Divagações: Josee to Tora to Sakana-tachi

Quando a premissa de Josee to Tora to Sakana-tachi começou a se delinear, eu temi estar à frente de mais uma versão (assumida ou não) de In...

Josee to Tora to Sakana-tachi
Quando a premissa de Josee to Tora to Sakana-tachi começou a se delinear, eu temi estar à frente de mais uma versão (assumida ou não) de Intouchables. Por mais que eu tenha gostado da produção francesa de 2011, os clichês de sua narrativa e a exploração incansável desses elementos já me cansaram há algum tempo (e, infelizmente, acabaram desgastando o apelo do filme original). Felizmente, ninguém está em busca de salvação nesta animação – bom, não do mesmo jeito.

Josee to Tora to Sakana-tachi conta a história do relacionamento que se desenvolve entre o estudante universitário Tsuneo Suzukawa (Taishi Nakagawa) e a jovem cadeirante que ele é contrato para cuidar, Kumiko “Josee” (Kaya Kiyohara). Necessitado de dinheiro, já que está economizando para estudar no exterior, Tsuneo aceita um emprego que paga relativamente bem e tem duas regras, ambas estipuladas pela avó da menina (Matsutera Chiemi): fazer tudo o que a garota pede e não a levar para fora da casa. Eventualmente, no entanto, ambas as demandas acabam sendo descumpridas.

A partir do momento em que finalmente decide não se importar mais com as regras, Tsuneo começa a apresentar seu mundo para Josee. Ele a leva para ver o mar, para visitar a biblioteca, para conhecer seu outro emprego (uma loja que vende equipamento de mergulho) e a apresenta a seus amigos: o despachado Hayato Matsuura (Kazuyuki Okitsu) e Mai Ninomiya (Yume Miyamoto), que tem uma quedinha por ele e reconhece na outra garota uma rival – um sentimento recíproco. Ao mesmo tempo, ele também mergulha na forma como Josee vê o mundo. Sem amigos por perto e limitada pelas regras da avó, ela joga toda a sua expressividade no papel, por meio de ilustrações e pinturas.

Infelizmente, Josee to Tora to Sakana-tachi não escapa de vários clichês do gênero, colocando seus personagens em conflitos esperados e um tanto quanto óbvios. Entretanto, o filme é cativante o suficiente para prender o espectador antes que ele perceba que caiu neste buraco. Todos os personagens são apresentados como pessoas falhas, com características boas e ruins – ainda que, no caso de Tsuneo, seus defeitos sejam desvendados um pouco mais adiante –, o que mantém o interesse na obra como um todo.

Para completar, a produção é simplesmente muito bonita. O filme capricha nos detalhes ao trazer uma série de cenas de mergulho, mostrar animais selvagens e fazer de tudo para que o maravilhamento da protagonista efetivamente contagie quem assiste. Inclusive, quando ela decide comprovar por si mesma que a água do mar é salgada, confesso que praticamente consegui sentir o gosto (e eu não vou à praia há alguns anos).

Ao final, é revigorante pensar que essa não é uma história de redenção ou de transformação, embora a jornada tenha indubitavelmente feito isso com seus personagens. Josee to Tora to Sakana-tachi é um romance lento, no qual as pessoas têm tempo para se conhecerem e se envolverem umas com as outras, criando laços mais profundos do que aqueles gerados por paixões à primeira vista. Ainda que tenha seus arroubos e momentos mais agitados, o filme realmente caminha em meio à calmaria, contrastando o arrebentar das ondas com a vida no fundo do oceano.

RELACIONADOS

0 recados