Não digo que sou um grande fã da franquia Karate Kid, mas vi a série Cobra Kai inteira, acompanhando desde os seus tempos no YouTube. Assim, adquiri simpatia o suficiente por estes personagens para que o retorno ao cinema com Karate Kid: Legends fosse, pelo menos, um pouco instigante. O trailer prometia fazer um “bem bolado” da série clássica com o filme de 2010, mas o que eu encontrei foi muito mais só um Karate Kid, sem exatamente “lendas”.
Como sempre, temos a história de um adolescente que se muda para uma cidade estranha e tem que usar o poder das artes marciais para encontrar um lugar nesse novo contexto. Li Fong (Ben Wang), um dos alunos e sobrinho de Han (Jackie Chan), vai para Nova York por conta do trabalho da mãe e, agora, tem que lidar com o valentão Connor (Aramis Knight), que é a estrela de um dojo de caratê da cidade.
Porém, o primeiro ato de Karate Kid: Legends realiza uma interessante inversão nesse conceito. Li se envolve com Mia (Sadie Stanley), a namorada de Connor e filha de Victor (Joshua Jackson), um boxeador aposentado que vê em Li a chance de treinar para voltar aos ringues. Assim, ao invés de Li ser o aprendiz, ele está mais para um Miyagi, especialmente considerando que ele já é um lutador bastante talentoso para início de conversa.
Eventualmente, o filme chega ao ponto que o marketing dele parece enfatizar, mas que não passa de um terço de toda a trama. Para finalmente confrontar Connor e resolver seus conflitos internos, Li recebe ajuda tanto de seu tio Han quanto de Daniel LaRusso (Ralph Macchio), que foi chamado para ajudar a treiná-lo no caminho do Miyagi-dô. Assim, ele pode vencer o grande torneio e salvar o dia.
Com uma hora e meia de filme, não posso dizer que Karate Kid: Legends se arrasta. Pelo contrário, o filme parece correr a ponto de perder o fôlego, não tendo tempo para respirar e deixar que nos importemos com seus personagens. Desse modo, parece que tem algo de muito esquisito acontecendo com a direção e a edição, como se um bom pedaço tivesse sido retirado sem que algo fosse colocado no lugar.
De qualquer forma, há sequências de luta que são genuinamente bem coreografadas, mas que são prejudicadas por uma direção sem lá muito olho para uma boa ação. Além disso, a produção insiste em colocar uns elementos gráficos ocasionais que parecem extremamente deslocados. Em resumo, fico imaginando que uns minutos a mais de filme poderiam fazer maravilhas para o transformar em algo mais coeso e que não está constantemente indo de um lado para o outro sem muitas explicações.
Também considero se a visão original para o filme trazia apenas a sua primeira parte. Afinal, mesmo que ela não seja fantástica, é certamente um esforço sólido para reler o conceito e é onde os personagens mais brilham. Tudo o que vem depois, sobretudo o esforço de pensar no “legado” de Karate Kid, parece não funcionar muito bem.
Inclusive, ao contrário do que os fãs esperavam, as participações de Chan e Macchio acabam sendo muito mais “pontas de luxo”, pois nada de novo ou interessante sobre os personagens é apresentado. Além disso, os acontecimentos de Cobra Kai e o filme de 2010 são basicamente ignorados, mesmo nos momentos em que seriam relevantes para a trama, dando a impressão de que a produção queria se afastar tanto quanto possível da série de TV.
Sem dúvidas, há algo para se aproveitar em Karate Kid: Legends, afinal, trata-se de um filme simpático e que funciona em seus melhores momentos. Não acho que foi um tempo perdido, mas também não posso ignorar que o longa-metragem desperdiça parte de seu potencial, embalado pelo interesse de executivos que queriam aproveitar o reconhecimento da franquia.
Para mim, Karate Kid: Legends teve todas as oportunidades para passar a tocha para uma nova geração, levando o conceito de “ser um Karate Kid” para um contexto maior – porém, ele não faz muita coisa com isso, ficando em um meio termo desconfortável. Além de não ser um “fan service” indulgente, como Cobra Kai, este filme não honra abertamente a breguice e, também, não tem coragem de ser algo original, usando a marca e a nostalgia como muleta.
Outras divagações:
The Karate Kid
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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