Divagações: The Midnight Sky

A experiência de ler um livro e, na sequência, ver a adaptação cinematográfica nem sempre é proveitosa ou enriquecedora – especialmente se v...

The Midnight Sky
A experiência de ler um livro e, na sequência, ver a adaptação cinematográfica nem sempre é proveitosa ou enriquecedora – especialmente se você não gostou tanto assim da obra original. Mas, como muita gente elogiou o livro de Lily Brooks-Dalton, eu resolvi dar uma chance para The Midnight Sky, na esperança de que o filme me traria uma nova perspectiva.

Aliás, embora as linhas gerais e a revelação final sejam as mesmas, livro e filmes se distanciam em muitos pontos. Na versão dirigida por George Clooney, alguns problemas do texto são minimizados, porém, diversos outros são criados.

A principal questão, ao menos para mim, foi a opção por um uso excessivo de efeitos especiais (bom, rendeu uma indicação ao Oscar) e a criação de algumas sequências “de ação”, ambas com o aparente objetivo de conferir alguma grandiosidade ao filme, aumentando seu apelo estético e “preenchendo” a narrativa. O caráter mais intimista e reflexivo, no entanto, era um dos pontos fortes do livro e haveria muito a ganhar no aprofundamento de personagens se a perfumaria fosse deixada de lado (e, sim, é possível fazer isso com filmes passados no espaço).

The Midnight Sky
conta duas histórias paralelas. Em uma estação de pesquisa no Polo Norte, Augustine (George Clooney) acredita que pode ser o último ser humano da Terra. Com o ar do planeta contaminado, ele tenta lidar com uma doença terminal ao mesmo tempo em que procura se comunicar com a única missão espacial em andamento. Para completar, ele descobre uma criança misteriosa (Caoilinn Springall) que se abrigou no complexo.

Na nave Aether, por sua vez, a especialista em comunicações Sully (Felicity Jones) procura manter o bom humor e a sanidade em meio ao caos: ela está gravida do capitão (David Oyelowo), eles perderam contato com a Terra e um leve desvio de rota fez com que a nave precise enfrentar áreas não mapeadas do espaço. Neste processo, ela é uma mãezona para a jovem engenheira Maya (Tiffany Boone) e recebe sugestões de nomes para o bebê vindas dos demais colegas (Kyle Chandler e Demián Bichir).

Assim, enquanto Augustine e Sully se encontram e desencontram por meio de ondas de rádio, vamos acompanhando o dia a dia de ambos e as dificuldades trazidas pela situação inesperada. Neste ponto há algumas diferenças cruciais em relação ao livro, especialmente quanto a Sully, que é uma personagem relativamente complexa no papel, mas acaba sendo bastante simplificada na tela.

Embora beba na fonte de grandes filmes despóticos e de ficção-científica – como Gravity, The Martian e até Children of Men –, The Midnight Sky deixa de entregar algo que o torna único e especial. Quando optou por encher de firulas uma trama bastante simples (e focada nos personagens) em vez de justamente fortalecer seus protagonistas e o forte sentimento de isolamento que eles carregam, o longa-metragem acabou esvaziando sua própria essência.

Ao mesmo tempo, preciso admitir que a produção entrega um visual espetacular, tanto no Polo Norte quanto na nave, passando pelas luas de Júpiter. Isso não é suficiente para salvar The Midnight Sky do tédio, mas pode enganar bem e é capaz de ser o suficiente para alguém com baixas expectativas (o que não era exatamente o meu caso).

Outras divagações:

The Ides of March
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