Divagações: Triangle of Sadness

Quando eu assisti The Square , fiquei muito feliz de saber que existia um espaço (ainda que restrito) para um filme com humor crítico, que...

Triangle of Sadness
Quando eu assisti The Square, fiquei muito feliz de saber que existia um espaço (ainda que restrito) para um filme com humor crítico, que faz uma sátira sobre o mundo da arte – um universo em que ele próprio, de certa forma, está inserido. Assim, criei uma expectativa logo que soube que uma nova produção com roteiro e direção de Ruben Östlund estava se destacando no circuito de festivais. Nem sequer me surpreendi com a indicação de Triangle of Sadness para o Oscar (o merecimento real é questionável).

Neste caso, a sátira é focada em um grupo específico de pessoas ricas e privilegiadas, todas passando as férias em um iate de luxo. Entre os presentes, há uma influencer, Yaya (Charlbi Dean), e seu namorado modelo, Carl (Harris Dickinson), que ganharam os ingressos; um empresário russo do setor de fertilizantes (Zlatko Buric), que parece estar acompanhado por duas mulheres (Sunnyi Melles e Carolina Gynning); uma senhora que sofreu um derrame e tem dificuldades para falar e se mover (Iris Berben); um novo rico que foi paquerar (Henrik Dorsin); e diversas outras pessoas, com seus relatos curiosos de riqueza e poder.

Do outro lado, os funcionários do iate são administrados com mão firme por Paula (Vicki Berlin), que também precisa lidar com todo o tipo de imprevistos. Entre suas funções desagradáveis está tentar lidar com um capitão bêbado que se recusa a sair do quarto (Woody Harrelson). Para efeitos de sinopse, vale ainda mencionar o funcionário da parte mecânica, Nelson (Jean-Christophe Folly), e a versátil faxineira Abigail (Dolly De Leon).

Após apresentar todas essas pessoas, explorando como elas agem e interagem, Triangle of Sadness vira tudo de cabeça para baixo – meio que literalmente. Em resumo, o iate afunda e os poucos sobreviventes acabam em uma ilha, onde descobrem que saber se virar é mais importante do que ter dinheiro. Com isso, as relações de poder e as moedas de troca mudam de uma maneira drástica e todos precisam se adaptar.

O humor do filme, por sua vez, também muda ao longo de cada uma de suas partes. Eu particularmente, gosto mais do começo, quando o mundo de Yaya e Carl é apresentado, seguido pelos momentos iniciais no iate – sim, ver esta vida rodeada de futilidades sendo enquadrada por seus absurdos faz com que eu me sinta melhor. Aliás, é uma pena que vários dos temas colocados no começo da produção acabem sendo abandonados (por alvos mais fáceis, diriam alguns).

A transição é feita com uma das sequências mais nauseantes que já vi, algo digno de The Meaning of Life – ou seja, é engraçado, mas não é para todo mundo (e eu me incluo facilmente nesse grupo depois de alguns minutos). Por fim, as sequências na ilha exploram uma premissa cômica e que, por si só, gera bons momentos para quem assiste, mas que não tem um enquadramento particularmente único.

Assim, embora tenha quase 2h30 de duração, Triangle of Sadness consegue manter um bom ritmo, pois se reinventa com alguma frequência e tem diálogos muito bem construídos em sua aparente loucura. Claro que a produção é pretensiosa por natureza e isso até a aproxima de quem ela quer criticar, mas eu costumo contabilizar essa questão (frequente em sátiras) como um risco operacional que nunca se paga completamente.

De qualquer modo, como não é um humor fácil de assistir, eu recomendo uma boa companhia e até mesmo algumas pausas. Afinal, a produção chegou no Brasil direto nos serviços de streaming – indicando que têm, sim, apelo comercial –, após uma passagem breve por salas de cinema selecionadas.

Outras divagações:

The Square

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