Divagações: Furiosa: A Mad Max Saga

Mad Max: Fury Road é aquele tipo de filme que surge uma vez a cada geração, sendo capaz de surpreender todo mundo. Com uma atmosfera única ...

Furiosa: A Mad Max Saga

Mad Max: Fury Road é aquele tipo de filme que surge uma vez a cada geração, sendo capaz de surpreender todo mundo. Com uma atmosfera única e uma iconografia que plantou fortemente os pés na cultura pop, o longa-metragem deixou um gostinho de quero mais e, ao mesmo tempo, a sensação de que nunca veríamos algo igual.

Na época do lançamento, já foi levantada a ideia de um spinoff baseado em Furiosa, a personagem de Charlize Theron. Fazia sentido, afinal, ela era praticamente a protagonista do filme e sua ascensão era cheia de possibilidades.

Mas o tempo foi passando e essa possibilidade ficou cada vez mais longínqua – até que o projeto foi revivido com Anya Taylor-Joy no papel principal. Porém, algo mudou e os materiais promocionais de Furiosa: A Mad Max Saga já davam a entender que George Miller fez diversas concessões para permitir a realização do filme, como a troca dos efeitos visuais práticos por computação gráfica.

Como previsto, essa é uma história que segue de perto o universo visto na produção anterior, mostrando como Furiosa (Anya Taylor-Joy) foi parar na cidadela de Immortan Joe (Lachy Hulme). Isso inclui a infância em um lugar de abundância em meio ao deserto; a captura por Dementus (Chris Hemsworth), o líder de uma gangue de motociclistas e criminosos; e seu crescimento e aprendizado como os “guerreiros da estrada”, como Praetorian Jack (Tom Burke). Tudo para culminar no desejo de retornar ao seu local de nascimento, como vimos em Mad Max: Fury Road.

Primeiramente, sou obrigado a dizer que, em termos de ação, Furiosa: A Mad Max Saga traz tudo aquilo que foi prometido – ouso dizer que há pelo menos duas grandes cenas que não devem nada a Mad Max: Fury Road. Há sequências de alta octanagem, lindamente coreografadas e com um visual inventivo.

Ainda assim, a produção não é tão bonita ou impactante quanto sua predecessora. A queda de qualidade, na minha opinião, ocorre no tratamento de cor, nos figurinos e nos efeitos visuais (algo que Miller acaba apontando nos créditos, ainda que acidentalmente). No entanto, por mais que esses aspectos pareçam excessivamente calculados e “limpos”, o resultado ainda está muito à frente das sequências de ação sem peso e sem graça de várias produções contemporâneas.

De qualquer modo, as ressalvas que eu tinha sobre o filme se mostraram verdadeiras. Como essa é uma “prequela”, existem caminhos muito estreitos para a história trilhar, ou seja, é sabido para onde a protagonista vai e o que irá acontecer. Além disso, a dependência de personagens já conhecidos torna o “universo” de Mad Max menor e menos instigante.

Essa falta de surpresas também prejudica Furiosa enquanto personagem. E admito que gosto mais das escolhas de Charlize Theron do que da performance de Anya Taylor-Joy. A nova atriz tem mais tempo para desenvolvimento, mas traz menos gravidade, mostrando lampejos das melhores partes da personagem apenas no último ato. Além disso, sou obrigado a mencionar que Alyla Browne, na versão infantil, talvez tenha feito um trabalho mais interessante.

Para completar, o fato de que a trama está circunscrita a acontecimentos já estabelecidos não permite nenhum grande momento de tensão. Afinal, nenhum personagem que está vivo em Mad Max: Fury Road pode morrer em Furiosa: A Mad Max Saga; ao mesmo tempo, nenhum dos novos personagens tem grandes chances de sobreviver.

Falando nas novidades, Dementus poderia ser um antagonista memorável se fosse um pouco mais bem desenvolvido; ainda assim, o personagem consegue brilhar um pouco lá para o fim do filme, em um bom trabalho de Chris Hemsworth. Em contrapartida, Praetorian Jack é somente uma versão mais barata do arquétipo de Max, faltando explorar melhor suas motivações e vontades.

A verdade é que Furiosa: A Mad Max Saga é uma obra soterrada sob o peso das expectativas e das inevitáveis comparações com seu antecessor. Mad Max: Fury Road foi um filme absolutamente eletrizante, enquanto este longa-metragem é “apenas” bom. É difícil não ficar desapontado.

Recomendo a produção para quem gostou do anterior, embora esta seja uma versão um pouco menos interessante, um pouco menos bonita e um pouco menos inventiva (o que ainda a coloca acima da maior parte dos filmes por aí). Esta é uma boa prequela, que tem o mérito de justificar a sua existência e que, em nenhum momento, soa desnecessária. Ainda assim, acredito que a energia de George Miller teria sido melhor empregada em uma história nova e sem estas amarras.

Outras divagações:
Mad Max
Mad Max 2
Mad Max Beyond Thunderdome
Mad Max: Fury Road

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

RELACIONADOS

0 recados