Divagações: The Room Next Door
25.12.24
Foi apenas esse ano que eu entrei em contato com a obra da escritora Sigrid Nunez – e eu fiquei encantada com o que encontrei. Ao mesmo tempo em que sei que seria muita ousadia almejar chegar perto dela (uma mulher muito inteligente, repleta de referências de peso e uma capacidade fantástica de comunicar o que sente por meio de palavras), eu sinto uma espécie de conexão. Se eu pudesse, gostaria de escrever como ela.
Assim, em um contexto normal, The Room Next Door já seria um filme que me chamaria a atenção por conta da direção de Pedro Almodóvar (em seu primeiro longa-metragem em inglês) e do elenco. Mas o fato de a produção ser baseada em um livro de Nunez foi o que realmente me motivou a ir ao cinema conferir do que se tratava.
Basicamente, The Room Next Door acompanha os momentos finais da amizade entre duas mulheres. Martha (Tilda Swinton) está morrendo e busca por dignidade e companhia em seus últimos momentos. Inesperadamente, ela ganha a presença constante de Ingrid (Julianne Moore), que aparentemente vive um bom momento profissional e pessoal. Nesse contexto, as duas têm conversas carregadas e emocionadas, frequentemente deixando os sentimentos falarem por elas.
O detalhe é que o grande tema da produção aterroriza sua própria protagonista. E o filme não esconde a que veio. Ele trata a morte, o luto e a despedida de uma forma dolorida, dando pouco espaço para a personagem de Julianne Moore respirar. Aliás, o retrato de Ingrid é o ponto alto, já que é repleto de nuances. As atitudes mostram que há sinceridade, mas também há esforço, cansaço e até condescendência.
Inclusive, a complexidade das decisões tomadas pelas duas personagens mereceria análises a parte. Martha está afetada por uma doença terrível, que a debilita física e mentalmente; ao mesmo tempo, ela sabe que está pedindo demais da amiga, que não apenas a acompanha nesses momentos difíceis como passa a carregar sua história e suas verdades.
Já Ingrid é tomada por algo maior (e menor) do que o dever de estar presente para alguém que precisa de você. É quase como se ela estivesse se aproveitando uma oportunidade para evitar lidar com os próprios problemas, escondendo-se na missão de ser uma boa pessoa. Porém, ela realmente é essa boa pessoa, uma vez que o peso assumido é muito maior do que o de qualquer bloqueio criativo.
Minha única questão é que, frequentemente, eu conseguia enxergar o livro por trás do filme – ou achava que estava vendo algo, já que não li essa obra específica e não posso dizer o quão fiel essa adaptação realmente é. Em outras palavras: eu me percebi imaginando como aqueles trechos seriam narrados no papel e acreditei que eles poderiam ser ainda mais impactantes na página, sem a interferência do estímulo visual.
Não que eu tenha algo a reclamar de The Room Next Door. Esse é um daqueles filmes que não são feitos com um intuito comercial (bom, eu tento me enganar), mas com o objetivo de contar uma história, de transmitir uma mensagem maior. Por conta disso, eu me sinto tentada a deixar passar algumas saídas fáceis adotadas pelo caminho e a própria incoerência do estilo de vida de Martha; afinal, essas coisas não fazem parte do cerne da questão.
Para completar, é inegável que se trata de uma produção de Almodóvar, com as cores, formas e o ritmo intrínsecos do diretor. The Room Next Door é um drama pelo drama, feito para machucar onde dói e para ecoar onde todos temos um vazio.
Assim, em um contexto normal, The Room Next Door já seria um filme que me chamaria a atenção por conta da direção de Pedro Almodóvar (em seu primeiro longa-metragem em inglês) e do elenco. Mas o fato de a produção ser baseada em um livro de Nunez foi o que realmente me motivou a ir ao cinema conferir do que se tratava.
Basicamente, The Room Next Door acompanha os momentos finais da amizade entre duas mulheres. Martha (Tilda Swinton) está morrendo e busca por dignidade e companhia em seus últimos momentos. Inesperadamente, ela ganha a presença constante de Ingrid (Julianne Moore), que aparentemente vive um bom momento profissional e pessoal. Nesse contexto, as duas têm conversas carregadas e emocionadas, frequentemente deixando os sentimentos falarem por elas.
O detalhe é que o grande tema da produção aterroriza sua própria protagonista. E o filme não esconde a que veio. Ele trata a morte, o luto e a despedida de uma forma dolorida, dando pouco espaço para a personagem de Julianne Moore respirar. Aliás, o retrato de Ingrid é o ponto alto, já que é repleto de nuances. As atitudes mostram que há sinceridade, mas também há esforço, cansaço e até condescendência.
Inclusive, a complexidade das decisões tomadas pelas duas personagens mereceria análises a parte. Martha está afetada por uma doença terrível, que a debilita física e mentalmente; ao mesmo tempo, ela sabe que está pedindo demais da amiga, que não apenas a acompanha nesses momentos difíceis como passa a carregar sua história e suas verdades.
Já Ingrid é tomada por algo maior (e menor) do que o dever de estar presente para alguém que precisa de você. É quase como se ela estivesse se aproveitando uma oportunidade para evitar lidar com os próprios problemas, escondendo-se na missão de ser uma boa pessoa. Porém, ela realmente é essa boa pessoa, uma vez que o peso assumido é muito maior do que o de qualquer bloqueio criativo.
Minha única questão é que, frequentemente, eu conseguia enxergar o livro por trás do filme – ou achava que estava vendo algo, já que não li essa obra específica e não posso dizer o quão fiel essa adaptação realmente é. Em outras palavras: eu me percebi imaginando como aqueles trechos seriam narrados no papel e acreditei que eles poderiam ser ainda mais impactantes na página, sem a interferência do estímulo visual.
Não que eu tenha algo a reclamar de The Room Next Door. Esse é um daqueles filmes que não são feitos com um intuito comercial (bom, eu tento me enganar), mas com o objetivo de contar uma história, de transmitir uma mensagem maior. Por conta disso, eu me sinto tentada a deixar passar algumas saídas fáceis adotadas pelo caminho e a própria incoerência do estilo de vida de Martha; afinal, essas coisas não fazem parte do cerne da questão.
Para completar, é inegável que se trata de uma produção de Almodóvar, com as cores, formas e o ritmo intrínsecos do diretor. The Room Next Door é um drama pelo drama, feito para machucar onde dói e para ecoar onde todos temos um vazio.
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