Divagações: The Beatles: Get Back

Teoricamente, The Beatles: Get Back não é um filme, mas uma série feita para televisão que consiste em três episódios de mais de duas horas...

The Beatles: Get Back
Teoricamente, The Beatles: Get Back não é um filme, mas uma série feita para televisão que consiste em três episódios de mais de duas horas cada, totalizando quase oito horas. Ainda assim, não é como se isso fosse muito diferente dos longas-metragens longuíssimos que Peter Jackson normalmente dirige (e, bom, o blog é meu).

Montada a partir de filmagens realizadas em janeiro de 1969, a produção acompanha 21 dias de trabalho (ou quase isso) da banda The Beatles, o que inclui sessões no estúdio Twickenham, onde também estava prevista uma apresentação que não aconteceu, e nos estúdios Apple, culminando no famoso show realizado no telhado, em 30 de janeiro. Além disso, também estão contempladas a constante presença de Yoko Ono e a saída (ainda que temporária) de George Harrison do grupo.

A princípio, as mais de 60 horas de filmagens e 150 horas de áudios analisadas para The Beatles: Get Back eram direcionadas a um documentário, que se tornou Let It Be (oficialmente indisponível desde 1980), de modo que esta nova produção acaba funcionando como um “documentário sobre um documentário”. Ou seja, além de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, vemos com frequência o diretor Michael Lindsay-Hogg, o produtor musical Glyn Johns, o assistente e road manager Mal Evans, o “quinto Beatle” e pianista Billy Preston, e uma série de familiares e amigos, com destaque para Yoko Ono e Linda McCartney.

Para completar, por mais que explore alguns atritos e deixe claro que eles existiram, a série acaba também trazendo muitos momentos de descontração e o processo de criação de diversas canções marcantes. E essas sequências são realmente interessantes, pois humanizam os artistas, mostram como eles realmente interagiam e traz o fato de que eles eram pessoas muito diferentes, mas que se respeitavam bastante enquanto profissionais e que não tinham medo de ser ridículos para experimentar coisas diferentes e melhorar sempre. Aliás, todos eram muito exigentes em relação ao som e se “puxavam” bastante rumo à melhor versão de cada um.

Em resumo, enquanto o primeiro episódio de The Beatles: Get Back traz os momentos em Twickenham e um grande desconforto geral em relação ao prazo apertado e outras tensões (levando à saída de George), o segundo explora a mudança para os estúdios Apple e um sentimento de que eles estão tocando “em casa”, o que altera muito os processos e traz uma leveza maior para o ambiente. Por fim, o terceiro episódio é focado na apresentação no telhado, com direito a entrevistas com o público nas ruas e o acompanhamento da chegada dos polícias (juntamente com as tentativas de enrolá-los).

Mas, querendo o público ou não, o projeto de show/álbum que estava em andamento era uma tentativa da banda de se manter unida e de “voltar às raízes”, com todos os membros tocando juntos e gravando de uma forma mais “natural”, sem tantos efeitos de estúdio – vale lembrar que eles não faziam shows há três anos. Então, havia um claro esforço conjunto para fazer algo bom, ao mesmo tempo em que as coisas já estavam um pouco quebradas. Mas é claro que, no final das contas, o disco e o filme intitulados Let It Be acabaram sendo lançados depois do anúncio do fim da banca (e após mais uma série de discussões sobre como as coisas deveriam ser feitas).

Ainda assim, sob certos aspectos, The Beatles: Get Back ajuda a “desmistificar” muito do que se fala sobre os últimos meses do grupo – eles mesmos se mostram irritados com os rumores, pois há uma sensação de que o fim está próximo, mas nada é tão quente ou violento quanto os jornais dão a entender. Olhando em retrospecto é até chocante que nenhum deles havia sequer completado 30 anos e que eles já haviam feito bastante coisa e precisado lidar com uma fama sem precedentes.

Acima de tudo, a produção é um mergulho fantástico no processo criativo de pessoas muito talentosas, que passam o tempo todo trocando ideias, experimentando, compartilhando referências e produzindo músicas que até hoje emocionam. Mesmo quem não é particularmente fã deve aproveitar; e para quem já curte The Beatles, eu diria que é obrigatório.

Outras divagações:
The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring
The Lord of the Rings: The Two Towers
The Lord of the Rings: The Return of the King
The Lovely Bones
The Hobbit: An Unexpected Journey
The Hobbit: The Desolation of Smaug
The Hobbit: The Battle of Five Armies

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