Divagações: Citizen Kane
24.3.21
Assim que os créditos finais de Citizen Kane começaram, meu namorado olhou para mim e disse: “Você vai escrever uma resenha? Que responsabilidade!”. Sinceramente, considerando tudo o que já foi dito sobre este filme, não acho que tenho o que quer que seja a acrescentar. Ao mesmo tempo, já cometi outras “ousadias” por aqui (como resenhar todos os filmes de Stanley Kubrick), de modo que me sinto segura a continuar com minhas divagações sem que haja consequências.
Acredito que essa tenha sido a terceira vez que vi este longa-metragem. Da primeira, pouca coisa me recordo e talvez nem tenha visto o filme inteiro (mas alguém me explicou o significado de “Rosebud” e me senti entrando para algum clube secreto). Da segunda vez, eu já possuía um direcionamento básico, sabia (mais ou menos) para onde olhar e tinha a estranha pretensão de comparar o protagonista desta história com o brasileiro Assis Chateaubriand, o Chatô.
Agora, vi o filme para aproveitá-lo com (ao menos um pouco) mais carinho, observar a engenhosidade das transições de cena, os ângulos de câmera pouco usuais, a velocidade acelerada da narrativa, o uso de fotos como “efeito especial”, as maquiagens que não funcionam tão bem hoje em dia, a trilha sonora datada, entre outras peculiaridades. Inclusive, acho válido dizer que Citizen Kane não é “apenas” um grande clássico do cinema: é entretenimento de primeira qualidade.
Indo na direção contrária da fama de ser arrastado e muito longo (isso é real? Não tenho muita certeza), o filme tem um pouco menos de duas horas, o que o coloca de forma competitiva em relação aos longas-metragens atuais. Além disso, mesmo tendo sido lançado em 1941 (ou seja, 80 anos atrás!), ele tem uma narrativa dinâmica, com uma constante mudança de narradores e pontos de vista, que vão construindo a personalidade do protagonista aos poucos.
A história é simples. Um homem muito rico acaba de falecer. Ele é dono de muitas empresas e vários jornais e, por conta disso, é feito um breve documentário sobre sua vida, que será exibido nos cinemas, antes da atração principal (como era costume na época). Embora o filme traga os principais pontos e faça referência até mesmo às polêmicas de sua vida, ele é considerado sem graça e um repórter é enviado para conversar com todos os conhecidos de Charles Foster Kane (Orson Welles), de modo a compreender o significado de sua última palavra – “Rosebud” – e trazer algo de mais interessante para o público.
Desta forma, Jerry Thompson (William Alland) é escalado para ler o diário do antigo guardião legal do jovem Kane, Walter Parks Thatcher (George Coulouris), e conversar com seu melhor amigo, Jedediah Leland (Joseph Cotten); com o presidente do conselho de suas empresas, Bernstein (Everett Sloane); com sua ex-esposa, Susan Alexander (Dorothy Comingore); e até mesmo com o mordomo da casa, Raymond (Paul Stewart). Cada um deles tem algo a acrescentar, quebrando um pouco da aura mística e louca vista no curto documentário original.
Ao mesmo tempo, ninguém parece saber dizer com precisão o que “Rosebud” significa. Obviamente, isso é o que menos importa (como o próprio filme faz o favor de explicar). O objetivo de Citizen Kane é contar uma história de vida, construindo e desconstruindo elementos de seu protagonista, que não tem a oportunidade de falar por si mesmo e explicar suas motivações. Cada um dos narradores apresenta uma faceta (não exatamente confiável, mas não exatamente mentirosa) e o quadro geral é bastante interessante.
Para completar, este é um trabalho extremamente autoral. Além de atuar, Orson Welles dirige e produz o longa-metragem, também assinando o roteiro ao lado de Herman J. Mankiewicz. Ainda que toda a liberdade dada a ele pelo estúdio não tenha atingido exatamente bons resultados na época (o filme foi um fracasso nas bilheterias), é interessante ver o quanto este tipo de produção tem uma vida longa, sendo apreciado e estudado até hoje. Os bolsos dos grandes executivos de Hollywood reclamam, mas os corações dos cinéfilos agradecem.
Acredito que essa tenha sido a terceira vez que vi este longa-metragem. Da primeira, pouca coisa me recordo e talvez nem tenha visto o filme inteiro (mas alguém me explicou o significado de “Rosebud” e me senti entrando para algum clube secreto). Da segunda vez, eu já possuía um direcionamento básico, sabia (mais ou menos) para onde olhar e tinha a estranha pretensão de comparar o protagonista desta história com o brasileiro Assis Chateaubriand, o Chatô.
Agora, vi o filme para aproveitá-lo com (ao menos um pouco) mais carinho, observar a engenhosidade das transições de cena, os ângulos de câmera pouco usuais, a velocidade acelerada da narrativa, o uso de fotos como “efeito especial”, as maquiagens que não funcionam tão bem hoje em dia, a trilha sonora datada, entre outras peculiaridades. Inclusive, acho válido dizer que Citizen Kane não é “apenas” um grande clássico do cinema: é entretenimento de primeira qualidade.
Indo na direção contrária da fama de ser arrastado e muito longo (isso é real? Não tenho muita certeza), o filme tem um pouco menos de duas horas, o que o coloca de forma competitiva em relação aos longas-metragens atuais. Além disso, mesmo tendo sido lançado em 1941 (ou seja, 80 anos atrás!), ele tem uma narrativa dinâmica, com uma constante mudança de narradores e pontos de vista, que vão construindo a personalidade do protagonista aos poucos.
A história é simples. Um homem muito rico acaba de falecer. Ele é dono de muitas empresas e vários jornais e, por conta disso, é feito um breve documentário sobre sua vida, que será exibido nos cinemas, antes da atração principal (como era costume na época). Embora o filme traga os principais pontos e faça referência até mesmo às polêmicas de sua vida, ele é considerado sem graça e um repórter é enviado para conversar com todos os conhecidos de Charles Foster Kane (Orson Welles), de modo a compreender o significado de sua última palavra – “Rosebud” – e trazer algo de mais interessante para o público.
Desta forma, Jerry Thompson (William Alland) é escalado para ler o diário do antigo guardião legal do jovem Kane, Walter Parks Thatcher (George Coulouris), e conversar com seu melhor amigo, Jedediah Leland (Joseph Cotten); com o presidente do conselho de suas empresas, Bernstein (Everett Sloane); com sua ex-esposa, Susan Alexander (Dorothy Comingore); e até mesmo com o mordomo da casa, Raymond (Paul Stewart). Cada um deles tem algo a acrescentar, quebrando um pouco da aura mística e louca vista no curto documentário original.
Ao mesmo tempo, ninguém parece saber dizer com precisão o que “Rosebud” significa. Obviamente, isso é o que menos importa (como o próprio filme faz o favor de explicar). O objetivo de Citizen Kane é contar uma história de vida, construindo e desconstruindo elementos de seu protagonista, que não tem a oportunidade de falar por si mesmo e explicar suas motivações. Cada um dos narradores apresenta uma faceta (não exatamente confiável, mas não exatamente mentirosa) e o quadro geral é bastante interessante.
Para completar, este é um trabalho extremamente autoral. Além de atuar, Orson Welles dirige e produz o longa-metragem, também assinando o roteiro ao lado de Herman J. Mankiewicz. Ainda que toda a liberdade dada a ele pelo estúdio não tenha atingido exatamente bons resultados na época (o filme foi um fracasso nas bilheterias), é interessante ver o quanto este tipo de produção tem uma vida longa, sendo apreciado e estudado até hoje. Os bolsos dos grandes executivos de Hollywood reclamam, mas os corações dos cinéfilos agradecem.
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