Divagações: Thunderbolts*

Thunderbolts
Depois de um período atribulado no Marvel Studios, Kevin Feige jurou de pés juntos que o universo cinematográfico voltaria aos eixos. Mas Captain America: Brave New World falhou em trazer qualquer empolgação para a marca e foi assolado de problemas de produção – a ponto de seu lançamento ser adiado em um ano.

Assim, Thunderbolts* foi o primeiro longa-metragem a sair nos cinemas totalmente sob a nova filosofia do estúdio. Apesar de não atingir (nem de longe) as alturas dos projetos mais apoteóticos da Marvel, ele parece ser um passo na direção certa e nos permite esperar por The Fantastic Four: First Steps com um pouco mais de otimismo.

Juntando personagens do segundo e até do terceiro escalão da Marvel, Thunderbolts* tem uma história claramente inspirada nas versões mais recentes do time nos quadrinhos – que, por sua vez, bebe muito do relativo sucesso que Suicide Squad teve nas revistas da DC na década passada.

Mas, em vez de Amanda Walker, temos aqui Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus). Para quem acompanha, a personagem já tinha sido avistada em outros cantos do MCU, sempre recrutando mercenários para lidar com tudo o que é questionável demais para os Avengers.

Entre esses terceirizados estão Yelena Belova (Florence Pugh), Ava Starr (Hannah John-Kamen) e John Walker (Wyatt Russell). Para quem não se lembra, eles são, respectivamente, a irmã da protagonista em Black Widow, a Ghost de Ant-Man and the Wasp e o substituto do Captain America na série televisiva.

Na trama, em um esforço para resolver pontas soltas, eles acabam sendo enviados em uma missão para matar uns aos outros. Contudo, acabam se unindo para sobreviver a uma conspiração que não envolve apenas eles, mas também Bob (Lewis Pullman), um sujeito instável que foi vítima de experimentos em um projeto financiado por Valentina. Na correria, acabam também se envolvendo com Bucky Barnes (Sebastian Stan) e com o pai de Yelena, Alexei (David Harbour).

Como um filme que junta diversos personagens, Thunderbolts* fez bem o seu dever de casa, conseguindo dar certo caráter e tempo mínimo de tela para cada um. Além disso, o clima de anti-heróis fracassados aprendendo a lutar juntos funciona bem quando se considera que o universo da Marvel já está cheio de outras figuras heroicas (só senti falta do Helmut Zemo, que é um membro clássico do time e está sumido desde 2021).

O detalhe é que a produção vai além, levantando questões válidas sobre saúde mental, culpa, vícios e propósito – e de um modo mais interessante do que eu esperaria do estúdio. Ainda que não tenha a nuance de uma obra “séria” sobre o tema, ele mostra um pouco de maturidade, tendo seu cerne emocional construído sobre estes alicerces, inclusive a ponto de abrir mão de um vilão tradicional para se focar em relações mais internas.

Vale dizer ainda que Florence Pugh convence bem como a protagonista de fato do filme. Em Thunderbolts*, ela consegue transformar Yelena em uma personagem bem mais tridimensional do que as representações quase caricaturais vistas anteriormente.

Lewis Pullman também é uma adição interessante a essa dinâmica, com seu personagem recebendo um ângulo talvez até mais interessante do que o de muitas das suas versões em quadrinhos. Isso acontece porque o filme humaniza um conceito que pode ser meio besta, mas que é bem-feito aqui (apesar das claras similaridades com o tratamento dado a Moon Knight).

Pena que muitas dessas coisas não se aplicam a todo mundo: Hannah John-Kamen praticamente entrou muda e saiu calada, e Olga Kurylenko foi tremendamente injustiçada. Já David Harbour tem algumas boas cenas, mas continua servindo de alívio cômico, o que às vezes irrita em um filme mais sóbrio, por mais que não seja um enorme problema.

Thunderbolts* não é exatamente o filme que vai catapultar uma nova era do MCU. Mas, sim, parece que ele terá mais implicações futuras do que vários dos projetos recentes do estúdio (que não levaram a lugar algum). De qualquer modo, o filme é divertido e interessante o suficiente para que esta não seja mais uma falha na franquia.

Este é um longa-metragem que faz bem o que ele propõe e que, estranhamente, não parece se sustentar sobre nostalgia. Mesmo quando todo o elenco é recorrente de outros projetos, a Marvel parece ser capaz de parar, respirar e colocar a cabeça de volta no lugar, criando algo mais contido.

Outras divagações:
Ant-Man
Ant-Man and the Wasp
Ant-Man and the Wasp: Quantumania
Black Panther
Black Panther: Wakanda Forever
Black Widow
Captain America: The First Avenger
Captain America: The Winter Soldier
Captain America: Civil War
Captain Marvel
The Marvels
Deadpool
Deadpool 2
Deadpool & Wolverine
Doctor Strange
Doctor Strange in the Multiverse of Madness
Eternals
Guardians of the Galaxy
Guardians of the Galaxy Vol. 2
Guardians of the Galaxy Vol. 3
Iron Man
Iron Man 2
Iron Man 3
Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings
Spider-Man: Homecoming
Spider-Man: Far from Home
Spider-Man: No Way Home
The Avengers
Avengers: Age of Ultron
Avengers: Infinity War
Avengers: Endgame
Thor
Thor: The Dark World
Thor: Ragnarok
Thor: Love and Thunder

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

* O asterisco faz parte do título do filme.

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