No meu trabalho como jornalista, eu já cruzei mais de uma vez com situações (aparentemente) sem solução. Pessoas precisam de ajuda, a justiça demora em tomar uma decisão e, quando o faz, ela é limitada por diversos fatores, sem resolver a questão de verdade. No meio do caminho, outras pessoas precisam lidar com aquela decisão e acabam recebendo a reação daqueles que foram injustiçados. Felizmente (para mim), nunca precisei lidar com nada da magnitude vista em No Other Land.
Este documentário retrata o conflito na Cisjordânia a partir do ponto de vista de pessoas que moram em uma série de vilas. Embora as comunidades sejam centenárias – e isso seja facilmente comprovável –, os moradores estão sujeitos ao governo de Israel, o que traz uma série de consequências para suas vidas.
Assim, quando é determinado que aquela área deveria se tornar um espaço para treinamento militar, essas pessoas começam a ser despejadas. Para lidar com isso, elas usam de tudo o que está ao seu alcance, o que inclui protestos, vias judiciais (eles perderam, após uma longa batalha de 22 anos), reconstruções noturnas, morar em cavernas, filmar a situação e divulgar nas redes sociais e, bom, fazer esse documentário. Mas a sensação que fica é de que eles estão tentando segurar água com as mãos.
Com direção de Basel Adra, Yuval Abraham, Hamdan Ballal e Rachel Szor, a produção mistura um acompanhamento dos acontecimentos gerais (demolições diárias, reconstruções, protestos, tiroteios e as consequências disso) com a forma como isso afeta o cotidiano dos próprios diretores. Dessa forma, No Other Land traz dimensões pouco vistas do conflito e não esconde que possui um posicionamento bem definido.
Como jornalista e cidadão israelense, Yuval pode ir e vir com mais liberdade e, eventualmente, consegue se fazer ouvir – ainda que a atenção dada a seus relatos o decepcione. Já Basel está limitado à Cisjordânia, não pode exercer sua profissão e precisa lidar com mais cuidado com as consequências de seu ativismo, pois isso pode afetar não apenas a si mesmo, mas toda a sua família e até mesmo a comunidade que o cerca.
As interações entre os dois são, de forma geral, amistosas, mas é óbvio que a presença de Yuval gera tanto uma esperança quanto um ressentimento (afinal, ele é israelense e pertenceu àquele exército). Depois de um dia cansativo pelas areias do deserto, Yuval pode simplesmente ir para casa e tomar um bom banho, enquanto uma mãe ainda chora pelo filho que foi baleado ao tentar impedir que o exército levasse embora o gerador de energia da vila.
Embora retrate uma dimensão muito específica de um conflito grande e complexo, No Other Land traz uma faceta que precisa ser vista, especialmente por quem tem uma imagem da Palestina que só inclui pobreza e violência. Ao entrar na casa dessas pessoas, o filme mostra as crianças se desenvolvendo, brincando e indo para a escola, a queda na qualidade de vida com as demolições e, também, o potencial dessas pessoas.
Basel, por exemplo, é formado em direito, mas só consegue emprego em Israel na construção civil. Assim, ficando nas vilas ou indo para as cidades, o destino é a precarização das condições de vida. No Other Land, inclusive, foi editado em uma caverna e, por conta de sua temática, não conseguiu um contrato de distribuição nos Estados Unidos. Dois dias após o anúncio de que o filme foi indicado ao Oscar, colonos israelenses invadiram a região e queimaram casas.
Espero que, daqui a alguns anos, No Other Land possa ser visto como um documento histórico de mais um dos episódios vergonhosos da humanidade. Por enquanto, ele é o presente que estamos evitando encarar.
Este documentário retrata o conflito na Cisjordânia a partir do ponto de vista de pessoas que moram em uma série de vilas. Embora as comunidades sejam centenárias – e isso seja facilmente comprovável –, os moradores estão sujeitos ao governo de Israel, o que traz uma série de consequências para suas vidas.
Assim, quando é determinado que aquela área deveria se tornar um espaço para treinamento militar, essas pessoas começam a ser despejadas. Para lidar com isso, elas usam de tudo o que está ao seu alcance, o que inclui protestos, vias judiciais (eles perderam, após uma longa batalha de 22 anos), reconstruções noturnas, morar em cavernas, filmar a situação e divulgar nas redes sociais e, bom, fazer esse documentário. Mas a sensação que fica é de que eles estão tentando segurar água com as mãos.
Com direção de Basel Adra, Yuval Abraham, Hamdan Ballal e Rachel Szor, a produção mistura um acompanhamento dos acontecimentos gerais (demolições diárias, reconstruções, protestos, tiroteios e as consequências disso) com a forma como isso afeta o cotidiano dos próprios diretores. Dessa forma, No Other Land traz dimensões pouco vistas do conflito e não esconde que possui um posicionamento bem definido.
Como jornalista e cidadão israelense, Yuval pode ir e vir com mais liberdade e, eventualmente, consegue se fazer ouvir – ainda que a atenção dada a seus relatos o decepcione. Já Basel está limitado à Cisjordânia, não pode exercer sua profissão e precisa lidar com mais cuidado com as consequências de seu ativismo, pois isso pode afetar não apenas a si mesmo, mas toda a sua família e até mesmo a comunidade que o cerca.
As interações entre os dois são, de forma geral, amistosas, mas é óbvio que a presença de Yuval gera tanto uma esperança quanto um ressentimento (afinal, ele é israelense e pertenceu àquele exército). Depois de um dia cansativo pelas areias do deserto, Yuval pode simplesmente ir para casa e tomar um bom banho, enquanto uma mãe ainda chora pelo filho que foi baleado ao tentar impedir que o exército levasse embora o gerador de energia da vila.
Embora retrate uma dimensão muito específica de um conflito grande e complexo, No Other Land traz uma faceta que precisa ser vista, especialmente por quem tem uma imagem da Palestina que só inclui pobreza e violência. Ao entrar na casa dessas pessoas, o filme mostra as crianças se desenvolvendo, brincando e indo para a escola, a queda na qualidade de vida com as demolições e, também, o potencial dessas pessoas.
Basel, por exemplo, é formado em direito, mas só consegue emprego em Israel na construção civil. Assim, ficando nas vilas ou indo para as cidades, o destino é a precarização das condições de vida. No Other Land, inclusive, foi editado em uma caverna e, por conta de sua temática, não conseguiu um contrato de distribuição nos Estados Unidos. Dois dias após o anúncio de que o filme foi indicado ao Oscar, colonos israelenses invadiram a região e queimaram casas.
Espero que, daqui a alguns anos, No Other Land possa ser visto como um documento histórico de mais um dos episódios vergonhosos da humanidade. Por enquanto, ele é o presente que estamos evitando encarar.
Comentários
Postar um comentário