Divagações: Aquaman and the Lost Kingdom

Aquaman and the Lost Kingdom é o adeus oficial ao universo da DC imaginado por Zack Snyder . Mas, após as recepções de mornas a negativas...

Aquaman and the Lost Kingdom

Aquaman and the Lost Kingdom é o adeus oficial ao universo da DC imaginado por Zack Snyder. Mas, após as recepções de mornas a negativas para Shazam! Fury of the Gods e The Flash, dificilmente alguém achava que este longa-metragem traria uma redenção, ainda mais com o clima de fim de festa estando mais do que perceptível. Em um cenário em que a Marvel vai mal das pernas e os filmes de herói têm dificuldade em empolgar, o desânimo contamina toda a indústria.

Por ter gostado do primeiro Aquaman mais do que a média – afinal, ele abraçou a veia carnavalesca e melodramática do gibi enquanto seus colegas pareciam envergonhados em mostrar qualquer elemento mais fantástico –, o melhor que eu poderia esperar era um final que não colocasse uma pá de cal. Ou seja, eu queria que Aquaman and the Lost Kingdom permitisse uma saída de cena com certa dignidade.

Seguindo diretamente o filme anterior, Arthur Curry (Jason Momoa) tem que lidar com sua nova vida como rei de Atlantis, casado com Mera (Amber Heard, cuja participação foi reduzida a somente o essencial) e com um filho pequeno para cuidar. Além das dificuldades em conciliar suas funções como herói, monarca e pai, ele precisa encarar David Kane (Yahya Abdul-Mateen II), o Black Manta, que retorna querendo vingança e, dessa vez, está empoderado por forças místicas. Com o mundo inteiro em risco, Arthur é obrigado a recorrer ao seu irmão, Orm (Patrick Wilson), aprisionado devido a crimes contra Atlantis.

Com uma narrativa construída em cima da relação entre Arthur e Orm, Aquaman and the Lost Kingdom até consegue se diferenciar do antecessor e ter um pouco de charme. Eu genuinamente gostei da dinâmica entre os dois personagens e da maneira como ela se desenvolve durante o filme, especialmente pelo contraste entre o protagonista e Orm, que ressignifica sua relação com Atlantis e com a própria família. Isso transforma um personagem que era um vilão sem sal em um deuteragonista até que interessante.

Porém, em todo o resto, Aquaman and the Lost Kingdom parece ter sido construído de partes e pedaços de filmes mais interessantes e bem-sucedidos do que ele. As sequências e os personagens lembram um estranho pastiche de batidas narrativas que, a essa altura, soam um pouco cansadas, não trazendo inovações e nem mostrando a que vieram. O vilão é uma versão menos interessante de si mesmo, a ação é dependente de longas sequências de computação gráfica, a trama é repleta de inconsistências e o próprio mundo submarino é menos vibrante do que no filme anterior.

A narrativa também se mostra meio desconjuntada durante o primeiro e o último ato. A controversa participação de Amber Heard talvez seja responsável por uma mudança de planos que afetou a produção negativamente, tirando o peso emocional da relação de Arthur com Mera e seu filho. Porém, não consigo ver um cenário em que isso se resolveria de modo excepcional e acho que o filme inteiro perde.

Aquaman and the Lost Kingdom não chega a ser ruim e, sinceramente, encontrei menos problemas do que nos demais filmes da DC lançados nesse ano. Ao mesmo tempo, é um filme que já entra em campo derrotado, tendo desistido de lutar contra todas as circunstâncias que iam diretamente contra ele e se contentado em entregar o mínimo (antes que David Zaslav decidisse mandar o filme para o mesmo limbo onde está Batgirl).

De qualquer modo, não sei se um investimento maior de energia iria elevar a produção para além do “simpática”. Mas é meio triste ver que o filme se tornou um produto sem identidade própria. Parafraseando T. S. Eliot, acho que é assim que o universo da DC acaba, não com uma explosão, mas com um gemido, em uma grande pilha de potencial não realizado e decisões questionáveis. Espero que James Gunn não cometa os mesmos erros no futuro.

Outras divagações:
Man of Steel
Batman v Superman: Dawn of Justice
The Batman
Black Adam
Suicide Squad
Birds of Prey: And the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn
Wonder Woman
Justice League
Aquaman
Shazam!
Shazam! Fury of the Gods
Joker

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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