Bird. Seu mais novo filme, Little Women traz um elenco de grandes nomes e um visual que nada tem de moderno – é um filme de época bastante convencional, inclusive –, mas seus temas seguem praticamente os mesmos.

Baseado no conhecido romance de Louisa May Alcott, o longa-metragem acompanha a história de quatro talentosas meninas de uma mesma família. A mais velha, Meg (Emma Watson), é a atriz do grupo, facilmente deslumbrada pela vida em sociedade, mas consciente do momento financeiro difícil da família e de seu papel enquanto irmã mais velha. Na sequência, Jo (Saoirse Ronan) é a escritora e dramaturga. De personalidade forte, ela é ambiciosa e sempre está envolvida com os conflitos familiares, especialmente quando se trata de Amy (Florence Pugh), a pintora da família, que também sonha alto e está disposta a fazer o que for possível para alcançar seus objetivos. Por fim, Beth (Eliza Scanlen) é a pianista e a mais doce das irmãs, sendo bastante tímida e funcionando como a “cola” do grupo.

Ao redor das meninas está a mãe delas, Marmee (Laura Dern), que se dedica com igual paixão às filhas e à caridade, a ponto de doar a própria comida ou até mesmo a roupa do corpo aos necessitados. Além disso, elas também se tornam amigas inseparáveis de Theodore “Laurie” Laurence (Timothée Chalamet), o rapaz rico que mora ao lado, conquistando até mesmo o carinho do avô dele (Chris Cooper). A família é completada por uma tia mal-humorada (Meryl Streep), mas que ajuda ao contratar Jo para ler para ela. O pai das meninas (Bob Odenkirk), por sua vez, está na guerra e todos aguardam ansiosamente pelo seu retorno.

A história de Little Women, assim, acompanha o dia a dia das meninas em um período de aproximadamente sete anos. Basicamente, vemos o amadurecimento de cada uma delas e as decisões de suas juventudes que moldarão suas vidas enquanto adultas. Ainda que o próprio livro e boa parte das adaptações se concentrem mais em Jo que nas demais, a produção de Gerwig optou por dividir um pouco mais as atenções, dando espaço para que todas as garotas tenham suas histórias contadas devidamente (ao mesmo tempo em que demonstra um conhecimento bastante apurado da obra original).

Com isso, o filme opta por mostrar diversos “dilemas femininos” da época, que encontram ecos nos dias de hoje. Por mais que tenha um visual e uma linguagem bastante convencionais para uma produção de época (mesmo que não siga uma estrutura temporal linear), Little Women conversa diretamente com as meninas e mulheres de 2020, com direito a vários desabafos das personagens sobre o papel da mulher na sociedade, o que é esperado delas e de que modo isso afeta suas decisões e suas ambições.

Desta forma – e como por vezes acontece com o livro (que é de 1868, vale mencionar) –, o longa-metragem não deixa de cair na armadilha de pregar a sua própria moral, o que talvez incomode algumas pessoas. Neste caso, pelo menos, eu gostaria de acreditar que isso aconteça mais pela forma como que isso é feito do que pela mensagem em si, porém, nunca se sabe... De qualquer modo, é preciso também dizer que essa é uma história feita para tocar corações, ou seja, talvez seja bom já levar uma caixa de lenços para a sala de cinema.

Little Women faz, assim, algo que eu não imaginei ser possível. O filme conversa tanto com as admiradoras de longa data do livro quanto com a tal “mulher contemporânea” que Gerwig sempre abordou em suas obras. Ao mesmo tempo em que é uma adaptação dedicada e bastante interessante – capaz até mesmo de comentar pontos polêmicos da obra e dar sua perspectiva sobre eles –, o filme é também um inegável produto de sua própria época, com direito a uma marca autoral bastante própria. Considerando as produções em cartaz no momento, eu diria que essa é verdadeiramente imperdível.

Outras divagações:
Frances Ha
Lady Bird

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