Divagações: The Florida Project
2.6.21
De vez em quando, vem à baila filmes com propostas “diferentes”. Eles propõem algo sobre câmera, filmagem, preparação de atores, escolha de locações, narrativa... Na temporada de premiações 2017-2018, The Florida Project apareceu como um dos expoentes destes filmes. A produção, escrita e dirigida por Sean Baker, conseguiu chamar bastante atenção e concorreu a quase 200 prêmios (ganhando vários deles!), conquistando até mesmo uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para Willem Dafoe, no que talvez seja um dos papeis mais comedidos de sua carreira.
A história, por si só, não parece ser nada muito empolgante, mas o mergulho do longa-metragem no mundo de sua pequena protagonista é algo interessante de se ver. O universo do filme está restrito a um conjunto de quarteirões de Orlando, na Flórida, onde motéis baratos deixaram de ser ocupados exclusivamente por turistas e passaram a ser uma opção de moradia para pessoas sem condições de pagar aluguel em outras paragens. Inclusive, os lugares apresentados são reais e alguns dos figurantes do filme (e um dos atores mirins!) são moradores destes motéis.
Em um dos quartos do Magic Castle Motel vivem Moonee (Brooklynn Prince) e sua mãe, Halley (Bria Vinaite). Aos seis anos, a menina é criada sem muito controle e costuma passar o dia todo na rua, onde se diverte destruindo coisas em lugares abandonados, pedindo esmolas para comprar sorvete e cuspindo em carros, frequentemente na companhia de Scooty (Christopher Rivera), Dicky (Aiden Malik) e Jancey (Valeria Cotto), que vivem estilos de vida semelhantes – ainda que com um pouco mais de controle. Apesar disso, mãe e filha vivem bons momentos juntas, vendendo perfumes na porta de hotéis caros, comendo bobagens enquanto assistem televisão, xingando helicópteros e fazendo concursos de arroto.
Outros adultos observam a situação de longe e, quando as coisas desandam na pequena família (como não podia deixar de ser), eles também não fazem muito para impedir o “caminho natural” das coisas. Ashley (Mela Murder) é a melhor amiga de Halley, mas acaba se afastando quando percebe a falta de rédeas na vida da outra. Stacy (Josie Olivo) é uma avó tentando criar os netos da melhor forma possível, mas que estende uma mão em momentos de necessidade. E Bobby (Willem Dafoe) é o gerente do motel, que precisa lidar com as demandas de muitas pessoas, mas sempre se vê às voltas com Moonee e seus amigos.
Sem uma trama muito estruturada, The Florida Project acompanha o dia a dia dessas pessoas, suas agruras, seus medos, suas alegrias – tudo às sombras dos famosos parques de diversões da Disney. Enquanto as crianças vivem em um mundo próprio, cheio de aventuras, descobertas e, também, perigos, os adultos lidam com assuntos mais práticos, como o aluguel, as burocracias da moradia improvisada e as sempre complicadas relações interpessoais. Estas duas realidades paralelas frequentemente se cruzam, mas raramente se comunicam.
Assim, ao mesmo tempo em que é triste e trágico, o filme também é colorido e mágico, honrando seu ensolarado cenário. Moonee é uma mal educada, respondona e cheia de artimanhas; em muitos contextos, ela não geraria muita simpatia dos adultos. Mas quem pode julgá-la por ser assim? Dentro da realidade apresentada a ela, a menina está simplesmente sendo uma criança feliz. E isso leva a outras questões. Que tipo de adulta ela será? Que tipo de infância Halley viveu? O que o futuro reserva a elas?
The Florida Project não se preocupa em responder nada disso, contentando-se em dar visibilidade para estas pessoas e seu estilo de vida tão abandonado, ainda que em meio a um dos destinos turísticos mais desejados por crianças (e adultos) de todo o mundo.
A história, por si só, não parece ser nada muito empolgante, mas o mergulho do longa-metragem no mundo de sua pequena protagonista é algo interessante de se ver. O universo do filme está restrito a um conjunto de quarteirões de Orlando, na Flórida, onde motéis baratos deixaram de ser ocupados exclusivamente por turistas e passaram a ser uma opção de moradia para pessoas sem condições de pagar aluguel em outras paragens. Inclusive, os lugares apresentados são reais e alguns dos figurantes do filme (e um dos atores mirins!) são moradores destes motéis.
Em um dos quartos do Magic Castle Motel vivem Moonee (Brooklynn Prince) e sua mãe, Halley (Bria Vinaite). Aos seis anos, a menina é criada sem muito controle e costuma passar o dia todo na rua, onde se diverte destruindo coisas em lugares abandonados, pedindo esmolas para comprar sorvete e cuspindo em carros, frequentemente na companhia de Scooty (Christopher Rivera), Dicky (Aiden Malik) e Jancey (Valeria Cotto), que vivem estilos de vida semelhantes – ainda que com um pouco mais de controle. Apesar disso, mãe e filha vivem bons momentos juntas, vendendo perfumes na porta de hotéis caros, comendo bobagens enquanto assistem televisão, xingando helicópteros e fazendo concursos de arroto.
Outros adultos observam a situação de longe e, quando as coisas desandam na pequena família (como não podia deixar de ser), eles também não fazem muito para impedir o “caminho natural” das coisas. Ashley (Mela Murder) é a melhor amiga de Halley, mas acaba se afastando quando percebe a falta de rédeas na vida da outra. Stacy (Josie Olivo) é uma avó tentando criar os netos da melhor forma possível, mas que estende uma mão em momentos de necessidade. E Bobby (Willem Dafoe) é o gerente do motel, que precisa lidar com as demandas de muitas pessoas, mas sempre se vê às voltas com Moonee e seus amigos.
Sem uma trama muito estruturada, The Florida Project acompanha o dia a dia dessas pessoas, suas agruras, seus medos, suas alegrias – tudo às sombras dos famosos parques de diversões da Disney. Enquanto as crianças vivem em um mundo próprio, cheio de aventuras, descobertas e, também, perigos, os adultos lidam com assuntos mais práticos, como o aluguel, as burocracias da moradia improvisada e as sempre complicadas relações interpessoais. Estas duas realidades paralelas frequentemente se cruzam, mas raramente se comunicam.
Assim, ao mesmo tempo em que é triste e trágico, o filme também é colorido e mágico, honrando seu ensolarado cenário. Moonee é uma mal educada, respondona e cheia de artimanhas; em muitos contextos, ela não geraria muita simpatia dos adultos. Mas quem pode julgá-la por ser assim? Dentro da realidade apresentada a ela, a menina está simplesmente sendo uma criança feliz. E isso leva a outras questões. Que tipo de adulta ela será? Que tipo de infância Halley viveu? O que o futuro reserva a elas?
The Florida Project não se preocupa em responder nada disso, contentando-se em dar visibilidade para estas pessoas e seu estilo de vida tão abandonado, ainda que em meio a um dos destinos turísticos mais desejados por crianças (e adultos) de todo o mundo.
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