Divagações: Jojo Rabbit

Mostrar o regime nazista com cores vibrantes e por meio do olhar deslumbrado de uma criança não parece ser exatamente uma boa ideia. Ainda a...

Jojo Rabbit
Mostrar o regime nazista com cores vibrantes e por meio do olhar deslumbrado de uma criança não parece ser exatamente uma boa ideia. Ainda assim, quando um cineasta como Taika Waititi assume um projeto como Jojo Rabbit, você sabe que algo diferente vai acontecer – obviamente, ainda há a chance de dar tudo errado, mas será na melhor e mais pirada das intenções.

Baseado em um livro de Christine Leunens – um dos favoritos da mãe do diretor e roteirista –, Jojo Rabbit acompanha um momento muito particular da infância de Jojo (Roman Griffin Davis). Como um pequeno alemão criado durante o regime, ele adora a ideia da raça ariana pura, idolatra Adolf Hitler (Waititi) a ponto de tê-lo como amigo imaginário e está ansiosíssimo para se juntar à juventude hitlerista. Isto, entretanto, cria alguns desconfortos na relação com sua mãe, Rosie (Scarlett Johansson), que não concorda com o regime e que gostaria muito que seu pequeno e carinhoso filho não propagasse esses ideais.

As perspectivas do menino começam a mudar um pouco quando ele descobre que há uma jovem judia morando escondida em sua casa. A arredia e potencialmente violenta Elsa (Thomasin McKenzie) era amiga de sua falecida irmã e está lá a convite de sua mãe. Com receio de fazer uma denúncia e acabar órfão, Jojo encontra um meio termo: vai se aproximar da garota para conseguir informações secretas sobre os judeus e escrever um livro.

Assim, iludido sobre os acontecimentos da guerra, Jojo divide seus dias entre as conversas com seu irritante amigo imaginário, as refeições e os passeios com sua mãe, as sessões sobre judeus com Elsa e uma série de tarefas inúteis para o partido, passadas pelo capitão Klenzendorf (Sam Rockwell), que lidera uma equipe suspeitosamente incompetente. Tudo isso em uma cidadezinha absolutamente charmosa e vibrante, onde todos se vestem de forma elegante e colorida, por mais que estejam no aguardo da temida chegada das tropas aliadas.

Este dia a dia agitado do protagonista é o que faz Jojo Rabbit funcionar tão bem. Aos trancos e barrancos, o menino vai se enrolando em suas tentativas de manter o segredo de sua mãe, sem perceber que, ao fazer isso, ele está corrompendo cada vez mais os seus próprios ideais. Sob o olhar de Rosie e Klenzendorf, ele tem sua infância preservada da melhor forma possível (dadas as circunstâncias), seguindo inocentemente em meio a um dos maiores absurdos já vividos pela humanidade.

Aliás, esta junção de elementos bizarros e ingênuos é algo que Taika Waititi sabe fazer muito bem. Ao mesmo tempo em que o contexto é exagerado sob o ponto de vista infantil, a guerra também é bastante atenuada, pois Jojo está sendo tão preservado quanto possível. Sua postura independente e determinada também o torna uma criança perigosa, mas o carinho dos adultos ao seu redor sempre se faz presente.

Aproveitando-se do olhar infantil, o filme conta uma história maior por meio de elementos sutis, disponibilizados aqui e ali. Afinal, por mais que seu protagonista seja um menino iludido, esta temática e o peso dela faz com que essa jamais possa ser uma obra para crianças. Jojo Rabbit é a nostalgia de quem viveu algo terrível antes de compreender o que realmente estava se passando – e as marcas que ficam no menino são muito mais profundas que as cicatrizes em seu rosto.

Outras divagações:
What We Do in the Shadows
Hunt for the Wilderpeople
Thor: Ragnarok

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