Divagações: Umi ga kikoeru

Nem só de Hayao Miyazaki se faz o Studio Ghibli ! Ainda que seja uma produção feita originalmente para a televisão e não desfrute do mesm...

Nem só de Hayao Miyazaki se faz o Studio Ghibli! Ainda que seja uma produção feita originalmente para a televisão e não desfrute do mesmo status das obras do famoso diretor, Umi ga kikoeru conta com o selo do estúdio e não faz feio frente a seus “colegas” de portfólio.

A história se passa no último ano da vida escolar de seus protagonistas, antes da entrada na faculdade. É um período de mudanças e incertezas que frequentemente aparece em obras sobre amadurecimento no mundo inteiro – nos animes, então, nem se fala. Neste caso, tudo é encarado como um olhar para o passado, adquirindo um ar nostálgico e se distanciando um pouco das emoções adolescentes à flor da pele.

Taku Morisaki (Nobuo Tobita) é um menino simples, que trabalha nas férias para juntar um direitinho e que tem grande admiração por seu amigo, Yutaka Matsuno (Toshihiko Seki) – ainda mais depois que ambos participaram de uma espécie de protesto contra decisões aparentemente arbitrárias da direção do colégio. Porém, a relação dos dois fica um pouco abalada com a chegada de Rikako Muto (Yoko Sakamoto), uma menina vinda de Tóquio e que logo atrai a atenção de Yutaka, mas que parece dar mais atenção para Taku.

A verdade é que, para os dois jovens rapazes do interior, a recém-chegada gera curiosidade. Ela é uma figura misteriosa, de personalidade reservada e vinda de um mundo desconhecido e pelo qual eles estão ansiosos. A própria Rikako, porém, não passa de uma menina vivendo um momento difícil, com o divórcio dos pais e a mudança radical em seu estilo de vida. Ela está relutante em aceitar sua nova vida e se aproveita da inocência de Taku para tentar escapar do controle da mãe e retomar o que deixou para trás – apenas para se decepcionar novamente ao descobrir que isso não é algo possível.

De maneira geral, Umi ga kikoeru não é um romance e nem uma história tradicional de amadurecimento – inclusive, não vemos o momento em que os personagens efetivamente mudam e percebem seus erros. O que é mostrado na tela é um recorte da vida daquelas pessoas, enfatizando um momento do qual nenhum deles deve se orgulhar muito na posteridade, mas que ajudou a moldar quem eles se tornam enquanto adultos.

O protagonista, Taku, foi criado para representar o “cara comum” e isso é muito difícil. Ele é um narrador eficiente, mas é um daqueles personagens que simplesmente se deixam levar pelo destino, como se não pudesse resistir aos pedidos de seu melhor amigo e, principalmente, da garota por quem Yutaka é apaixonado.

Espero que não seja necessário dizer depois disso tudo, mas Umi ga kikoeru não é exatamente uma obra para crianças. Por mais que seja uma animação, o que o diretor Tomomi Mochizuki faz é explorar uma estética com ar nostálgico, mantendo, por meio da animação, um total controle sobre o ambiente em que seus personagens se encontram (repare na iluminação das cenas, ela é muito bem calculada).

Aliás, vale ressaltar que a produção foi inteiramente realizada por uma equipe jovem, na faixa dos 20 e 30 anos de idade. Assim, a história que eles contam vem carregada de experiências pessoais de um período não tão distante assim e, para completar, há uma grande vontade de fazer algo muito bom tecnicamente e se destacar – e eles conseguem.

Umi ga kikoeru é um filme sensível e suave, que não joga as emoções dos personagens dos personagens na cara do público, mas que as transmite mesmo assim. Seguindo a tradição do estúdio, tudo é feito com muito capricho e com uma identidade bastante própria. Além disso, essa é uma daquelas obras que, mesmo tantos anos depois de seu lançamento, ainda pode ser descoberta por um público que vai admirá-la e que vai se identificar com o que ela tem a dizer.

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