Divagações: The Holdovers

Existem filmes que parecem atemporais (obviamente, isso não existe, mas alguns chegam perto). Em alguns casos – como em The Holdovers – o e...

The Holdovers
Existem filmes que parecem atemporais (obviamente, isso não existe, mas alguns chegam perto). Em alguns casos – como em The Holdovers – o efeito acontece porque você já viu algo assim antes, ainda que não exatamente igual. A ideia e a mensagem se repetem e até mesmo a época em que a história se passa ecoa algo conhecido e querido. Por mais que o contexto dos personagens não seja algo com o que você consiga se identificar de uma forma mais imediata, há uma facilidade em criar empatia pelas circunstâncias e você se transporta para aquele lugar.

A história de The Holdovers, inclusive, não tem nada de atemporal ou universal; pelo contrário, ela é bem específica a um lugar e a um período. No inverno de 1970, os alunos de um colégio interno de New England são liberados para passar algumas semanas com suas famílias. Entretanto, como alguns estudantes não podem ir para casa por uma série de motivos, um professor rigoroso, Paul Hunham (Paul Giamatti), é escalado para cuidar deles.

Acontece que, por boa parte deste período, o grupo se resume ao professor, à cozinheira do local (Da'Vine Joy Randolph), que acabou de perder o filho na Guerra do Vietnã, e a um aluno inteligente, mas problemático, Angus Tully (Dominic Sessa). Essa convivência forçada durante o período das festas de final de ano faz com que essas pessoas acabem se abrindo umas com as outras, expondo feridas e quebrando ideias preconcebidas.

Assim, The Holdovers é uma história sobre pessoas que estão sofrendo por diferentes motivos e se apoiam umas nas outras – nada novo, mas algo de fácil identificação. Enquanto o professor parou de viver e resolveu se dedicar a tradições que não existem mais, a cozinheira vive um luto injusto e muito doído, já o estudante tenda entender o que sobrou de seu mundo após perder importantes pilares de sustentação.

Tudo isso é acompanhado com muito carinho e compaixão, inclusive beirando algo não muito realístico. Por mais que os personagens discordem e entrem em conflitos, os problemas reais não surgem das relações mostradas na tela e eles são capazes de criar uma espécie de rede de solidariedade, ajudando-se mutuamente. O núcleo restrito permite que o roteiro de David Hemingson tenha respiros e que cada ator possua espaço para desenvolver um bom trabalho, de modo que as falhas das pessoas retratadas se tornam apenas características humanas.

Sob muitos aspectos, The Holdovers é sobre uma família inventada que se descobre em pleno Natal – um pai, uma mãe e um filho. O diretor Alexander Payne declarou que não gosta do rótulo atrelado ao período em que a história se passa, mas é impossível dissociar as coisas; os próprios personagens reforçam todo o tempo de que esse é um momento muito triste para estar sozinho. Mas a conexão emocional não é dada, precisando ser construída.

Além disso, outro aspecto que sustenta a sensação de “universalidade” e/ou de “atemporalidade” da produção é o humor. Obviamente, não se trata de um filme que gera gargalhadas, mas há muitos sorrisos e momentos que aquecem o coração. A leveza é bem colocada e permite que tudo não descambe para um melodrama, fazendo com que The Holdovers gere aquela vontade de reassistir ao lado de pessoas queridas e, de preferência, no Natal.

Outras divagações:
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