Divagações: Aquí No Ha Pasado Nada
22.7.20
Eu caí absolutamente de paraquedas em Aquí No Ha Pasado Nada. Enganada pelo título, achei que estava prestes a ver mais uma adaptação da história shakespeariana – mas não há qualquer relação. Baseado em acontecimentos reais, o longa-metragem é um drama chileno contemporâneo que poderia muito bem estar ocupando as páginas dos jornais de qualquer grande cidade brasileira.
A produção teve passagem por diversos festivais pelo mundo entre 2016 e 2017, incluindo o Festival do Rio, e ganhou prêmios em Cartagena e em Havana. Fora do Chile, suponho que seu apelo comercial seja bem restrito, mas acredito que é importante que o cinema internacional circule e gere novas influências.
De férias da faculdade, Vicente (Agustín Silva) está curtindo a vida: frequenta a praia de dia, vai a festas de noite, encontra novas pessoas o tempo todo. Porém, após uma noitada com um grupo que havia acabado de conhecer, ele descobre que está sendo acusado de ter atropelado e matado uma pessoa. E seus novos amigos simplesmente viram as costas.
Mesmo assim, Vicente tenta resolver a situação e busca conversar com as outras pessoas que viu naquela noite, em especial Ana (Isabella Costa) e Francisca (Dindi Jane). Porém, ele percebe que sua situação vai ficando cada vez mais enrolada. Ao mesmo tempo em que há incertezas sobre quem dirigia o carro no momento do acidente – ele ou Manuel (Samuel Landea) –, os depoimentos das testemunhas começam a mudar e ele sente o peso do dinheiro e da influência da família de Manuel.
Para que o público pudesse ir desvendando o jogo de poder e intrigas aos poucos, Aquí No Ha Pasado Nada foi muito bem construído pelo diretor e roteirista Alejandro Fernández Almendras. Ainda assim, acho que a minha falta de conhecimento e envolvimento em relação ao caso pesou um pouco na minha percepção sobre o filme.
Eu não sabia sequer o gênero da produção e não fazia ideia de que um crime iria ocorrer. Portanto, não embarquei em um possível clima de tensão criado pelas cenas iniciais, que tentam recriar o que aconteceu naquela fatídica noite. Pelo contrário, eu criei uma certa irritação em relação ao protagonista, que tem uma personalidade apática e apenas reage aos acontecimentos ao seu redor, deixando-se levar facilmente pelos outros membros do grupo. Assim, quando Vicente é acusado, não pude deixar de sentir que ele também era (ao menos, parcialmente) culpado.
Para completar, é apenas nos momentos finais que Aquí No Ha Pasado Nada realmente revela a que veio – em um movimento bem-vindo, mas que talvez tenha demorado um pouco demais. Ao encaixar todas as peças e caminhar para a sua conclusão, o longa-metragem faz uma crítica bastante interessante (e pesada) ao sistema judiciário chileno. No processo, o filme também ganha uma dimensão muito mais séria e crítica, que ressignifica todas as decisões anteriores.
Tecnicamente bem realizado e com uma boa história para contar, o filme me trouxe uma experiência bem diferente da que eu esperava inicialmente (mas isso é minha culpa por não ter lido a sinopse) e conseguiu me surpreender de forma positiva. Para completar, ele atiçou minha curiosidade para embarcar em outras obras do diretor e do cinema chileno – a única questão vai ser como encontrá-las por aí.
A produção teve passagem por diversos festivais pelo mundo entre 2016 e 2017, incluindo o Festival do Rio, e ganhou prêmios em Cartagena e em Havana. Fora do Chile, suponho que seu apelo comercial seja bem restrito, mas acredito que é importante que o cinema internacional circule e gere novas influências.
De férias da faculdade, Vicente (Agustín Silva) está curtindo a vida: frequenta a praia de dia, vai a festas de noite, encontra novas pessoas o tempo todo. Porém, após uma noitada com um grupo que havia acabado de conhecer, ele descobre que está sendo acusado de ter atropelado e matado uma pessoa. E seus novos amigos simplesmente viram as costas.
Mesmo assim, Vicente tenta resolver a situação e busca conversar com as outras pessoas que viu naquela noite, em especial Ana (Isabella Costa) e Francisca (Dindi Jane). Porém, ele percebe que sua situação vai ficando cada vez mais enrolada. Ao mesmo tempo em que há incertezas sobre quem dirigia o carro no momento do acidente – ele ou Manuel (Samuel Landea) –, os depoimentos das testemunhas começam a mudar e ele sente o peso do dinheiro e da influência da família de Manuel.
Para que o público pudesse ir desvendando o jogo de poder e intrigas aos poucos, Aquí No Ha Pasado Nada foi muito bem construído pelo diretor e roteirista Alejandro Fernández Almendras. Ainda assim, acho que a minha falta de conhecimento e envolvimento em relação ao caso pesou um pouco na minha percepção sobre o filme.
Eu não sabia sequer o gênero da produção e não fazia ideia de que um crime iria ocorrer. Portanto, não embarquei em um possível clima de tensão criado pelas cenas iniciais, que tentam recriar o que aconteceu naquela fatídica noite. Pelo contrário, eu criei uma certa irritação em relação ao protagonista, que tem uma personalidade apática e apenas reage aos acontecimentos ao seu redor, deixando-se levar facilmente pelos outros membros do grupo. Assim, quando Vicente é acusado, não pude deixar de sentir que ele também era (ao menos, parcialmente) culpado.
Para completar, é apenas nos momentos finais que Aquí No Ha Pasado Nada realmente revela a que veio – em um movimento bem-vindo, mas que talvez tenha demorado um pouco demais. Ao encaixar todas as peças e caminhar para a sua conclusão, o longa-metragem faz uma crítica bastante interessante (e pesada) ao sistema judiciário chileno. No processo, o filme também ganha uma dimensão muito mais séria e crítica, que ressignifica todas as decisões anteriores.
Tecnicamente bem realizado e com uma boa história para contar, o filme me trouxe uma experiência bem diferente da que eu esperava inicialmente (mas isso é minha culpa por não ter lido a sinopse) e conseguiu me surpreender de forma positiva. Para completar, ele atiçou minha curiosidade para embarcar em outras obras do diretor e do cinema chileno – a única questão vai ser como encontrá-las por aí.
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