Divagações: The Killer
29.5.24
Pelo título, eu esperava que The Killer fosse um filme de ação ou, talvez, um suspense. Na verdade, ele provavelmente é um pouco dessas duas coisas, embora eu não diria que essas sejam as melhores definições. É quase uma história de vingança, mas não exatamente. Ao mesmo tempo em que há sequências de fuga e de luta, a produção tem um tom majoritariamente introspectivo – a primeira meia hora de filme, inclusive, sequer tem diálogos.
O assassino do título (Michael Fassbender) é um homem meticuloso, que faz seu trabalho com cuidado e muita paciência, ainda que isso implique em pouquíssimo tempo de sono. Ele monitora constantemente seus próprios batimentos cardíacos para garantir mais precisão e, sempre que possível, está com fones de ouvido, escutando uma playlist para se manter concentrado. Seu lema é “Atenha-se ao plano. Antecipe, não improvise”. Um dia, entretanto, ele comete um erro.
A partir desse momento, o foco de The Killer muda. Em vez de iniciar uma nova missão, com um novo cliente e um novo alvo, o assassino percebe que precisa proteger a si mesmo e a sua namorada (Sophie Charlotte), apagando os rastros do que aconteceu. Para isso, vai atrás de seu contratante (Charles Parnell), de um brutamontes (Sala Baker), de uma especialista (Tilda Swinton) e do cliente (Arliss Howard); no meio do caminho, infelizmente, estão um motorista de táxi (Gabriel Polanco) e uma secretária (Kerry O'Malley).
Embora exista um aspecto de vingança na jornada do protagonista – e ele não tenha sangue de barata –, uma camada de frieza se mantém durante toda a jornada. Em uma entrevista ao New York Times, o direitor David Finscher acrescentou uma camada a essa percepção: “Eu adoro a ideia de um personagem tipo Charles Bronson que talvez seja um autista adulto mal diagnosticado”.
De qualquer modo, Fassbender é uma boa escolha para segurar The Killer. Sua voz funciona bem para um filme que depende fortemente de narrações e sua aparência consegue ir sem muitos problemas de “empresário rico” a “herói genérico de ação”, passando por “turista alemão” no meio do caminho. O fato de que o ator andava sumido também ajuda, trazendo um ar de redescoberta ao filme.
Além disso, a fúria contida que o ator consegue transmitir funciona muito bem em uma produção onde tudo parece ser controlado. Afinal, não só a trama teve que ser bem amarrada, mas o ritmo narrativo precisou ser calculado com cuidado, já que há um aspecto episódico no filme, algo que não é fácil de construir. Para completar, muitas das sequências de maior escala foram feitas por computação gráfica e mesmo questões visuais mais “simples”, como a movimentação de uma câmera de mão ou reflexos na lente, foram colocadas na pós-produção.
Com pouco espaço para espontaneidade, The Killer é fiel a si mesmo – no melhor sentido. Obviamente, este não é o longa-metragem mais empolgante já feito, mas ele se concentra mais na tensão e na descoberta dos próximos passos do protagonista, o que tem seus méritos. Para completar, a obsessão com perfeccionismo, ainda mais por vir de um personagem moralmente errado, é fascinante; e, como ninguém na história é exatamente um santo, fica fácil de ignorar os crimes.
Outras divagações:
Fight Club
The Social Network
The Girl with the Dragon Tattoo
Gone Girl
Mank
O assassino do título (Michael Fassbender) é um homem meticuloso, que faz seu trabalho com cuidado e muita paciência, ainda que isso implique em pouquíssimo tempo de sono. Ele monitora constantemente seus próprios batimentos cardíacos para garantir mais precisão e, sempre que possível, está com fones de ouvido, escutando uma playlist para se manter concentrado. Seu lema é “Atenha-se ao plano. Antecipe, não improvise”. Um dia, entretanto, ele comete um erro.
A partir desse momento, o foco de The Killer muda. Em vez de iniciar uma nova missão, com um novo cliente e um novo alvo, o assassino percebe que precisa proteger a si mesmo e a sua namorada (Sophie Charlotte), apagando os rastros do que aconteceu. Para isso, vai atrás de seu contratante (Charles Parnell), de um brutamontes (Sala Baker), de uma especialista (Tilda Swinton) e do cliente (Arliss Howard); no meio do caminho, infelizmente, estão um motorista de táxi (Gabriel Polanco) e uma secretária (Kerry O'Malley).
Embora exista um aspecto de vingança na jornada do protagonista – e ele não tenha sangue de barata –, uma camada de frieza se mantém durante toda a jornada. Em uma entrevista ao New York Times, o direitor David Finscher acrescentou uma camada a essa percepção: “Eu adoro a ideia de um personagem tipo Charles Bronson que talvez seja um autista adulto mal diagnosticado”.
De qualquer modo, Fassbender é uma boa escolha para segurar The Killer. Sua voz funciona bem para um filme que depende fortemente de narrações e sua aparência consegue ir sem muitos problemas de “empresário rico” a “herói genérico de ação”, passando por “turista alemão” no meio do caminho. O fato de que o ator andava sumido também ajuda, trazendo um ar de redescoberta ao filme.
Além disso, a fúria contida que o ator consegue transmitir funciona muito bem em uma produção onde tudo parece ser controlado. Afinal, não só a trama teve que ser bem amarrada, mas o ritmo narrativo precisou ser calculado com cuidado, já que há um aspecto episódico no filme, algo que não é fácil de construir. Para completar, muitas das sequências de maior escala foram feitas por computação gráfica e mesmo questões visuais mais “simples”, como a movimentação de uma câmera de mão ou reflexos na lente, foram colocadas na pós-produção.
Com pouco espaço para espontaneidade, The Killer é fiel a si mesmo – no melhor sentido. Obviamente, este não é o longa-metragem mais empolgante já feito, mas ele se concentra mais na tensão e na descoberta dos próximos passos do protagonista, o que tem seus méritos. Para completar, a obsessão com perfeccionismo, ainda mais por vir de um personagem moralmente errado, é fascinante; e, como ninguém na história é exatamente um santo, fica fácil de ignorar os crimes.
Outras divagações:
Fight Club
The Social Network
The Girl with the Dragon Tattoo
Gone Girl
Mank
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